Pressão alta não tem sintomas e ameaça coração, cérebro e rins
A pressão alta é um dos fatores de risco de doenças como infarto e AVC. Veja causas e como tratar o problema
Um em cada quatro brasileiros sofre de hipertensão, ou pressão alta, sendo que após os 60 anos essa proporção ultrapassa os 50% da população.
Essa doença de caráter crônico está por trás de nada menos que 80% dos casos de acidente vascular cerebral (AVC) e 40% dos infartos —um dado assustador num país em que esses eventos cardiovasculares são as principais causas de morte. Além disso, a condição é responsável por 25% dos casos de insuficiência renal terminal —hipertensão e diabetes são as doenças que mais levam pacientes a precisar de hemodiálise ou perder um rim.
O cardiologista Fernando Costa, diretor de promoção da saúde cardiovascular da Sociedade Brasileira de Cardiologia, traz outro número que dá uma ideia de quanto o controle da pressão arterial pode evitar tragédias: "Se pegarmos todas as pessoas que morreram por doença cardiovascular no último ano, descobriremos que 65% delas tinham hipertensão". Imagine quantas mortes poderiam ser evitadas se a condição fosse tratada adequadamente.
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Que pressão é essa?
O coração é a bomba que faz o sangue rico em oxigênio e nutrientes chegar a todos os órgãos e tecidos por meio das artérias e suas ramificações. O trajeto de volta se dá nas veias. Quando o músculo cardíaco se contrai (movimento chamado de sístole), ele ejeta sangue com força para os vasos, exercendo pressão contra suas paredes. Em seguida, ele relaxa e se enche de sangue (diástole). É por isso que a aferição da pressão arterial envolve sempre duas medidas: a máxima (sistólica), exercida durante a batida do coração, e a mínima (diastólica), presente entre as batidas. A unidade de medida utilizada é mmHg (milímetros de mercúrio).
Por uma série de razões, as paredes das artérias podem perder elasticidade, e o diâmetro dos vasos pode se estreitar por causa do acúmulo de placas de gordura e outros componentes (ateroma). Nessas condições, a pressão arterial aumenta.
Para entender o processo, imagine uma torneira ligada a uma mangueira para irrigar um terreno extenso de terra. Se você apertar um trecho da mangueira com a mão, a passagem de água fica comprometida e você vai ter que abrir mais a torneira para aumentar a pressão. Só que, com o passar do tempo, a força exercida contra a parte mais apertada pode danificar a mangueira e comprometer a irrigação de parte do terreno. É mais ou menos isso que acontece com os vasos em casos de infartos e derrames.
Variações normais
O tamanho do "terreno" pode interferir na pressão arterial. É por isso que crianças têm a pressão naturalmente mais baixa, assim como pessoas muito magras ou baixas. Como as artérias se enrijecem de maneira gradual com a idade, e muita gente tende a acumular mais placas de ateroma com o passar dos anos, é comum que a pressão seja mais elevada entre os idosos.
A pressão arterial se modifica ao longo do dia, dependendo de fatores como estar deitado ou de pé, relaxado ou em atividade, nervoso ou tranquilo. Quando você corre, por exemplo, é natural que suas pressões sistólica e diastólica aumentem, e isso não é um problema. Na verdade, quem pratica atividade física regularmente tende a ter a pressão mais controlada e um coração que não precisa fazer tanto esforço para bombear o sangue.
Diagnóstico
Em indivíduos com 18 anos ou mais, os valores considerados ótimos são aqueles iguais ou menores que 120/80 mmHg (pressão coloquialmente chamada de "12 por 8"). Valores de pressão sistólica em 130-139 e diastólica em 85-89 são considerados "normais limítrofes". Quando as pressões máxima e mínima, em repouso, são iguais ou ultrapassam os 140/90 mmHg admite-se que a pessoa tem hipertensão. Mas muitos idosos têm a chamada "hipertensão sistólica isolada", quando apenas a pressão máxima eleva-se para 140 ou mais e a diastólica mantém-se normal.
Sempre que uma pessoa está nervosa, e o organismo libera adrenalina, a pressão tende a aumentar transitoriamente. Alguns pacientes podem apresentar valores altos apenas quando estão no médico ou no hospital - o fenômeno é chamado "hipertensão do jaleco branco". É por isso que o diagnóstico, em geral, envolve aferições em três diferentes ocasiões. A monitorização ambulatorial de pressão arterial (Mapa) e a monitorização residencial de pressão arterial (MRPA) também podem ser solicitadas pelo médico para confirmar o diagnóstico ou identificar uma "hipertensão mascarada", que não aparece nas consultas médicas.
