Terapia inédita com robô ajuda jovens autistas a descobrirem o mundo
Criada em 2014, a associação Robots!, com sede em Nantes, no oeste da França, promove ateliês para ajudar as crianças autistas a se socializarem. Um desafio possível graças à utilização do robô NAO, um humanoide criado em 2007 pela empresa japonesa Softbank Robotics, pode ser programado para dançar, cantar, conversar e exprimir emoções.
Do alto de seus 57 centímetros, o robô NAO nos recebe na sede da associação francesa acompanhado do fonoaudiólogo francês Rénald Gaboriau. O local, um antigo prédio de um quartel da cidade, foi cedido pela prefeitura para o especialista.
O projeto que ajuda crianças autistas começou há quatro anos, fruto de um trabalho conjunto entre o Centro de Psicoterapia para crianças do hospital da cidade e da associação Robots!, que milita para democratizar o acesso à robótica e à inteligência artificial.
Gaboriau conta com o know-how da especialista em robótica Sophie Sakka, da escola de engenharia de Nantes. No início, ela conta que os profissionais da área da saúde estavam reticentes em usar o robô para tratar a doença. Para a engenheira em robótica, seu desconhecimento da patologia era o principal empecilho para levar o projeto adiante.
“Minha apreensão era em relação ao autismo. Eu não conhecia nada sobre essa condição. Já os profissionais tinham essa apreensão em relação ao robô. Começamos então a treiná-los. Foram dois dias de formação. Eles perceberam que NAO era acessível e até mesmo limitado. Não um todo-poderoso. Não estamos em um filme de ficção científica" explica. "Os especialistas viram que era possível adquirir competências em uma área diferente da que atuavam em seu cotidiano”, ressalta Sophie Sakka.
A primeira experiência, em 2014, envolveu seis adolescentes autistas, que foram apresentados a três robôs. No decorrer dos ateliês, eles aprenderam a programar o humanoide para que fizesse gestos ou identificasse palavras, contasse uma história e até mesmo gravasse a voz dos jovens. Um desafio para pacientes com autismo, doença que compromete a capacidade de comunicação e interação social.
A associação propõe vinte sessões anuais, que duram um ano. Elas devem respeitar o anonimato das crianças, que não podem ser filmadas ou fotografadas. Nesse tempo, os adolescentes preparam um espetáculo de final de ano, o resultado de tudo que aprenderam no período.
Revelando emoções
Um dos textos utilizados para essa demonstração é “Uma História para Quatro Vozes”, do escritor Anthony Browne, sobre um cão perdido. O tema, diz, ajuda os jovens a expressarem suas emoções e encontrar soluções práticas para certos dilemas que se apresentam. “Tem uma hora, por exemplo, que o personagem está decepcionado. Como ele vai demonstrar essa emoção, já que o robô não tem maxilar, por exemplo? Eles precisam encontrar um jeito de mostrar essa decepção para o espectador”, explica Renalde Gaboriau.
Segundo o fonoaudiólogo, rapidamente, os jovens começaram a utilizar o robô para falarem deles mesmos, inventar uma outra vida, como se NAO fosse uma espécie de fantoche. “É um objeto lúdico, que gera confiança e com quem dá vontade de interagir”, explica Rénald Gaboriau. “Ele não questiona, não julga, mas, ao mesmo tempo, os adolescentes sabem que se trata de uma ferramenta”, declara. Para os pais das crianças, o progresso é evidente: elas se expressam mais e e melhor e estão mais confiantes.
“Temos o retorno das famílias, das escolas, de todas as pessoas que convivem com os jovens. Temos um método de avaliação para ver como eles evoluem. Percebemos que, ao longo do tempo, eles conseguem construir algo juntos, que têm uma relação com a situação proposta, e que, aos poucos, acabam atribuindo intenções aos outros”, conta.
Antes fechadas em seu mundo, as crianças mudam e acabam se abrindo mais aos outros, afirma o representante da associação. “Em nossa experiência, os adolescentes também aceitam estar em um grupo, o que para eles às vezes é muito complicado em função da condição, mesmo fora da escola”, diz.
Para dar continuidade aos progressos, Rénald Gaboriau propõe aos pais dos pacientes um segundo ano de ateliê, onde os jovens podem criar suas próprias histórias em vez de apenas contá-las através do robô. “É um exercicio ainda mais complexo. Inventar uma narrativa, coerente, coesa, e que os outros precisam entender. Guiamos nesse caminho em direção ao outro.”
Diante do sucesso da terapia, o projeto cresceu, ganhou vida própria e hoje está desvinculado do hospital francês. Os jovens também ganharam mais confiança. Alguns deles, que devido ao problema não podiam ir à escola, criaram laços afetivos com seus companheiros de ateliês. Outros, diz o fonoaudiólogo, mostram uma verdadeira aptidão para a programação e devem seguir carreira na área.
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