Ser imigrante ou filho de refugiado pode aumentar risco de esquizofrenia
O fluxo de refugiados e imigrantes não para de crescer. Seja para fugir de uma guerra civil, seja para buscar melhores condições de vida, esses indivíduos migram para outros países com suas famílias e se inserem em culturas muitas vezes completamente diferentes, sujeitando-se até à exclusão social. De acordo com o psiquiatra Andreas Meyer-lindenberg, diretor do Instituto Central de Saúde Médica da Alemanha, isso faz com que o fator de risco para a esquizofrenia chegue a 270% na primeira geração e a surpreendentes 300% na segunda geração.
“O problema não é a decisão da migração, e sim viver em um país com estrutura social diferente da que sua família está acostumada ou do lugar onde você nasceu”, explica Meyer-lindenberg. Segundo o psiquiatra, o grande número de refugiados para a Europa devido à guerra civil fez com que ele e seus colegas de pesquisa medissem o estresse social dos imigrantes.
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O resultado, publicado em 2014 no periódico JAMA, mostrou que a dopamina é liberada de forma exagerada nesses indivíduos, aumentando também o risco de eles desenvolverem psicose. “A liberação em excesso de dopamina se dá pelo estresse. Se você não é imigrante, libera dopamina em situações de estresse, mas imigrantes liberam três vezes mais dopamina”, explica ele.
Verde e status social
Além da imigração, viver em áreas urbanas e o status social também são fatores de risco para a esquizofrenia. Um estudo publicado no JAMA em 2016 mostrou que a diferença de expectativa de vida dos mais ricos para os mais pobres é muito grande, e que isso tem mais a ver com status social do que com o dinheiro em si. Ser e sentir-se reconhecido aumenta a funcionalidade do cérebro.
Outro estudo publicado no BMC Medicine em 2004 mostrou que o risco de depressão e ansiedade aumenta muito se você mora em uma cidade grande. E se você já nasce em um centro urbano, o risco de esquizofrenia sobe 300%. Acredita-se que essa relação tem a ver com o estresse social da cidade, que faz os níveis de cortisol subir muito.
“Tem uma área do cérebro, a amígdala, que é muito ativa em quem mora na cidade grande. Essa região detecta ameaça do ambiente e desencadeia liberação de hormônios, ou seja, dá-lhe cortisol”, explica Meyer-lindenberg.
O que podemos fazer para tornar a vida na cidade grande menos ruim para o cérebro? Um estudo publicado no PNAS em 2015 mostrou que o espaço verde na cidade é muito benéfico. A pesquisa, realizada pela Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, mostrou que ter área verde por perto deixa as pessoas mais felizes e cognitivamente melhores.
“Como o ambiente e o gene podem estar relacionados aos fatores de risco, o ideal é focar na prevenção. O ambiente social é muito importante para a saúde humana. Ser magro ou fisicamente ativo é importante, mas não tanto como ter ou não uma rede social de suporte”, diz o psiquiatra. Segundo ele, felizmente os imigrantes têm muita mobilidade em termos de status. “Se não saem dos seus países, geralmente ficam na mesma classe social. Se saem, no entanto, buscam algo melhor e tendem a elevar seu status. Portanto, diminuem o risco de psicose.”
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