Sobrepeso na gravidez pode causar diabetes na mãe e no filho e preocupa EUA
Há anos especialistas em saúde materna se preocupam com uma estatística problemática: mais da metade de todas as mulheres grávidas nos Estados Unidos estão com sobrepeso ou obesas quando concebem, colocando a si e aos filhos sob maior risco de desenvolver diabetes e outros problemas de saúde.
Assim, há uma década, o governo americano financiou alguns testes de milhões de dólares para ver se dieta e exercícios ajudariam essas mulheres a se manter em um peso saudável durante a gravidez —potencialmente reduzindo as taxas de complicações.
Na quinta-feira (13), as descobertas foram anunciadas: o início de uma dieta e da prática de exercícios em torno do início do segundo trimestre da gravidez ajudou muitas delas a evitar o ganho de peso em excesso. Por outro lado, não diminuiu a taxa de diabetes gestacional, hipertensão e outros efeitos adversos.
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Especialistas disseram que os resultados da pesquisa foram tanto encorajadores, quanto realistas. Houve a confirmação de que o ganho de peso durante a gravidez em mulheres com sobrepeso ou obesas pode ser evitado de forma segura com intervenções em seu estilo de vida. Mas o trabalho também sugere que, para melhorar os resultados obstétricos e a saúde dos bebês, quem está acima do peso deveria fazer mudanças significativas em seu estilo de vida antes de engravidar, disse o Dr. Alan Peaceman, chefe de Medicina Materna da Escola de Medicina Feinberg da Universidade Northwestern e principal pesquisador do estudo, que foi publicado no periódico Obesity.
"Esse é um problema sério que ganhou relevância como nunca antes, e precisa ser trabalhado. Teremos que começar a falar com as mulheres que estão com sobrepeso ou obesas mesmo antes da gravidez e explicar-lhes o risco desse excesso de peso", completou ele.
A nova pesquisa chega em um momento crítico. Décadas atrás, as autoridades de saúde incitavam as mulheres grávidas a ganhar peso suficiente para reduzir as chances de terem bebês muito pequenos. Mas, quando a epidemia de obesidade decolou nos anos 1980 e 1990, não poupou quase ninguém, incluindo as grávidas.
A pesquisa do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) constatou que a prevalência da obesidade entre gestantes subiu 69% entre 1993 e 2003. Hoje, cerca de 26% estão com sobrepeso quando engravidam e 25,6% são obesas, de acordo com os dados mais recentes do CDC.
Mulheres nesses grupos estão mais propensas a exceder o aumento de peso recomendado durante a gravidez e mantê-lo no pós-parto. Entre as complicações, elas estão mais propensas a experimentar trabalhos de partos mais longos, bebês anormalmente grandes, hipertensão e cesarianas. As obesas também têm taxas mais altas de diabetes gestacional, abortos e nascimentos prematuros. E uma série de estudos mostra que seus filhos têm taxas de obesidade e diabetes tipo 2 aumentadas.
Em 2009, o Instituto de Medicina emitiu um relatório que descreve a quantidade de peso que as mulheres devem ganhar durante a gestação, baseado no seu índice de massa corporal. Segundo o guia, aquelas dentro da categoria de peso normal devem ganhar entre 11 kg e 15 kg, enquanto as que estão acima do peso devem ganhar de 6 kg a 11 kg. As obesas não devem ganhar mais de 9 kg durante a gravidez.
Ao longo dos anos, uma série de estudos analisou se as mudanças no estilo de vida poderiam melhorar a saúde de gestantes com IMC elevado. Mas muitos dos estudos foram pequenos, não muito rigorosos ou de má qualidade. Por isso, o Instituto Nacional de Saúde resolveu realizar um estudo grande e definitivo com um grupo diversificado de mulheres. Assim, recrutou 1.150 mulheres com sobrepeso e obesas em sete clínicas por todo o país e aleatoriamente as designaram para um grupo de controle ou para um grupo no qual foram submetidas a uma variedade de práticas de dietas e exercícios. Todas estavam entre a nona e a 15º semana de gestação quando começaram a fazer parte do estudo.
Mulheres como Heather Kinion, 39 anos, que vive em Chicago e trabalha para uma revista, foram recrutadas. Kinion estava ligeiramente acima do peso quando engravidou no final de 2015. Ela se juntou ao estudo na Northwestern em seu primeiro trimestre da gravidez e foi instruída a se tratar com um nutricionista, que pediu que ela mantivesse o registro de sua ingestão diária de alimentos em um aplicativo de smartphone. Kinion não comeu mais de 2.300 calorias por dia, substituiu refrigerantes por chá, cortou as guloseimas açucaradas como sorvete, bolos e milk-shakes. Adicionou mais frutas e verduras à sua dieta e tentou se exercitar mais.
Kinion ganhou cerca de 11 kg durante a gravidez —que estava em sua faixa recomendada — e teve um bebê saudável, Julia, em 2016.
"Foi supereficaz. Cerca de duas semanas depois que minha filha nasceu, eu estava com quase 5 kg a menos do que antes da gravidez", declarou ela.
Em última análise, os pesquisadores perceberam que as mulheres do grupo de dieta e exercício do estudo ganharam, em média, 1,8 kg a menos do que aquelas no grupo de controle. A chance de excederem o peso recomendado durante a gravidez foi 48% mais baixa.
Ainda assim, para a maioria delas, a intervenção não funcionou. Cerca de 68,6% das mulheres no grupo de dieta e exercício ultrapassaram a quantidade recomendada de ganho de peso, em comparação a 85% daquelas no grupo de controle. No fim do estudo, a taxa das principais complicações da gravidez não diferiram.
"Uma das nossas hipóteses é que, quando começamos com a intervenção no início do segundo trimestre, já era tarde demais. É possível que os efeitos adversos já haviam sido influenciados pelo ganho de peso anterior", disse Peaceman.
A Dra. Emily Oken, especialista em saúde materna na Escola de Medicina de Harvard, que não esteve envolvida na pesquisa, disse que os estudos futuros poderiam analisar o impacto de atribuir mudanças no estilo de vida de quem está acima do peso antes da gravidez. Ela também especulou que as reduções médias no ganho de peso que ocorreram no novo estudo podem não ser suficientes para ter qualquer impacto real em muitas mulheres.
"Não fica claro se essas pequenas diferenças de ganho de peso resultam em condições de saúde melhores para os bebês", disse Oken.
Outro perito em saúde materna, o Dr. Patrick Catalano, disse que a partir de outros estudos, ficou claro que os esforços na saúde pública devem se concentrar em chegar às mulheres muito antes que engravidem.
"Acredito que isso tem que ser uma abordagem ao longo da vida —não pode ser apenas algo que tentamos quando as mulheres já estão na 14ª semana de gestação", disse Catalano, pesquisador do Instituto de Pesquisa Mãe e Bebê do Centro Médico Tufts. "Se a mulher engravida com um peso considerado normal, então estatisticamente terá um risco menor de ter complicações. Se o objetivo é tentar melhorar a gravidez tanto para a mãe quanto para seus filhos, é necessário iniciar cedo."
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