AVC: quais os sintomas, as causas, os tipos e as sequelas da doença?
O AVC (Acidente Vascular Cerebral), popularmente conhecido como derrame, está entre as principais causas de morte no mundo. Para você ter uma ideia, a Organização Mundial de AVC prevê que uma em cada seis pessoas terá o problema ao longo da vida. Ainda não se impressionou? No Brasil, segundo o Ministério da Saúde, a cada 5 minutos uma pessoa falece em decorrência da doença, contabilizando mais de 100 mil mortes por ano. Além disso, o acidente vascular cerebral é a segunda principal causa de morte no país, e a principal causa de incapacidade no mundo.
O problema é de grande importância, mas mesmo assim pouca gente o conhece e sabe identificar seus sintomas, prestar socorro ou tem ideia de como é seu tratamento. Entenda melhor a seguir.
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O que é?
De forma geral, o AVC é a morte de células do cérebro, que acontece pela interrupção do fluxo sanguíneo no órgão. Essa falta de circulação do sangue pode ocorrer de duas maneiras:
AVC hemorrágico: quando um vaso sanguíneo ou artéria se rompe, causando vazamento do sangue na região e interrompendo o fluxo sanguíneo apropriado.
AVC isquêmico: pode acontecer quando há o entupimento de um vaso sanguíneo, devido ao acúmulo de placas de gordura em suas paredes. Ou então quando um coágulo migra para um vaso sanguíneo cerebral e limita o fluxo de sangue, o que vai "matando" as células que não recebem nutrição.
"Cerca de 85% dos casos de AVC são isquêmicos, que é mais fácil de ter respostas preventivas, por isso é tão importante se cuidar", afirmou Gustavo Weiss, neurologista do Hospital Moinhos de Vento, em Porto Alegre, durante o XXI Congresso Iberoamericano de Doenças Cerebrovasculares, em Gramado (RS).
Sintomas
Os sintomas são iguais para homens e mulheres. Alterações motoras súbitas, como fraqueza muscular, incoordenação ou incapacidade de movimentar uma parte do corpo —geralmente braço e perna de um lado só do corpo —, e dormência na face, braço ou perna estão entre os sinais mais marcantes da doença.
O paciente ainda pode apresentar dificuldade na fala, conversando de forma devagar e confusa. Alterações sensitivas, como cegueira, mudanças nos níveis de consciência, sonolência e confusão mental também aparecem. São registradas ainda queixas de dor de cabeça repentina, aumento de pressão intracraniana e náuseas e vômitos.
"Se você está com alguma dúvida momentânea se alguém pode estar com AVC ou não, existem algumas respostas simples e imediatas, faça o SAMU", aconselhou Weiss. A sigla significa:
S de sorriso, peça para a pessoa tentar sorrir, em casos de AVC só é possível abrir a boca com um lado, fica um sorriso torto e é fácil identificar que há algo errado;
A de abraço, quem sofre um AVC costuma ter fraqueza em um dos lados do corpo e não consegue levantar ambos os braços para abraçar outra pessoa;
M de música, como a fala e coerência ficam comprometidas, o paciente não consegue cantar;
U de urgência, se todos os testes foram positivos, chame ajuda imediatamente.
O AVC ocorre de forma súbita, aos primeiros sintomas é necessário procurar atendimento médico imediato, para um diagnóstico rápido, tratamento agudo, encaminhamento para uma reabilitação e acompanhamento multidisciplinar para amenizar sequelas.
Causas e fatores de risco
Existem fatores de riscos modificáveis, como pressão alta, diabetes, colesterol alto, tabagismo, uso de drogas, obesidade, sedentarismo e estresse. Mas há causas que não temos controle, como idade (o problema é mais comum em idosos) e sexo (a doença acomete mais homens).
Além disso, fatores genéticos aumentam o risco de AVC, e nesse caso é importante ficar alerta tanto para o histórico familiar de derrame como de outras doenças que elevam as chances de derrame, por exemplo, as já citadas diabetes e hipertensão.
