Doce para acabar com as manhas? Pode gerar compulsão alimentar nas crianças
“Se comer tudo ganha sobremesa” ou “Pegue essa bala e para de chorar”. Que atire o primeiro pirulito quem nunca usou uma dessas frases, ou algo similar, com os filhos. Elas costumam ser bem comuns na difícil missão de educar e administrar o comportamento da criançada no dia a dia. Mas será que essa é mesmo uma ideia tão boa quanto parece?
Doces no pedestal
Especialistas alertam que o melhor é trocar de estratégia. Por mais que seja uma atitude cultural, isso supervaloriza os doces e os coloca como um prêmio a ser alcançado, uma relação com a comida que dura a vida toda. “As guloseimas acabam associadas a recompensas e castigos e isso leva a hábitos inadequados desde muito cedo”, relaciona o nutrólogo e pediatra Mauro Fisberg, coordenador do Centro de Dificuldades Alimentares do Instituto Pensi (Pesquisa e Ensino em Saúde Infantil).
O contrário também não é indicado. Afinal tudo que é proibido atiça a curiosidade e se torna atraente. “Isso reforça a ideia de que eles são prazerosos, enquanto os outros alimentos não são gostosos ou atrativos”, acrescenta a psicóloga Ana Luiza de Mello Franco, da Cia da Consulta, em São Paulo.
Saúde em cheque
A saúde dos pequenos também acaba pagando caro. “Crianças que comem muitos doces geralmente têm seu paladar alterado e são condicionadas a terem mais prazer com esse tipo de sabor”, explica a pediatra Taluana Bueno Morandim, da Clínica Megamed, em São Paulo.
Essa associação faz com que muitas vezes os pequenos acabem ingerindo esses itens mesmo sem estarem com fome. “Isso pode levar a complicações como obesidade, diabetes do tipo 2 e deficiência de micronutrientes como o ferro, que pode desencadear problemas como a anemia”, diz Morandim.
Consequências na vida adulta
O hábito de comer doces adquirido na infância segue na vida adulta. Com o tempo, é comum que a pessoa use doces para se recompensar quando teve um dia difícil --quem nunca fez isso?
Essa relação complicada com o açúcar pode evoluir inclusive para transtornos alimentares, como compulsão associada ao ganho de peso, de acordo com a psicóloga Franco.
Cortando o mal pela raiz
Por todos esses fatores, a recomendação atual dos especialistas é que a ingestão de açúcar comece entre um e dois anos de idade. A Sociedade Americana do Coração é mais rígida e indica só dar o açúcar de adição após os 2 anos.
“Hoje a quantidade de crianças que ingerem açúcar antes do primeiro ano chega a quase 40% e em um grande número isso acontece antes do quarto mês de vida, o que é arriscado, pois leva à formação inadequada de hábitos alimentares”, afirma Mauro Fisberg.
E agora? Como eu substituo do doce?
A solução para evitar todas essas questões é encarar a alimentação como um ato neutro, na qual existem regras de postura, ofertas, horários, qualidade e quantidade e os doces devem entrar como parte da refeição, sem estarem associados a ingestão de outras comidas ou a situações e comportamentos específicos.
Recompensar o bom comportamento das crianças é importante, mas isso tem que ser feito da forma adequada. “Não é indicado utilizar chantagem, oferecendo recompensas, especialmente materiais”, afirma a psicóloga Franco. Ou seja, as crianças devem se sentir satisfeitas e orgulhosas por terem agido da forma correta e não fazerem isso para ganhar algo em troca.
Elogiar, abraçar, conversar e acompanhá-los em atividades prazerosas são formas de premiar o bom comportamento das crianças e favorecer o seu desenvolvimento com consciência e autoestima. Manter uma relação de confiança e de muita conversa entre pai e filho é sempre o melhor caminho para que o pequeno entenda se o que ele fez está correto ou não e ensiná-lo como agir diante das situações.
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