Nem sempre há sintomas
O grande problema é que, quase sempre, não dá para perceber que a pressão está elevada. Por isso, o diagnóstico geralmente demora, ou o paciente tratado acha que está bem e se descuida no controle. Em ambos os casos, as artérias podem sofrer danos irreversíveis. Embora raros, os sintomas podem incluir:
- Dor de cabeça
- Tontura
- Zumbido no ouvido
- Fraqueza
- Visão embaçada
- Sangramento nasal
Pessoas sem hipertensão também podem apresentar todos esses sintomas, por isso o diagnóstico só pode ser feito com exames de rotina. "Na maioria das vezes, a pessoa não sente absolutamente nada. Aqueles que sentem é porque estão com comprometimento elevado", diz Fernando Costa.
Complicações
Como sugere o exemplo da mangueira, quem é hipertenso corre maior risco de sofrer infartos, AVC, angina (dor no peito) e insuficiência cardíaca (aumento do coração). Além disso, a doença ameaça o funcionamento dos rins. É que os pequenos vasos desse órgão, que tem como principal função a filtragem do sangue, podem ser danificados quando a pressão aumenta.
Para piorar as coisas, os rins contam com um mecanismo automático que ajuda a regular a pressão arterial, o "sistema renina-angiotensina-aldosterona". Assim, se o órgão estiver com função comprometida, o controle da pressão vai ficar ainda mais difícil.
Causas e fatores de risco
Cerca de 90% dos pacientes diagnosticados têm a chamada hipertensão primária ou essencial, quando não há uma doença ou condição que a justifique. Os fatores de risco são:
- Hereditariedade: a pessoa tem uma predisposição herdada do pai ou da mãe
- Idade: a pressão alta é mais comum em indivíduos com 65 anos ou mais
- Etnia: negros têm propensão maior à doença, segundo estudos
- Obesidade: quanto maior o peso, maior o risco
- Sedentarismo: a prática de exercícios regulares tem papel protetor
- Má alimentação: baixo consumo de frutas, verduras e legumes e excesso de comida industrializada podem comprometer a saúde das artérias
- Excesso de sal: o sódio, presente no sal de cozinha, embutidos, enlatados e congelados, pode facilitar ou agravar a hipertensão. Os brasileiros ingerem 12 gramas de sal por dia, o dobro do recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Eliminar completamente o sódio da dieta é impossível e tampouco seria saudável, já que esse mineral é importante para o funcionamento do organismo. O caminho é a moderação no consumo de sal para todos, principalmente para os hipertensos.
- Álcool: o consumo excessivo de bebidas alcoólicas interfere na pressão arterial
- Tabagismo: fumar é um veneno para as artérias e colabora para a hipertensão
- Estresse: embora não cause hipertensão de forma isolada, passar nervoso leva o corpo a liberar adrenalina, o que faz a pressão subir como uma reação de luta ou fuga
A hipertensão secundária, que representa cerca de 10% dos casos, é consequência de outras condições, como distúrbios renais, hormonais, aterosclerose ou uso de determinados medicamentos.
Tratamento
A abordagem quase sempre se inicia com medidas não farmacológicas, como prática de atividade física, redução do sal, controle do peso, melhora do sono e gerenciamento do estresse. Mas quando a pressão está muito alta no momento do diagnóstico ou o paciente já apresenta outros fatores de risco cardiovascular, o tratamento medicamentoso é indicado logo, junto com as mudanças no estilo de vida.
Existem diferentes agentes anti-hipertensivos, com mecanismos de ação distintos. Veja quais são:
Diuréticos: diminuem as quantidades de sal e água no organismo e podem ajudar na dilatação das artérias
Antagonistas do cálcio: promovem a dilatação dos vasos sanguíneos
Betabloqueadores: bloqueiam os efeitos do sistema nervoso simpático, que pode responder automaticamente ao estresse elevando a pressão arterial
Inibidores da enzima conversora da angiotensina (ECA): inibe o sistema renina-angiotensina, que faz o controle da pressão pelo relaxamento das artérias e nos hipertensos é muito ativado
Bloqueadores do receptor da angiotensina II: atuam de forma similar aos anteriores, porém de forma mais direta e com menos efeitos colaterais
Também podem ser utilizadas outras substâncias em associação, como vasodilatadores diretos e o simpatolítico de ação central, mais indicado para grávidas. Nas emergências hipertensivas, são usados injetáveis de ação rápida, como o nitroprussionato e o labetalol.
