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Doença cardíaca: histórico familiar importa mesmo para pessoas saudáveis

Halfpoint/IStock
Imagem: Halfpoint/IStock

Do New York Times

27/09/2018 09h00

Esta é a história da cirurgia de ponte de safena coronária do meu irmão. Ela tem três alertas de importância crítica:

1. Não presuma que suas artérias coronárias estejam em ótimas condições porque seus "números" são bons, porque está tomando os remédios receitados para mantê-los assim, por estar em boa forma física, fazer esportes e ter uma vida saudável em termos cardíacos.

2. Não ignore nem despreze sintomas potenciais de desconforto coronário imaginando que sejam dor muscular, excesso de estresse ou azia.

3. Pode ser que você precise de uma cirurgia para consertar o dano oculto; certifique-se de escolher um cirurgião de primeira que use as técnicas mais eficazes, atualizadas e que opere em um hospital com excelente unidade de tratamento coronariano.

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Meu irmão, Jeffrey Brody, é um advogado de 73 anos. Compartilhamos um histórico familiar de doença cardíaca na meia-idade: nosso pai, nosso avô paterno e um tio-avô tiveram ataques cardíacos após os 50 anos e todos morreram de doença coronária até os 71 anos.

Jeff prestava atenção, até certo ponto. Ele é magro, faz atividade física e toma medicação para ajudar a manter a pressão e o colesterol em níveis normais.

O que ele não fez quando deveria ter feito era determinar a causa de episódios de desconforto periódicos no tórax que duravam um mês. Nem percebeu que estava ficando sem fôlego após um esforço mínimo. Contudo, como o desconforto no peito persistia e as pessoas observavam a falta de fôlego, após seis meses ele finalmente consultou um médico, Douglas Heller, em Kingston, Nova York, que imediatamente fez um eletrocardiograma.

O exame, feito durante repouso, não mostrou anormalidades cardíacas. "Mas baseado nos seus sintomas, faça um teste ergométrico", Heller disse ao meu irmão. Ele encaminhou Jeff a um cardiologista de ponta em Kingston, dr. Ali Hammoud, que fez um ecocardiograma que usa ultrassom não invasivo em vez de contraste radioativo para avaliar a função cardíaca antes e depois de esforço em uma esteira ergométrica.

O exame mostrou que a função cardíaca de Jeff estava levemente anormal em repouso e nitidamente anormal com exercício. Hammoud solicitou uma angiografia que revelou bloqueio de 80 por cento na artéria coronária esquerda, a execrável "produtora de viúvas", além de um bloqueio em outra artéria. Ele foi levado de ambulância ao Hospital Vassar Brothers, em Poughkeepsie, onde se encontrou com o dr. Jason Sperling, cirurgião cardiovascular com credenciais soberbas.

Hammoud e Sperling recomendaram uma cirurgia de ponte em vez da solução bem mais simples de inserir um "stent" para abrir a artéria entupida.

"Um 'stent' poderia ser usado e funciona para alguns pacientes com bloqueios na artéria esquerda principal", diz Sperling. Ele acrescentou, no entanto, que sua abordagem cirúrgica, usando as artérias torácicas internas para as pontes de que Jeff precisava, estava associada a uma maior sobrevivência em longo prazo e "deveria ser uma solução para o resto da vida".

Embora a maioria dos cirurgiões cardíacos use veias para fazer as pontes que contornam os bloqueios arteriais, Sperling explicou que elas também podem vir a ficar entupidas. Já as artérias torácicas "parecem ser imunes ao acúmulo aterosclerótico". Os "stents", por sua vez, mesmo as versões com medicação mais recentes, não duram para sempre.

Na maioria das cirurgias de ponte de safena, os ossos e músculos da parede torácica são separados para permitir acesso à anatomia cardiovascular. Quando as artérias torácicas são utilizadas como enxertos, elas podem ser coletadas pela mesma incisão, enquanto as veias teriam de ser tiradas de outro lugar, geralmente das pernas. Nos dois casos, trechos das artérias "doadas" são costuradas às artérias danificadas para criar pontes que contornam as obstruções.

Felizmente, Jeff teve uma boa cirurgia e, após um cuidado pós-operatório exemplar no Hospital Vassar Brothers, foi enviado para a casa em quatro dias com instruções de aumentar gradualmente a atividade física e não levantar mais do que dois quilos para que os ossos do peito voltassem a se colar.

Embora nem sempre um problema na artéria coronária cause sintomas, eles não devem ser ignorados e, sim, mencionados imediatamente ao médico. Os sintomas podem incluir: fadiga incomum, resistência menor durante a atividade física, falta de fôlego, dor no peito ou desconforto após exercício, tontura, palpitações, dor inexplicada do braço ou queixo e indigestão que não passa após tomar antiácidos.

Quando meu irmão viu Heller, o médico internista, ficou feliz que este não disse apenas que estava tudo bem porque o eletrocardiograma não mostrou nada anormal. Em vez disso, encaminhou-o ao cardiologista, Hammoud, para novos exames.

"Quando uma pessoa de 73 anos em boa forma física com histórico familiar de doença cardíaca relata vários episódios de dor no peito após esforço, não se pode esperar", diz Heller.

Hammoud diz que a decisão de enviar Jeff para a cirurgia foi apoiada pelos médicos responsáveis pela colocação do "stent". Eles analisaram a angiografia e concordaram que a cirurgia de ponte de safena era a melhor opção diante da severidade do bloqueio da artéria esquerda principal, do grau da doença e, tirando isso, sua boa saúde, explica Hammoud.

A artéria esquerda principal fornece sangue a dois terços do coração e, caso fique totalmente obstruída, o paciente geralmente morre sem intervenção médica imediata. Quando existe um bloqueio de 80 por cento, o fechamento completo pode acontecer a qualquer momento se um pequeno coágulo ou pedaço de placa preencher a abertura remanescente nessa artéria.

Mesmo assim, a cirurgia, ainda mais a cardíaca, não é moleza, então é importante analisar os benefícios, riscos e questões de recuperação com o cirurgião e, se possível, o médico do paciente e familiares antes de se tomar uma decisão.

Entre os riscos cirúrgicos de curto prazo estão ataque cardíaco, AVC, problemas renais e morte, que costumam ocorrer em pessoas que, ao contrário de Jeff, estavam em pior forma física. O índice de mortalidade é de aproximadamente um em 200.

Quando disseram a Jeff que a cirurgia lhe daria mais 20 anos com um coração saudável, ele decidiu que valia a pena enfrentar três horas de cirurgia e quatro a seis semanas de recuperação pós-operatória, incluindo a proibição de dirigir.

Ele agora se dedica a uma dieta cardíaca saudável sem a inclusão de sais, muitos legumes, peixe e frango sem pele, quase nenhuma carne e gordura saturada. Em sua despensa não existem mais manteiga, queijo, sorvete e tortas e bolos comprados em lojas. Rótulos com ingredientes e informação nutricional são consultados assiduamente antes da compra de qualquer alimento embalado.

Duas semanas após a cirurgia, ele começou a trabalhar com os casos jurídicos acumulados. Espera retornar em breve à quadra de tênis, ao julgamento de processos e a carregar madeira para ajudar a aquecer a casa quando neva.

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