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Por que há diferentes tipos de sangue? Eles dizem algo sobre nossa saúde?

Cada tipo de sangue tem características únicas e receber um sangue diferente do seu pode acabar em morte - iStock
Cada tipo de sangue tem características únicas e receber um sangue diferente do seu pode acabar em morte Imagem: iStock

Maria Júlia Marques

Do UOL VivaBem, em São Paulo

03/09/2018 04h00

Temos que ser gratos ao nosso sangue, pois ele trabalha com eficiência em funções de grande importância para manter o corpo todo ativo, como levar oxigênio e nutrientes para as células. Talvez você nunca tenha notado, mas pensamos com tanto carinho sobre o sangue que até damos nomes para ele, O positivo, A negativo, e por aí vai.

Brincadeiras à parte, as classificações dos tipos sanguíneos são muito importantes e fazem uma tremenda diferença na hora da transfusão. Cada tipo de sangue tem características únicas e os médicos sempre conferem tanto a letra quanto se é positivo e negativo, porque receber um sangue diferente do seu pode levar à morte.

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Por que existem tipos diferentes de sangue?

"Os cientistas acreditam que as diferenças de tipos sanguíneos decorreram de vantagens evolutivas adquiridas ao longo dos anos em relação a infecções", explica Edna Harumi Goto, hematologista do Hospital Samaritano, em São Paulo. Os tipos de sangue são: A, B, AB ou O; e eles podem ser positivos ou negativos.

O que determina qual será o sangue de cada um são as características genéticas herdadas dos pais. "Por exemplo, se os pais possuem os tipos sanguíneos A e O, eles só podem ter filhos com sangue A ou O, nunca B ou AB", comenta Goto.

O que difere o sangue A, B, AB ou O?

Para conseguir diferenciar os tipos sanguíneos é preciso analisar se há ou não a presença de moléculas de proteína na superfície da membrana dos glóbulos vermelhos: os antígenos A e B.

"Se seu sangue é tipo A quer dizer que possui antígeno A; se é B, você tem antígeno B; e o sangue O significa a ausência dos antígenos, não tem proteína nenhuma", diz Tatiana Covas, hematologista do complexo hospitalar Edmundo Vasconcelos, que administra o banco de sangue de São Paulo. "Isso não muda nada na sua saúde, é só uma diferença no organismo que precisa ser levada em consideração se um dia você precisar de sangue", completa Covas.

Positivo ou negativo

Também depende de uma proteína que fica nos glóbulos vermelhos. A substância que classifica se o sangue é positivo ou negativo é específico do sistema Rh: o antígeno D. Quando ouvimos que uma pessoa tem tipo sanguíneo A+, por exemplo, significa que ela tem em suas hemácias tanto o antígeno A quanto o D. Quando o sangue é negativo, ele evidência a ausência do antígeno D.

Por que essas características são importantes?

Sangue - iStock - iStock
Médicos testam o tipo de sangue nos fatores ABO e negativo ou positivo para evitar complicações em transfusões ou transplantes
Imagem: iStock
O sangue tem milhares de antígenos, essas tais proteínas na membrana dos glóbulos vermelhos, muitos mesmo. Porém, os médicos descobriram que não há necessidade de desvendar cada uma delas, uma vez que quando o assunto é transfusão de sangue os sistemas Rh e ABO são únicos os que precisam ser respeitados obrigatoriamente. "Os fatores também são de extrema importância em casos de transplante", diz Goto.

Isso porque quem nasce com o sangue A, por exemplo, tem antígeno A e também tem anti-B. Ou seja, o sistema imunológico da pessoa já está programado para reagir com força total e imediatamente caso entre em contato com um sangue B (seguindo o exemplo inicial de um paciente com sangue A).

"Para você entender fica assim: quem é tipo A tem anti-B, então não pode receber sangue B, enquanto quem é tipo B tem anti-A, e não pode ter contato com sangue A. Já quem é AB tem os dois tipos de proteína, então o corpo não irá estranhar nenhuma, por isso é receptor universal. E se é O tem anti-A e anti-B, vai estranhar sangues A, B e AB, e só pode receber sangue O", pontua Covas. Por não ter os antígenos A ou B, o sangue O é doador universal, pois não causa reação em nenhum outro tipo de sangue.

Também é perigoso não respeitar o fator Rh. O que acontece é que quem possui essa proteína chamada de fator Rh é positivo, quem não tem é negativo. Quando uma pessoa que é negativa recebe um sangue positivo, seu corpo reage a proteína como se fosse uma invasora.

"Os casos de incompatibilidade de Rh são graves, mas não tão severos como os de tipo ABO. Acontece que no ABO o corpo já tem os anticorpos formados para lutar contra as proteínas que não possuem, já com o Rh (D) o organismo precisa de um primeiro contato para estimular o sistema imunológico e produzir um anti-D", explica Covas.

A resposta corporal em um primeiro contato com o antígeno D (do fator Rh) pode demorar cerca de 14 dias. Depois disso, o corpo do paciente estará com células prontas para atacar em caso de um segundo contato com o tipo sanguíneo, o que causará uma reação mais grave.

Como o corpo reage se receber um sangue diferente?

"Receber um sangue incompatível é gravíssimo, pode trazer reações como calafrio, tremor, insuficiência renal e há risco de óbito", alerta Covas.

"É isso, caso um paciente do tipo O receba sangue do tipo A ele irá apresentar hemólise do sangue recebido, ou seja, ocorrerá destruição dos glóbulos vermelhos que ele recebeu, pois ele possui anticorpos anti-A que reconhecerão que o sangue recebido não é compatível com o seu", acrescenta Goto.

Tipos de sangue podem indicar pré-disposição a doenças?

"Existem muitos estudos em andamento que relacionam algumas patologias com tipagens sanguíneas, como prevalência para câncer de pâncreas, infertilidade ou déficit de memória, mas todas as pesquisas são muito iniciais e não devem levar à mudança de conduta da população", diz Marimilia Pita, hematologista do Hospital Samaritano.

Ou seja, não é porque você tem um tipo de sangue associado a uma maior prevalência de certa doença que deve ter receio e viver fazendo exames para saber se está com o problema. "Na prática do paciente não muda nada, são só hipóteses, é precipitado. Todos têm que continuar com a prevenção da mesma forma, e quando tiverem a doença passarão por tratamento normal", afirma Pita.

O que pode acontecer e até tem seu fundo de verdade, mas não um grande impacto na vida do paciente ou em atendimentos médicos, é a ligação entre tipos sanguíneos e coagulação.

"Já é sabido que, por exemplo, quem tem sangue O tem menos fatores de coagulação no plasma do sangue, então possui pré-disposição maior a eventos hemorrágicos. O grupo A tem mais fatores de coagulação, podendo ter mais chance de fenômenos trombóticos", comenta Marcello Augusto Cesar, hematologista do Hospital e Maternidade São Luiz Itaim, em São Paulo.

De qualquer forma, são eventos que, segundo Cesar, são muito pequenos e também não têm peso durante a rotina hospitalar. Portanto, fique tranquilo com o tipo de sangue que você tem e não se esqueça de agradecer por todo o trabalho que ele faz no seu corpo 24 horas por dia. 

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