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Ela engravidou naturalmente aos 45: "Pelos médicos, desistiria desse sonho"

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Claudia Rato

Colaboração para o VivaBem

30/06/2018 04h00

As chances de alguém com 45 anos engravidar sem se submeter a nenhum tratamento de fertilização são bastante baixas: menos de 1%, segundo especialistas. Mas isso não quer dizer impossível. 

De acordo com a ginecologista e obstetra Andrea Moura, especialista em gravidez de alto risco, formada pela Universidade Federal de Minas Gerais, nessa idade, a mulher está na fase do climatério, que é a transição entre o período reprodutivo e a menopausa. Porém, apesar das probabilidades diminuírem, qualquer pessoa que não apresente problemas de fertilização pode engravidar se não tiver entrado na menopausa. 

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Foi o que aconteceu com a pedagoga Cristiana Torres, 45, grávida de seis meses. Ela e o esposo estão nas nuvens à espera do único e tão sonhado filho, Matias, que também é o primeiro neto e sobrinho da família de ambos, enfim um menino muito desejado.

Para chegar nessa história, Cristiana precisou enfrentar algumas barreiras, já que a gravidez tardia ainda é vista por algumas pessoas como um tabu, uma ousadia, algo estranho, fora da casinha, loucura, coisa feia..O primeiro obstáculo superado foi justamente o de se dar ao direito de tentar engravidar naturalmente, longe da reprodução assistida.

“Se dependesse dos médicos ou de algumas pessoas, eu teria desistido”, disse. Mas ela não desistiu e a partir de agora vai relatar aqui o seu sonho de ser mãe, que está prestes a virar realidade:

O começo do sonho

Teste de gravidez - iStock - iStock
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“Sempre fui muito independente, comecei a trabalhar com 14 anos. Paguei meus estudos e sempre coloquei prioridades na minha vida, ‘sonhando um sonho por vez’. Assim, primeiro foi a faculdade, depois a estabilidade, o casamento e, por último, um filho, talvez...

Em 2008, conheci meu marido, hoje com 42 anos, um homem maravilhoso. Depois de quatro anos, fomos morar juntos. Em 2015, ele disse que queria ser pai. Com um friozinho na barriga, mas muito convicta e fiel aos meus valores, falei que para mim isso não seria problema, mas que jamais teria um filho sem antes me casar na igreja e gostaria muito que ele nascesse em um ambiente abençoado. E assim nos casamos, em 2016.

Tudo maravilhoso para darmos sequência aos nossos sonhos, até que meu pai faleceu em janeiro de 2017. Sofri muito com a perda e, por essa razão, o sonho do bebê ficou para depois. Porém, em agosto daquele ano meu marido questionou sobre o nosso filho.

O frio na barriga voltou, mas eu já estava no final do segundo tempo ou talvez, terminando a prorrogação, na época com 44 anos. Então, fui à procura de um obstetra, para dar seguimento a esse sonho. Fiz alguns exames e fui diagnosticada com alguns miomas uterinos, mas não me abalei, pois sabia que eram frutos do sofrimento que passei com a morte do meu pai.

Procurei três médicos, que olharam para os exames e para a minha idade e já foram me direcionando para algum tipo de tratamento para engravidar. Mas não dei a menor atenção, sempre desviando a conversa, dizendo para todos que nunca havia tentado naturalmente e que queria tentar dessa forma primeiro e que se não conseguisse, daí pensaria no que fazer.

Não queria passar pelo estresse desses tratamentos, que além de tudo são caríssimos...

Na última médica que fui, ela me perguntou: ‘Quanto você quer engravidar?’. Fiquei muito irritada, porque eu só queria tentar, e todos logo de cara me pediam exames para medir minha quantidade de óvulos, e outras coisas que eu nem sabia que existiam, todos eram pagos e muito caros. Eu não fiz nada, achei um desaforo, afinal, queria tentar primeiro.

Perguntei ao meu marido se, caso não pudesse engravidar, isso seria um problema. E ele me surpreendeu dizendo que não. 

Depois dessa médica, no final de novembro de 2017, com tantas palavras negativas de outros médicos e dificuldades colocadas por eles, decidi que aproveitaria as festas de final de ano e que só em janeiro de 2018 voltaria nesse assunto. E como já havíamos decidido, deixamos de lado o preservativo.

Deu certo! Será? Melhor não contar para ninguém...

Gravidez - iStock - iStock
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Passamos um Réveillon maravilhoso. No dia seguinte, acordei com um enjoo diferente, uma dor no seio muito estranha e pensei: será? Estou apenas com três dias de atraso! Mas não disse nada para ninguém.

Mesmo sem fazer nenhum exame, tive a certeza de que estava grávida por conta de um aviso inusitado no Facebook. Abri meu perfil e dei de cara com um daqueles testes prontos, que perguntava: o que 2018 reserva para você? Fiz, esperando saúde, dinheiro, prosperidade... Mas, para a minha surpresa, a resposta foi um filho!

Quase desmaiei! Pode parecer algo banal, mas sei que Deus falou comigo naquele momento. Fui até o meu quarto e chorei muito, porque naquela hora tive a certeza de que estava grávida, mas ainda assim mantive tudo em segredo até ter a confirmação com exame de sangue.

Grávida ou na menopausa? Perdi o chão!

