Tratamentos alternativos para o câncer duplicam risco de morte pela doença

Pessoas que adotam esse tipo de terapia têm uma tendência maior à abandonar o tratamento tradicional, o que aumenta seu risco de morte

“Alguns acreditam que a medicina alternativa pode curar o câncer. Mas, apesar de ajudar um paciente a suportar o tratamento, não encontramos provas de que os tratamentos complementares realmente curam." Essa foi a conclusão de James B. Yu, da Universidade de Yale, nos Estados Unidos, e principal autor de um estudo publicado na quinta-feira (19) no periódico Jama Oncology.

Yu e sua equipe analisaram quase 2 milhões de pessoas para descobrirem que os pacientes que optam pela medicina alternativa, como ervas e acupuntura, são mais propensos a recusar outros tratamentos convencionais para o câncer, e têm um risco maior de morte.

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Para a pesquisa, os cientistas analisaram 258 pessoas que faziam algum tipo de tratamento complementar e 1.901.557 pessoas que realizavam o convencional. Os pesquisadores dividiram os participantes em grupos, de forma que o controle tinha 1.032 pessoas.

Ao compararem os grupos, Yu e sua equipe perceberam que os pacientes do grupo alternativo eram em sua maioria mulheres, jovens e com maior nível socioeconômico. Eles se recusavam mais a fazer cirurgia (7%), quimioterapia (34%), radioterapia (53%) e terapia hormonal (33%), e também tinham cinco anos a menos de sobrevida quando comparados aos pacientes do tratamento tradicional, além de duas vezes mais risco de morte.

De acordo com os cientistas, a maior taxa de morte se deve à recusa aos tratamentos tradicionais, que comprovadamente são mais eficazes. Os tratamentos complementares não causaram danos quando o tratamento convencional foi realizado simultaneamente.

"O tratamento do câncer é assustador", conclui Yu. “É uma resposta humana normal procurar terapias que prometem não ter efeitos colaterais e apenas benefícios. Precisamos ouvir os pacientes e ajudá-los a integrar essas terapias com a terapia convencional."

O clínico geral e especialista em acupuntura Eduardo D'Alessandro, diretor-secretário do CMAeSP (Colégio Médico de Acupuntura de São Paulo), acredita, no entanto, que esse estudo não deve invalidar o uso desse tipo de tratamento alternativo, mas sim aumentar a supervisão em torno disso, já que muitos são aplicados por especialistas de fora da área médica. "o uso de Medicina Complementar deve ser monitorado e de preferência orquestrado pela equipe médica que assiste ao paciente oncológico para aproveitar seus benefícios de controles de sintomas, sanar quaisquer dúvidas quanto a sua utilidade, abordar falsas esperanças e promover o atendimento mais humano, eficaz e respeitoso possível", explicou o especialista.

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