Usar anabolizantes deixa o homem mais agressivo?
Os efeitos dos anabolizantes para problemas cardiovasculares, elevação do colesterol, aumento da pressão arterial, perda óssea, impotência sexual e até câncer de fígado já são bem conhecidos e documentados. Mas quando se trata da influência dessas drogas no comportamento, é comum encontrar associações exageradas, justificando ações violentas ao uso indiscriminado dos esteroides. Afinal, será que doses estratosféricas dessas substâncias podem fazer com que o indivíduo se torne mais agressivo e aja sem pensar nas consequências?
De acordo com a endocrinologista e metabologista Andressa Heimbecher, colaboradora do Grupo de Obesidade e Síndrome Metabólica do HC-FMUSP (Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo), o uso de anabolizante está realmente associado ao aumento da agressividade, porque a droga é feita à base do principal hormônio masculino: a testosterona. "O homem das cavernas precisava de foco, velocidade e força, então o corpo produz esse hormônio, que em doses acima do normal estimula todas essas características, gerando irritabilidade", explica ela.
No entanto, isso não significa que a pessoa perde o controle de suas ações. "A testosterona não justifica o livre-arbítrio. Ela deixa o indivíduo com uma resposta mais rápida, mas é uma questão ligada mais ao raciocínio do que à razão", acrescenta a médica.
Evandro de Souza Portes, endocrinologista da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia Regional São Paulo (SBEM-SP), dá o exemplo de um acidente de trânsito. Uma pessoa sob o uso indiscriminado de anabolizantes provavelmente irá ficar mais irritada do que o normal e, potencializada pelo ego de ter um corpo musculoso e forte, talvez comece uma briga. "Mas ele ainda tem consciência do que está fazendo. A falta de paciência, agressividade e irritabilidade existem, mas não justificam ações violentas", diz ele.
Veja também:
- Uso de anabolizantes pode estar ligado ao câncer de fígado
- Já usei anabolizantes e agora ejaculo muito pouco. O que pode ser?
- Anabolizantes comprometem funcionalidade do "colesterol bom"
Dependência e efeito reverso
Os esteroides sexuais são produzidos naturalmente pelo corpo, e a testosterona não deixa de ser um anabolizante, que nada mais é do que um hormônio que faz anabolismo, colocando mais glicose para dentro das células e estimulando o uso de energia. Isso estimula o crescimento dos músculos, do pâncreas e do fígado.
"Todo homem precisa desses hormônios, mas quando produções sintéticas deles são usadas em concentrações cavalares, observa-se que esses indivíduos desenvolvem comportamentos mais irritadiços, agressivos, existe associação com desenvolvimento de quadros depressivos e tendências suicidas", explica Portes.
Segundo o especialista, as pessoas que buscam esses medicamentos sem realmente precisarem já têm algum problema na aceitação do corpo. "Essa insatisfação faz ele buscar o esteroide, que vai deixar o corpo da forma que ele acha bonito rapidamente. Apesar de ele perceber que o consumo faz mal, ele continua usando para se sentir bem", diz o médico. O problema é que, apesar de começarem com doses menores, os pacientes começam a aumentá-las gradativamente e a misturar com outros estimulantes hormonais.
Portes ainda alerta a pessoa fica com características de um dependente químico. "Apesar do risco, os pacientes sabem o que estão fazendo, do risco que estão correndo, mas sentem um prazer quando injetam essas substâncias. Isso mexe com o homem, jogando-o cada vez num poço cada vez mais fundo." Chega uma hora que a questão não é só ter um corpo mais bonito dentro do conceito de beleza que essa pessoa tem. O uso pode ser de dependência do efeito.
Com o uso em doses supra-fisiológicas (ou seja) e a insatisfação com o corpo, o usuário acha que tem que ir mais longe. Ele quer algo para hoje, se sente ansioso. Quando ele não toma, se sente tão sem energia que vira um vício.
O corpo se acostuma com quantidades tão altas dos hormônios que para até de produzi-los naturalmente. Ao decidir parar, não há abstinência, mas o indivíduo fica angustiado, deprimido, ansioso, com tendência suicida e certa impaciência ou agressividade. Por isso o tratamento ideal é realizado com um endocrinologista e um psiquiatra. "Muitas vezes eles têm que continuar fazendo reposições hormonais pelo resto da vida --dessa vez em doses absurdamente menores e normais", explica Portes. Além, é claro, de outros possíveis efeitos vitalícios, como a infertilidade e os danos nos rins e no fígado.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.