Como evitar
Obviamente, a melhor forma de driblar um derrame é evitar os fatores de risco modificáveis. "Mas você pode ter um AVC mesmo assim. Porém, é importante deixar claro que em cerca de 80% dos casos a pessoa poderia ter feito algo para mudar o desfecho. Você precisa fazer atividade física, controlar seu peso, gordura abdominal e a pressão arterial, reduzir o colesterol, não abusar do álcool, evitar o estresse, não fumar e fazer acompanhamento médico," disse Letícia Januzi, neurologista vascular do Hospital Universitário da Universidade Federal de Alagoas.
A neurologista vascular Andrea Almeida, do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, afirma que controlar alguns fatores pode diminuir muito os casos. "Há um aumento de 50% a 54% no risco de AVC se você tem hipertensão. Então, veja o tamanho do benefício de você controlar sua pressão. O diabetes pode aumentar a probabilidade de AVC em 13%, o estresse em 23%. É necessário se cuidar," concluiu Almeida.
Sequelas
Não é possível especificar quais sequelas a pessoa que sofre um derrame terá, tudo depende do tipo de lesão, da extensão e da área do cérebro afetada. Entre os danos mais comuns estão:
Alterações na fala: se a área do cérebro afetada foi a responsável pela linguagem, a comunicação do paciente pode ficar prejudicada. Nesses casos, pode existir dificuldade na capacidade de falar e ser compreendido, além da capacidade de compreender mensagens.
Agnosia Visual: incapacidade de reconhecer objetos e pessoas, mesmo sem ter comprometimento na visão.
Déficit de memória: o paciente com AVC pode perder a memória tanto de curto quanto de longo prazo. Além de ter confusão mental, esquecimentos pontuais —algo como esquecer de repente a receita de um bolo que sempre soube fazer.
Falta de sensibilidade: acontece quando a área do cérebro responsável por interpretar a sensibilidade é lesada.
Alterações motoras: imediatamente após o AVC pode acontecer uma perda do controle muscular voluntário, uma paralisia. Depois, o paciente pode desenvolver um aumento desproporcional da contração muscular de forma involuntária, chamada de espasticidade, que deixa os membros em posturas inadequadas, como mãos sempre fechadas ou ombros contraídos, podendo causar dor e desconforto.
Apraxias: o paciente pode perder a capacidade de realizar movimentos simples, pois o cérebro não consegue efetuar a programação motora de tal atividade. Também pode existir negligência, quando a pessoa tem uma falta de percepção da metade do corpo afetada no derrame, seja no campo motor, seja no visual, seja no sensitivo.
O estudo Toward an epidemiology of post stroke spasticity, publicado no periódico científico Neurology, mostrou que de 50% a 83% dos pacientes que tiveram AVC ficaram com complicações motoras, enquanto 50% tiveram problemas cognitivos. Além disso, de 23% a 36% dos casos registram complicações na fala, 10% convulsões, 8% dores e 20% distúrbios psicológicos.
Tratamentos
Assim que o AVC ocorre, é preciso correr para o hospital. "Tempo é fundamental, quanto mais rápido o atendimento, agilidade e eficiência na admissão e execução dos exames, mais cérebros conseguimos salvar e proteger", contou Fabiano Ruoso, neurocirurgião do ICC - Instituto do Cérebro e Coluna Vertebral de Gramado.
Em caso de AVC isquêmico, é importante devolver o fluxo de sangue para a região afetada, tentando salvar cada vez mais tecido cerebral. Se o vaso sanguíneo estiver entupido com um coágulo, também pode ser indicado fazer uma trombectomia, quando o médico consegue aspirar esse coágulo e liberar a passagem de sangue.
Em casos hemorrágicos pode ser necessário fazer uma cirurgia descompressiva, que é quando se tira a calota craniana temporariamente para deixar o cérebro expandir e não causar mais lesões ao paciente.
Após o atendimento inicial, os pacientes precisam ser avaliados individualmente para saber quais áreas do organismo foram afetadas e encontrar os melhores caminhos de reabilitação.
*Por Maria Júlia Marques, que viajou a Gramado a convite da Ipsen