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Saúde

Sintomas, prevenção e tratamentos para uma vida melhor


"Fumei por 20 anos e um câncer na laringe tirou minha voz para sempre"

Vivian Ortiz

Do VivaBem, em São Paulo

19/07/2018 04h00

A aposentada Melissa Ribeiro, de 47 anos, nunca mais voltou a falar de forma natural depois que removeu um tumor na garganta, e usa um aparelho eletrônico para se comunicar. Ela conta como enfrentou a doença e supera os obstáculos para tentar levar uma vida normal:

“Fumei durante 20 anos. Abandonei o cigarro para ter mais saúde e, cinco anos após largar o vício, desconfie que não era normal a rouquidão e a tosse nunca passarem. Foi quando descobri que tinha um tumor na garganta. O diagnóstico --difícil, conturbado e demorado -- obrigou os médicos a fazerem a retirada da minha laringe. Era a última possibilidade de eu sobreviver a um câncer detectado de forma tardia, como infelizmente é a maioria dos casos no Brasil.

Uma das principais sequelas foi a perda da voz, algo irreversível. Isso porque é na laringe que estão localizadas as cordas vocais, além de ser por onde passa o ar que respiramos e os alimentos. Portanto, para me comunicar, conto com a ajuda de um aparelhinho chamado laringe eletrônica. Respiro por um tubo na garganta e preciso comer devagar. O alimento deve estar bem mastigando e molhado antes de ser engolido, para eu não engasgar. 

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Muitos pacientes não conseguem se recolocar na sociedade ou profissionalmente. Exatamente por isso, hoje estou à frente da Associação do Câncer de Boca e Garganta (ACBG), que luta pelo acesso ao tratamento e para ajudar na reabilitação adequada desses pacientes.

Eu trabalhei com marketing por 30 anos. Ou seja: precisava da voz, e tive que deixar minha profissão antes mesmo de perder totalmente a capacidade de falar, pois não conseguia mais me comunicar com os meus clientes e fornecedores. Digo que o primeiro impacto nem foi a confirmação do câncer, mas ficar sem voz, além da tosse constante. 

A voz eletrônica ajuda, mas enfrento muitos obstáculos

Uso a laringe eletrônica apenas em situações especiais, porque o meu tratamento, pela quantidade de radioterapia que precisei fazer, deixou a musculatura da garganta muito enrijecida. Então, se falo durante bastante tempo com o aparelho me machuco, além do fato de o zumbido ficar no meu ouvido do mesmo jeito que fica no de quem me ouve.

Comunicar-me desta maneira é um obstáculo sério, pois não consigo resolver os meus problemas pessoais por telefone. É impossível ligar para cancelar um cartão de crédito, reclamar da conta do celular que veio errada... Isso tira muito da minha autonomia, pois preciso que algum familiar resolva essas coisas para mim. Tem mais: a laringe eletrônica me causa tosse, por conta da vibração.

Fora isso, normalmente quem faz radioterapia de câncer de cabeça e pescoço tem alguns problemas, oriundos do próprio tratamento, como otites de recorrência e problemas dentários. Também fiquei com nódulos na tireoide, como reflexo da radioterapia, então hoje tomo hormônio de forma contínua, além de fazer acompanhamento de seis em seis meses, pois esses nódulos crescem e podem virar um novo câncer.

Seguindo em frente

Melissa Ribeiro participa de uma associação de pacientes. - Felipe Dudra/UOL - Felipe Dudra/UOL
A remoção da laringe não impede Melissa de levar uma vida normal e viajar, namorar, fazer exercícios
Imagem: Felipe Dudra/UOL

Apesar de ser uma doença bastante avassaladora, ainda é possível viver com certa qualidade, pois existem medicações que possibilitam isso. Na verdade, o paciente precisa se adaptar e ter um novo jeito de respirar, de falar e de conviver com as outras pessoas, algo que também precisa ser divulgado para a sociedade, para que insira essas pessoas e que não exista o preconceito, fazendo com que se sintam curadas de forma integral.

De resto, podemos ser felizes, namorar, viajar, tudo dentro dos cuidados necessários. Por exemplo: um voo mais distante, feito em uma aeronave cheia de estofados e de carpetes não é muito bom, pois torna nossa respiração mais ofegante e cansativa. Exercício físico é ótimo, mas não é todo mundo sem a laringe que consegue correr e respirar ao mesmo tempo. Além disso, se estou contra o vento, ele entra direto na passagem de ar e me deixa mais cansada.

O recado que deixo para todos é: a voz é gratuita e automática, mas necessita de cuidados. Falamos muito da hidratação e de abolir o cigarro. Já fumei, mas hoje sou totalmente contra o tabagismo, pois ele traz males imensuráveis. O cigarro tem quase cinco mil produtos químicos que podem fazer mal. Se não for na garganta, vai ser um câncer na bexiga, no pulmão ou no coração. E outra: não leve a vida tão a sério. Pare de ultrapassar seus limites no trabalho e no dia a dia. Evite o estresse que isso traz. A vida é uma só e você tem que cuidar desse veículo, que é o teu corpo.”

Alta prevalência

Julho é o mês oficial de Prevenção do Câncer de Cabeça e Pescoço. Tatiane Motta, oncologista do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FMRP-USP), lembra que, quando se fala na doença, estamos nos referindo a vários tumores, como na laringe, no céu da boca etc.

“É um tipo bastante incidente, e representa mais ou menos 6% de todas as neoplasias”, diz a médica.

De acordo com a especialista, cerca de 97% dos casos têm relação com o vício em cigarro e álcool. O HPV (vírus do papiloma humano), transmitido também pelo sexo oral sem prevenção, é outro fator que tem contribuído para o aumento na incidência de tumores de orofaringe (amígdalas e base de língua). Ou seja, todos fatores evitáveis e que precisam ser combatidos sempre: antes, durante e depois do tratamento, pois os pacientes ainda têm o risco de desenvolver um novo tumor por conta desses fatores de risco."

Quando procurar ajuda

Problema na laringe - iStock - iStock
Rouquidão e mudanças no padrão da voz são os principais sintomas de câncer na laringe
Imagem: iStock

A maioria dos pacientes vai obter o diagnóstico após um quadro de dor. No caso do de laringe, que acometeu Melissa, o sintoma mais comum é rouquidão. Assim, melhor procurar um especialista logo que perceber uma mudança do padrão de voz. "Como a maioria é tabagista, acaba tendo algum grau de rouquidão. Mas vá atrás de uma avaliação ao perceber que a voz não melhora e o problema é persistente", afirma Motta.

A boa notícia é que, se descoberto no estágio inicial, esse tipo de câncer pode ser bem menos devastador. Depende de cada caso, mas uma lesão de laringe, por exemplo, pode ser tratada com radioterapia e laringectomia parcial, que é uma cirurgia pequena e que não compromete --ou prejudica pouco a voz.

"Na laringectomia oncológica normalmente ocorre também a retirada a tireoide, pois faz parte do plano cirúrgico. Isso porque se formos avaliar anatomicamente a laringe, ela está muito perto da cartilagem e tem um risco de invasão da tireoide", diz a oncologista.

A retirada da tireoide pode ser necessária em alguns casos de laringectomia total, devido ao comprometimento deste órgão também. Mesmo assim, ainda é necess

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