O uso dos medicamentos é determinado de acordo com o perfil do paciente e a presença de outras doenças. Muitos deles são oferecidos gratuitamente pelo SUS (Sistema Único de Saúde).
O tratamento é para a vida toda e, quando não surte o efeito desejado, as doses devem ser aumentadas e outros fármacos podem ser associados. Os efeitos colaterais variam, mas podem incluir tontura, hipotensão (pressão baixa), náusea e fadiga, entre outros.
Tem cura?
A hipertensão primária não tem cura, por isso o tratamento deve ser permanente, a fim de se evitar complicações.
Hipertensão na gravidez
A pressão alta nas gestantes está associada a complicações graves, com risco para a mãe e para o bebê. Nos países em desenvolvimento, a hipertensão gestacional está entre as principais causas de mortalidade materna. Por isso o acompanhamento no pré-natal é fundamental. Manter o peso, fazer caminhadas e cuidar da dieta são as recomendações para os casos leves; já nos moderados ou graves é preciso usar medicamentos.
Criança pode ter?
À medida que o sedentarismo e a obesidade avançam entre crianças e adolescentes, a hipertensão passa a ser uma ameaça também para essa população, que antigamente só tinha pressão alta secundária a outras condições, como doenças renais. Os valores de referência são mais baixos quanto menor a criança.
Estudos indicam que a prevalência varia de 1% a 13% nesse grupo, dependendo da metodologia empregada. "Observa-se que em crianças menores de 6 anos de idade a hipertensão arterial tem maior chance de ser secundária", relata a cardiologista pediátrica Cristiane Gomes, do Centro Pediátrico da Lagoa, do Grupo Prontobaby, no Rio de Janeiro. Ela explica que o tratamento pode incluir medicamentos, mas o principal é eliminar os fatores de risco, como a obesidade infantil.
Como se ajudar?
- Pratique atividade física, de preferência exercícios aeróbicos (como caminhadas, natação e bicicleta), ao menos cinco vezes por semana
- Se estiver acima do peso, emagreça
- Tenha uma alimentação saudável, com menos produtos industrializados e mais frutas, verduras e legumes
- Use alho, cebola, ervas e limão para temperar a comida, evitando o sal de mesa
- Modere ou evite o consumo de álcool
- Não fume
- Durma bem; quem dorme mal tende a ter a pressão mais alta
- Nunca interrompa o tratamento sem conversar com o médico
- Meça a pressão em casa, seguindo as orientações do profissional de saúde (por exemplo: esteja em repouso, sentado, com o braço apoiado, de bexiga vazia, sem ansiedade etc.) e usando um aparelho regulado. Se não tiver histórico de pressão alta, faça isso pelo menos uma vez por ano. Se houver casos na família, a medição deve ser feita duas vezes por ano, segundo o Ministério da Saúde.
- Saiba que mesmo tomando remédio diariamente a pressão pode sair do controle, por isso o acompanhamento médico é imprescindível
- Procure formas de aliviar o estresse e a raiva, como técnicas de relaxamento, hobbies, meditação, massagens, psicoterapia
- Cultive a família, os amigos e o lazer
Como ajudar quem tem?
Quando há uma pessoa hipertensa na casa, é importante que a família toda mude seus hábitos. Incentivar a atividade física e eliminar da cozinha salgadinhos, embutidos, temperos prontos e outros alimentos prejudiciais são medidas que beneficiam todo mundo. "A mão que faz a comida precisa colocar amor e não sal; isso vale para quem cozinha e também para quem vende alimentos", opina Fernando Costa. "Os órgãos públicos precisam abraçar essa causa", enfatiza.
Fontes: Cristiane Gomes, cardiologista pediátrica do Centro Pediátrico da Lagoa/Grupo Prontobaby); Fernando Costa, cardiologista da Sociedade Brasileira de Cardiologia; Associação Americana do Coração (AHA); Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC/EUA); Ministério da Saúde e Sociedade Brasileira de Hipertensão.
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