"Sair da cadeira de rodas me deu coragem para fazer coisas que tinha medo"
Existem experiências que mudam as nossas vidas completamente. E com certeza ter uma doença grave --e até mesmo ver a morte de perto -- é uma delas. Depois que o pior passa, no entanto, ficam aprendizados importantes e novas formas de encarar o que está ao redor.
E você não precisa necessariamente ter passado por uma experiência dessa para compartilhar sabedoria. O UOL VivaBem conversou com quatro pessoas que tiveram doenças graves e elas compartilharam as principais mudanças que tiveram. Veja os depoimentos a seguir:
"Cabelo cresce, a barriga chega com a idade, --bonito é o que vem de dentro para fora"
Karina Santos, 32 anos, consultora de moda, São Paulo
"Tive um câncer de mama em 2016. Quando recebi o diagnóstico, o choque foi enorme. O tumor estava bem desenvolvido, então era preciso agir rápido. Fiz quimioterapia e uma cirurgia que livraram meu corpo da doença. Foi um período muito difícil. Tive medo, muita dor, momentos de desespero.
Hoje, curada, aprendi a agradecer todos os dias por acordar saudável e a parar de reclamar de tudo. Eu era uma pessoa estressada, mas passei a ter mais paciência com tudo. Tenho um novo olhar diante da vida e das pessoas --aprendi a entender melhor os outros e a enxergar o mundo com mais amor. Não dou importância para pequenas coisas que antes me deixavam louca, como chegar em casa e ver os brinquedos das crianças espalhados. Hoje penso: 'Graças a Deus tenho dois filhos saudáveis para fazer bagunça'. Também aprendi a não guardar mágoas. Resolvo o que precisa na hora, de forma delicada.
Outro ponto é que sempre fui muito vaidosa, e continuo sendo, mas sei que a aparência muda a todo momento. Cabelo cresce, a barriga chega com a idade, as rugas começam a se destacar no rosto --e que o bonito é o que vem de dentro para fora. Consigo analisar e resolver melhor os problemas. Aprendi que precisamos ter muita fé e que ela nos cura."
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"Fiquei mais sensível à dor do outro"
Tadeu Monteiro, 42 anos, médico pneumologista e professor, Belém (PA)
"Em 2013, tive a síndrome de Guillain-Barré (doença autoimune que afeta o sistema nervoso e se caracteriza por fraqueza muscular progressiva). Na época, eu morava em São Paulo e trabalhava em um hospital.
Uma noite, em casa, bastante gripado, comecei a sentir dores no corpo e fraqueza nas pernas. Até que tentei levantar e não consegui andar. Um amigo me levou para o hospital, mas em pouco tempo a doença atingiu a musculatura respiratória. Precisei ser entubado e fui para a UTI, onde fiquei por 30 dias em coma induzido. Nesse período, tive uma infecção hospitalar que evoluiu para choque séptico.
Foi um quadro bem grave, cujos detalhes eu só sei por causa dos relatos da minha irmã e da minha mãe. Quando acordei do coma, me vi imobilizado do pescoço para baixo e traqueostomizado (com um orifício no pescoço que permite a respiração). Eu emagreci 30 quilos, estava com cicatrizes das cirurgias, numa cadeira de rodas. Voltei para Belém (PA), para morar com meus pais, uma mudança radical para mim.
Acho que a palavra que resume a minha postura diante de tudo isso é resiliência. Ainda durante minha recuperação, me preparei para fazer um mestrado e me tornar professor, pois imaginei que, dessa forma, poderia trabalhar mesmo se ficasse para sempre na cadeira de rodas. Depois, fiz coisas que eu não tinha coragem de fazer antes, como viajar sozinho para Europa.
Mas acredito que a maior mudança foi ter ficado mais sensível à dor, tanto física quanto psíquica, do outro. Eu tenho sorte de ter tido apenas uma pequena sequela (sensibilidade alterada no pé), pois tem muita gente que fica na cadeira de roda para sempre. Então, na época que eu já estava bem, eu sempre pensava que, se eu tivesse a oportunidade de falar sobre isso, eu falaria."
"Questionei se havia construído a história que gostaria"
Raquel Couto, coach, 39 anos, Belo Horizonte (MG)
"No dia 18 de agosto de 2013, acordei com uma dor na região do estômago. Tomei remédio mas, à noite, a minha barriga estava muito inchada. Meu sobrinho me levou ao hospital e, depois de alguns exames e duas injeções de morfina para suportar a dor, veio o diagnóstico: metade do meu intestino estava necrosada. Fui direto para a sala de cirurgia.
Nunca descobri o que causou o problema. Os médicos falaram que aquilo não era normal na minha idade --34 anos na época -- e também não explicaram porque aconteceu do lado direito, já que isso também não é normal. Acho que foi para eu aprender algumas coisas, mesmo.
Fiquei três dias na UTI e depois mais sete no quarto do hospital. Ali, me veio um grande questionamento: se eu morresse hoje, eu teria construído a história que gostaria? E a resposta, claro, foi não. Desde então eu venho fazendo isso de maneira consciente. Antes, eu deixava as coisas acontecerem. Hoje, quando acordo, eu penso no que vou fazer naquele dia para realmente colocar mais um tijolinho na minha trajetória.
Eu costumava culpar todo mundo pelo que acontecia comigo. Mas aprendi a ser responsável pela minha vida --se as coisas eram de um determinado jeito, era porque eu permitia. Até hoje estou nesse processo de lapidação pessoal, e estarei nele até o último dia da minha vida."
"Só levo a sério o que realmente importa"
Ana de Assis, 47 anos, dona de casa, São Paulo (SP)
"Sempre tive um estilo de vida saudável, com exames médicos em dia e prática regular de esportes. No início de 2017, senti algo diferente no seio direito e foi diagnosticado um câncer de mama, com metástase na axila. Tive que fazer uma cirurgia às pressas, além de 16 sessões de quimioterapia e 28 de radioterapia. Foi tudo muito agressivo, mas o que aprendi dá um livro!
Descobri que o meu segredo é tentar prolongar ao máximo a positividade, especialmente nos momentos mais difíceis, de sentir a ferida na alma. Você já está tão próxima de vencer que manter-se positiva ajuda a encontrar um bônus de energia escondido em algum lugar dentro de você para concluir a batalha.
Outra mudança importante é que, hoje, levo a sério só o que realmente importa. Eu me pergunto: se eu fosse morrer amanhã, daria importância para isso? Resgatei minha real essência, me tornei uma mulher empoderada, que assume a própria vida. Aprendi a dizer não sem culpa, e entendi que chorar não é sinal de fraqueza. Por fim, adoraria poder dizer às mulheres para confiarem na própria intuição. No momento em que eu percebi algo estranho no meu corpo, eu tinha certeza que não era algo bom."
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