Melatonina: faz sentido tomar o "hormônio" do sono para dormir melhor?
A melatonina, mais conhecida como hormônio do sono, é uma substância produzida pelo cérebro conforme o dia escurece, para que o organismo compreenda que está chegando a hora de dormir e comece a desacelerar. O pico de melatonina se dá durante o sono e seu nível é reduzido no início da manhã, sinalizando que é hora de acordar e voltar a ação.
Com essa função, a suplementação de melatonina é comumente usada por quem tem dificuldades de pegar no sono. No Brasil, pacientes podem comprar formulações preparadas pelas farmácias de manipulação, desde que com receita médica. Mas existem países, como nos Estados Unidos, onde o hormônio é vendido até em supermercado em formato de bala, e cerca de 3 milhões de pessoas consomem a substância frequentemente.
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Vale a pena tomar?
Embora o suplemento de melatonina esteja popular entre os pacientes, está longe de ser uma unanimidade entre os médicos. Por um lado, muitos profissionais recomendam para melhorar a qualidade de sono dos pacientes. Mas por outro, médicos afirmam que não há comprovações científicas suficientes sobre o uso.
“Os estudos clínicos sobre o uso da melatonina como suplemento não são definitivos. Em tese, a substância nos faz dormir bem, mas precisamos estudar e fazer testes para ver como essa melatonina ingerida, que não é produzida pelo nosso corpo, funciona de fato no organismo”, afirma Fabio Porto, neurologista comportamental do Hospital das Clínicas em São Paulo.
Um dos questionamentos feitos é quando seria o momento certo de tomar o hormônio. “Ninguém sabe dizer com certeza quanto tempo antes de dormir seria benéfico ingerir a melatonina, se é assim que você se deita ou duas horas antes, por exemplo”, comenta Porto.
Além disso, não é definido qual a dose correta para cada organismo. “Não acredito que a melatonina seja uma resposta para qualquer distúrbio do sono. A substância não é para ser usada para sempre e nem em qualquer dosagem. É preciso ter um acompanhamento e estabelecer com cuidado a dose e o tempo utilizado, uma vez que não sabemos exatamente como ela age”, diz Magali Lumertz, pneumologista pediatra e especialista em medicina do sono do Hospital São Lucas da Puc-RS.
Ambos fatores são de extrema importância, uma vez que doses e horários errados de melatonina podem mexer no ciclo circadiano e, em vez de melhorar o sono, o desregular ainda mais. Para ficar claro, o ciclo circadiano é o período de aproximadamente 24 horas em que nosso corpo se baseia para organizar funções como digestão, temperatura, estado de vigília ou sono, e é influenciado pela variação de luminosidade.
“Quando você toma melatonina induz um pico da substância muito maior do que o fisiológico. Na teoria, você consegue dar um reset no relógio biológico. Assim você pode, de uma hora para outra, mudar os horários de sono e vigília, e fazer isso sem acompanhamento é perigoso”, alerta Porto.
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Melatonina pode causar outras reações
Por fim, existem debates sobre os efeitos que a melatonina causa no corpo além do sono, como indução ao jejum e redução da pressão arterial, por exemplo. Em excesso e fora do horário de produção natural pelo organismo, o hormônio pode ainda desencadear doenças crônicas, como diabetes.
"A quantidade que precisa ser administrada para o paciente no começo da noite não pode ser grande o suficiente para permanecer (no organismo) durante o dia. Do contrário, pode trazer resistência insulínica pela manhã para o indivíduo, o que significa iniciar o desenvolvimento de um quadro diabético”, afirmou José Cipolla Neto, professor de fisiologia no Instituto de Ciências Biomédicas da USP e pesquisador sobre os efeitos fisiológicos e mecanismos de ação da melatonina, em entrevista ao UOL VivaBem em janeiro deste ano.
“A melatonina é muito interessante para vários distúrbios de sono, pode ser utilizada e ter um bom resultado sob orientação médica. Mas não é para todo mundo tomar sem orientação. Tem que ter indicação e acompanhamento, ao menos até que os estudos esclareçam seu funcionamento”, conclui Lumertz.
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