Gravidez ectópica e pílula do dia seguinte: entenda a relação entre elas
De tão estranho, o termo gravidez ectópia chega a assustar. E há mesmo razões para se preocupar, pois trata-se da gestação que ocorre fora da cavidade uterina. A condição atinge entre 1% e 2% das mulheres e traz diversos riscos, como hemorragia, danos aos órgãos e até mesmo óbito da gestante.
Infecções genitais, tabagismo e endometriose são alguns fatores associados à gravidez ectópica. Além disso, acredita-se que uso da pílula do dia seguinte também aumenta o risco de ter o problema.
Ainda é difícil precisar a relação exata entre o anticoncepcional de "emergência" e a gestação fora da cavidade uterina. Porém, em um estudo britânico feito com mulheres que engravidaram mesmo após tomar da pílula do dia seguinte, mais de uma a cada 20 tiveram gravidez ectópica.
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Apesar de haver relatos de gravidez ectópica em mulheres que usaram o medicamento, Eduardo Zlotnik, ginecologista e obstetra da Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein, explica que ainda não existe a evidência de causa-efeito.
“Não foi comprovada a ocorrência desse tipo de gestação em virtude da pílula do dia seguinte, mas o médico e a paciente devem estar atentos. Cabe ainda ressaltar que cerca de 80% das vezes em que a mulher toma a pílula do dia seguinte, a gravidez é evitada”, diz Zlotnik.
O que é a gravidez ectópica?
Segundo Paula Beatriz Fettback, especialista em reprodução humana assistida da Clínica Mãe, uma gestação normal se dá no endométrio, que é a camada dentro do útero onde o embrião se fixa durante a gravidez normal.
Já a ectópica não acontece no endométrio, ou seja, ocorre fora da camada interna do útero. “Ela pode se dar em locais como colo do útero, cornos uterinos, ovários e até, em casos raríssimos, no peritônio, membrana que reveste o abdômen”, afirma a ginecologista. Mas, em 98% dos casos, a gestação ectópica acontece na trompa.
Os sintomas são crescentes e evoluem com o desenvolvimento da gravidez. Normalmente, o problema é diagnosticado entre a quinta e décima quarta semana de gestação. “Um Beta HcG baixo [hormônio produzido durante a gravidez], que evolui lentamente, e uma ultrassonografia com ausência de sinais de gestação no útero são fortes indícios de que algo pode não estar indo bem”, afirma Vamberto Maia, médico do setor de ginecologia-endócrina da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
Por que o problema ocorre?
A gravidez ectópica acontece quando há problemas nas últimas etapas da fecundação. Isso é, no momento em que o óvulo migra pela tuba uterina para chegar ao útero, ou durante a implantação na parede no útero. É aí que entra o problema da pílula do dia seguinte.
O medicamento torna o útero um "ambiente inóspito" para a evolução da gravidez. Segundo Fettback, quando a mulher toma o remédio, há uma sobrecarga hormonal --o anticoncepcional tem 20 vezes mais hormônio do que uma pílula convencional --, o que causa proliferação e descamação do endométrio, com posterior sangramento.
A gravidez ectópica ocorre quando o embrião, impedido de se alojar no útero (devido à pílula), encontra um local fora do órgão para se assentar, com a tuba uterina.
Vale lembrar que não é somente o medicamento que causa a gravidez ectópica. De acordo com os especialistas, qualquer doença ou hábito que altere a função e morfologia do órgão podem predispor a condição. Exemplos: infecções genitais, tabagismo, uso de DIU, tuberculose peritoneal, endometriose, cirurgias, lesões peritoneais etc.
Quais os riscos da gestação?
O crescimento do embrião em local indevido pode gerar graves consequências, inclusive a perda do útero. “Caso o diagnóstico demore muito, o quadro pode levar até a mulher à morte”, alerta Maia.
No início, não há sintomas. Mas, quando o feto consegue se desenvolver na trompa, que é pequena, inadequada e não está preparada para isso, normalmente ocorre o rompimento do local. Portanto, apesar de existir casos raros de gravidez ectópica que foram adiante, a gestação deve ser interrompida assim que o problema for diagnosticado. “Há grande perigo para a vida da mãe”, explica Maia.
Zlotnik afirma que o tratamento normalmente é cirúrgico, mas é possível tentar o tratamento clínico. “Nele, se usa medicação para impedir a evolução da gestação ectópica e espera-se a absorção dessa pelo organismo, evitando a retirada das trompas”, explica. Tudo vai depender mesmo é da rapidez do diagnóstico --que pode ser feito em uma ultrassonografia ou até mesmo exame de sangue -- e do quadro clínico da paciente.
Por fim, fica o aviso para quem sofreu uma gravidez ectópica e quer engravidar no futuro: uma possível nova gestação ectópica pode ocorrer.
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