Espasticidade: sequela do AVC pode ser tratada com toxina botulínica
A espasticidade é uma sequela comum em quem sofre alguma doença neurológica que provoca lesões de células do sistema nervoso responsáveis pelo controle dos movimentos voluntários, como o AVC (Acidente Vascular Cerebral).
Explicando de forma simples, a espasticidade provoca descontrole do tônus muscular, podendo causar rigidez e dificuldade de movimentar a região afetada, além de dor. Para você conseguir visualizar o quadro, existem pacientes que ficam com a mão fechada em forma de "garra" mesmo sem querer, por exemplo.
A condição não é rara. "É difícil cravar, mas dados mostram que até 60% dos pacientes com AVC têm espasticidade, e o quadro depende muito do tipo e gravidade da lesão cerebral", explicou Alexandre Longo, neurologista do hospital municipal São José de Neurologia, em Joinville (SC), durante o XXI Congresso Iberoamericano de Doenças Cerebrovasculares, em Gramado (RS).
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Segundo estudo publicado no International Journal of Stroke, da Organização Mundial de AVC, essa resposta muscular incomoda muito os pacientes, que têm como as principais queixas dores, interferências nas atividades da vida diária —como se vestir, tomar banho, comer e beber —, quedas e fraturas, diminuição da produtividade e aumento da dependência de cuidadores ou familiares.
O neurologista explica que os sinais clássicos da espasticidade por AVC são a falta de força, paralisia, hipotrofia muscular, perda do controle seletivo dos movimentos e lentidão dos movimentos. "As consequências desse quadro trazem deformidade postural, dor, redução da mobilidade e perda funcional, o que diminui a qualidade de vida do paciente e aumenta a carga do cuidador", completou Longo.
O que pode ser feito?
Causando tantos entraves na vida dos pacientes, os médicos se desdobram para conseguir criar tratamentos para reduzir os sintomas. Uma das saídas é usar a famosa toxina botulínica para conseguir relaxar o músculo e evitar grande rigidez.
"Se a espasticidade está diagnosticada a pessoa já é candidata a usar a toxina. Mas é claro que isso tem de ser avaliado por um profissional, que deve observar não só o grau do quadro, como também as queixas do paciente", disse Patrícia Zambone, fisiatra do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, do Hospital São Lucas da PUC-RS.
Ao diminuir a rigidez e deixar os músculos mais relaxados, mais soltos, o tratamento promete uma melhora na mobilidade e fim da dor. "Tem família de paciente acamado que não consegue abrir as pernas para troca de fraldas, ou então que não consegue limpar e cortar suas unhas, por ele ficar com os dedos contraídos, nesses casos é muito indicado", exemplificou Zambone.
Não são só pacientes graves que podem se beneficiar do método, tudo depende de como a espasticidade afeta a rotina da pessoa. "Normalmente, a toxina botulínica é usada em pacientes entre moderado e grave. Mas pode ter casos leves em que a rigidez muscular é mais discreta, porém afeta diretamente no dia a dia. Nesses casos, o uso da técnica deve ser avaliado", afirmou Zambone.
A toxina pode ser aplicada em qualquer parte muscular do corpo, variando de acordo com o grau de força muscular e da lesão. Sua resposta não é instantânea, o medicamento começa a agir no sistema do paciente em 72 horas. Em 15 dias, há respostas mais claras e em um mês acontece o auge da melhora, que pode perdurar de três a seis meses dependendo de cada caso.
"Após a aplicação é necessário ter acompanhamento de perto. Preciso ver o paciente no pico de ação para saber como ele reagiu, se funcionou... Caso a resposta não seja tão bacana é importante avaliar o que não permitiu que o remédio desenvolvesse todo seu potencial de ação", explicou Zambone.
Com o tempo, uma ação neurológica faz com que o músculo "note" que existe uma enervação bloqueada temporariamente pela toxina botulínica e volta a estimular o músculo daquela forma negativa. Por isso, se houve melhora no tratamento, a reaplicação da toxina botulínica é indicada —após um intervalo mínimo de três meses.
"É preciso acompanhar para avaliar como o paciente reage à aplicação, além de fazer um tratamento multidisciplinar. Fortalecer outros grupos musculares e usar outros mecanismos de compensação pode fazer com que o tempo de reaplicação da toxina ocorra em períodos mais distantes", disse a fisiatra.
"Não é só aplicar a toxina e dar tchau, tem que acompanhar o paciente, combinar com fisioterapia ou hidroterapia, talvez fazer alongamento em casa, reabilitação, depende de cada um", concluiu.
O tratamento com toxina botulínica para espasticidade em pacientes que tiveram AVC está disponível no SUS (Sistema Único de Saúde).
*Jornalista viajou a convite da Ipsen
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