Gestantes e bebês estão entre os grupos que têm contraindicação para vacina de febre amarela - iStock - iStock
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Na porta do laboratório, encontrei uma conhecida, auxiliar de enfermagem aposentada, e contei a ela que achava que estava grávida. Ela ficou feliz e perguntou minha idade. Quando eu disse 45, ela parou de sorrir e falou: ‘Olha, não estou dizendo que você não esteja grávida, mas você pode estar entrando na menopausa!’

Eu quase morri! Por um segundo o desespero bateu à minha porta. Quando a médica me chamou, eu relatei meus sintomas e disse que gostaria de fazer um exame de sangue. Ela sugeriu que eu marcasse uma consulta com um obstetra que me pedisse tal exame. Comecei a chorar e disse que era um absurdo pagar dois convênios médicos e não ter o direito de fazer um exame de sangue. Então disse: ou eu estou grávida, ou eu estou entrando na menopausa!? Você vai fazer isso comigo?

Vendo o meu desespero, a médica autorizou o exame, que deu positivo! Estava 'gravidíssima', na terceira semana de gestação. Se fosse esperar marcar uma consulta, com certeza teria que esperar no mínimo um mês para confirmar a gravidez.

Confesso que me senti como uma adolescente pega de surpresa, já que, a essa altura, esperava ter que fazer algum tratamento para engravidar.

Foi um erro?

A partir daí, comecei a pesquisar sobre médicos e escolhi um da minha cidade que me foi bem recomendado. O atendimento não durou 10 minutos. Ele olhou meus exames, minha idade e me encaminhou para o setor de alto risco de outro município. Esperei um mês para a consulta e, quando cheguei, o médico me xingou por ter engravidado, encheu minha cabeça com palavras negativas, apontando tudo o que poderia acontecer de ruim. Porém, disse que, por R$ 10 mil reais, faria o meu parto. Ele me atenderia pelo convênio durante os nove meses, mas só estaria presente no dia do parto por este valor.

Toda a atmosfera de encanto e otimismo ruiu, levei mais de um mês para me recuperar, voltar a ter paz e dormir à noite. Cheguei a pensar que foi um erro ter engravidado...

Saí em busca de outro profissional. Encontrei uma médica que me pareceu maravilhosa, muito experiente e profissional, também com várias referências e recomendações. Ela disse que me atenderia pelo convênio, mas que só faria o meu parto pelo valor de R$ 12 mil, e que se houvesse qualquer imprevisto e tivesse que chamar algum colega de profissão, eu também teria que pagá-lo.

Assim, com quase três meses de gestação, ainda sem ter o meu cartão de pré-natal e pagando dois ótimos convênios, com muito trabalho e sacrifício, eu peregrinava sem nenhum médico para acompanhar minha gestação.

Foi quando cheguei a uma especialista em alto risco, profissional humana, que me acolheu, me orientou e não se mostrou gananciosa, sempre preocupada comigo e com meu bebê. Ela me disse: 'Estamos juntas nessa'. Hoje, ela é minha médica. 

Já entrei no sexto mês de gestação, estou muito bem, sem ter passado por nenhuma intercorrência. Contrariei alguns prognósticos médicos, mas nada de ruim aconteceu. É claro que estou fazendo a minha parte, nada de álcool, cuidando da minha alimentação e priorizando pensamentos positivos. Sigo todas as orientações médicas, pré-natal certinho. Fora os remédios que toda grávida tem que tomar (ácido fólico e vitaminas) não tive que usar mais nada. Até então não precisei fazer nenhum tipo de repouso e a recomendação é fazer hidroginástica, pilates e drenagem linfática para evitar dores das costas e retenção de líquido. Durante todo esse tempo não tive um enjoo, sangramento ou ameaça de aborto. Meu bebê está perfeito, fiz o exame morfológico e está tudo normal. Também estou ótima, me sentindo abençoada.

O que eu posso dizer a uma mulher que quer engravidar? Planeje, deseje, acredite. Não fique ansiosa, porque a ansiedade atrapalha e não se apegue à negatividade de ninguém. Se dependesse dos médicos ou de algumas pessoas, eu teria desistido...

Agora, tenho apenas o desafio do último trimestre e o momento do parto, que requer alguns cuidados, por causa dos miomas, por exemplo, uma equipe médica experiente e preparada. Mas como estou bem e está dando tudo certo, creio que Deus me acompanhará neste momento também.”

Planejamento é fundamental

De acordo com a ginecologista Andrea Moura, o planejamento de uma gravidez é fundamental em qualquer etapa da vida da mulher, principalmente na fase do climatério. “Isso porque as mulheres nesse período estão mais propícias a ter algumas doenças que tornam a gestação de alto risco, como hipertensão e diabetes, além de apresentar maior incidência de alteração cromossômica fetal devido ao envelhecimento dos óvulos. Portanto, a gestação deve ser bem planejada para saber se está tudo bem com o estado de saúde da mulher e já iniciar com ácido fólico três meses antes de engravidar para prevenir algumas malformações fetais”.

A médica ressalta que muitas mulheres, quando beiram os quarenta, ficam mais ‘tranquilas’ em relação à gravidez, acreditando que por diminuírem as possibilidades, não há muito com o que se preocupar. “Esse é sim um período em que também há a necessidade de se prevenir, caso não exista a intenção de engravidar"diz Moura. 

Há vários métodos contraceptivos que podem ser usados durante o climatério, tanto hormonais quanto não hormonais. Para saber o mais adequado, a orientação é consultar um ginecologista.

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