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Estudo encontra causa de dor que sempre volta no local de um grande trauma

Aquela torção grave no futebol é capaz de alterar seus genes, por isso o local dói mesmo após o problema estar bem curado - iStock
Aquela torção grave no futebol é capaz de alterar seus genes, por isso o local dói mesmo após o problema estar bem curado Imagem: iStock

Edison Veiga

Colaboração para o VivaBem

27/08/2018 14h01

É bem possível que você já tenha passado por isto: uma dor esquisita e localizada, exatamente em um mesmo local de uma grande contusão no passado, mesmo depois desse machucado já ter sido muito bem curado. Tipo aquele pé que você torceu anos atrás e insiste em doer no mesmo ponto. Ou aquele mesmo local de um hematoma grande sofrido após um acidente de carro, já completamente cicatrizado.

Cientistas da Universidade da Carolina do Norte (EUA) descobriram uma explicação para este tipo de dor crônica e reincidente. Em estudo publicado nesta segunda-feira no Journal of Neuroscience, pesquisadores da instituição identificaram um gene --o FKBP5 -- como o culpado por essa sensação.

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Eles examinaram 1,5 mil americanos sobreviventes de acidentes automotivos. E constataram que grandes traumas conseguem alterar as propriedades do gene. "Mostramos que a razão pela qual essa variante afeta os resultados da dor crônica é porque ela altera a capacidade do FKBP5 de ser regulado por um micro-RNA, chamado de miR-320a", explica Sarah Linnstaedt, professora de anestesiologia da universidade e principal autora do estudo. 

No organismo, os micro-RNAs assumem um importante papel na regulação da expressão gênica, principalmente por conta da tradução --que pode ou não ser reprimida -- do chamado RNA mensageiro.

Estresse pós-traumático

Estudos anteriores já demonstraram como o gene FKBP5 tem um papel importante na maneira como o organismo reage a grandes traumas. Cientistas haviam correlacionado esse gene ao desenvolvimento de distúrbios neuropsiquiátricos, como transtorno de estresse pós-traumático, aumento do risco de suicídio, depressão e incidência de comportamento agressivo

Desde 2013, entretanto, pesquisadores da Escola de Medicina da Universidade da Carolina do Norte se debruçam sobre a associação entre as variações de FKBP5 e a dor crônica pós-traumática. 

Os cientistas provaram, por exemplo, que determinadas pessoas --com uma variação no cromossomo 6 -- em geral sentem mais dor após um grande trauma -- de agressão sexual a acidente de trânsito. "Em indivíduos com o alelo menor no cromossomo 6 o micro-RNA não se liga bem ao FKBP5", afirma Linnstaedt. "Ou seja, o gene não é regulado negativamente e acaba desenvolvendo uma superexpressão."

Além disso, conforme detalha a pesquisadora, altos níveis de expressão desse gene podem ser prejudiciais porque acabam interferindo nos mecanismos naturais de feedback, justamente os que controlam os níveis de cortisol --o hormônio do estresse.

Os cientistas acreditam que o cortisol sensibiliza diretamente os nervos periféricos, ou seja, aqueles com níveis mais altos desse hormônio, em geral, são os que sentem mais dor. 

Terapias

Linnstaedt acredita que sua pesquisa pode auxiliar nos tratamentos realizados pós-traumas, apresentando novas possibilidades de abordagens terapêuticas. "Poderíamos, por exemplo, usar pequenas moléculas ou RNAs inibidores para diminuir a expressão ou inibir a atividade de FKBP5", exemplifica. "Uma outra ideia seria pensarmos numa espécie de edição genética capaz de alterar especificamente o alelo de risco em FKBP5."

Nos últimos anos, Linnstaedt vem sendo reconhecida nos Estados Unidos como uma grande especialista em tratamentos de dores, por seus estudos que apontam novas abordagens terapêuticas para casos crônicos e desconfortáveis. 

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