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Traços culturais afetam a maneira como você caminha, diz estudo

amriphoto/IStock
Imagem: amriphoto/IStock

Gretchen Reynolds

Do New York Times

26/09/2018 09h38

As pessoas se locomovem de formas distintas ao caminhar em grupo do que quando andam sozinhas. E seus estilos de caminhada é especialmente distinto ao acompanhar crianças, segundo um novo estudo intercultural com pedestres de várias nações.

Também mostrando que os homens caminham de forma diferente com homens e mulheres e que algumas culturas podem promover a velocidade do caminhar contra a sociabilidade, o estudo destaca que nossa maneira de se deslocar não depende unicamente da fisiologia ou da biomecânica.

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Ela também é influenciada de forma surpreendente pelo local onde crescemos e com quem estamos.

Caminhar é a mais comum atividade física da espécie humana – e, também, de muitas outras espécies. Ela nos leva à comida, ao trabalho, aos amigos e colabora com a boa forma física.

Além disso, é tão complicada mecânica e energeticamente que, se tivéssemos de pensar em nosso caminhar durante cada etapa envolvida, talvez nunca mais voltássemos a nos mexer.

Diante dessa complexidade, cientistas que estudam exercícios se interessam há muito tempo em como damos conta das exigências físicas do caminhar. Em estudos laboratoriais, eles determinaram que todos nós temos um ritmo particular no qual somos mais eficientes em termos biológicos, isto é, no qual gastamos menos energia.

Teoricamente, seria o ritmo adotado naturalmente quando caminhamos.

Contudo, outros estudos e observações realizados no mundo real indicam que as pessoas raramente perambulam no ritmo mais eficaz. Obstáculos como multidões, postes e questões de cronograma afetam a velocidade da caminhada.

Contudo, mesmo em caminhos sem pedestres, as pessoas costumam escolher uma velocidade mais lenta ou mais rápida que o ideal fisiológico. Os homens, por exemplo, costumam reduzir o ritmo natural ao caminhar com mulheres que são seu par romântico, conforme atestam estudos anteriores, mas aceleram a cadência ao andar com outros homens.

Porém, tais estudos foram realizados nos Estados Unidos ou na Europa.

Há pouco tempo, Cara Wall-Scheffler, professora de biologia da Universidade Seattle Pacific, antiga interessada nas diferenças com que homens e mulheres se movimentam, começou a se perguntar até que ponto esses efeitos interpessoais no ritmo do caminhar também podem ser culturais.

Assim, para o novo estudo, publicado neste mês em "PeerJ – Life and Environment", ela e Leah Bouterse, sua aluna de graduação, decidiram montar testes iguais em dois lugares com formas de vidas marcadamente diferentes.

Uma escolha recaiu sobre Seattle, a outra, Mukono, cidade no centro de Uganda, onde Bouterse passou um semestre.

Em cada cidade, elas procuraram um caminho próximo a um grande centro de compras, onde as pessoas costumassem caminhar entre as lojas e outras atrações. As pesquisadoras identificaram marcos permanentes no trajeto, tais como placas de rua, localizados a uma distância aproximada de nove metros.

A seguir, Bouterse se posicionou perto de cada caminho e simplesmente cronometrou mais de 1.700 pessoas enquanto caminhavam pela seção demarcada e as identificou em uma lista de controle por gênero, idade aproximada, possíveis cargas que carregavam e com quem passeavam, caso estivessem acompanhadas, inclusive crianças; ela se concentrava no transeunte mais próximo enquanto um grupo passava. As pesquisadoras não incluíram pessoas que nitidamente caminhavam para fazer exercício.

Por fim, compararam os resultados das duas cidades.

No fim das contas, os ugandeses caminhavam muito mais rápido que as pessoas de Seattle quando estavam sozinhas, com o ritmo, em média, 11 por cento mais veloz do que o de pedestres desacompanhados nos Estados Unidos.

Contudo, eram mais lentos em grupos. Homens e mulheres de Mukono se deslocavam a um ritmo mais de lazer quando estavam acompanhados, principalmente de crianças. Neste caso, seu ritmo era quase 16 por cento mais lento do que quando sozinhos, quer carregassem ou andassem ao lado dos pequenos.

Já em Seattle vale o contrário. Nela, os transeuntes aceleravam quando caminhavam acompanhadas. Os homens demonstravam particularmente pressa ao andar com outros homens, mas homens e mulheres aceleravam o ritmo caso estivessem com crianças. A velocidade média quando carregavam ou acompanhavam crianças era quase 20 por cento maior do que quando perambulavam sozinhas.

Esse foi um estudo observacional; as pesquisadoras não entrevistaram os caminhantes, então é impossível saber a motivação de seus deslocamentos.

Entretanto, Wall-Scheffler tem teorias.

"Parece plausível que as pessoas em Uganda usem o tempo, quando andam em grupos, para socializar e formar laços", especialmente com crianças. Assim, se deslocam lentamente.

Já nos EUA, "se as crianças estão com você, a caminhada parece se concentrar em uma tarefa. É preciso fazer alguma coisa. Você tem pressa".

Ao mesmo tempo, homens nos Estados Unidos parecem ter um traço competitivo que pode levá-los a acelerar na presença de outros homens, mas isso não motiva os ugandeses da mesma forma.

Wall-Scheffler e seus estudantes esperam realizar estudos de acompanhamento que incluam entrevistas para compreender melhor por que as pessoas andam de determinada maneira.

Todavia, a principal lição da pesquisa é que caminhar não é tão simples quanto parece.

"Andar envolve mais do que massa, velocidade e coordenação física", afirma Wall-Scheffler.

Caminhar também envolve atitudes pessoais e culturais, cuja consciência pode nos permitir reconsiderar ou ajustar nosso comportamento, para que, talvez da próxima vez que estivermos acompanhando filhos ou amigos, ajustaremos o passo com o deles e nos moveremos em sincronia.

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