Diabetes: praticar exercício físico é tão importante quanto medicamento
Embora o diabetes geralmente seja associado apenas ao tratamento medicamentoso e à mudança dos hábitos alimentares, a prática de atividades físicas também deve ser considerada um tipo de terapia para a doença. "O exercício é tão obrigatório quanto tomar remédio", diz João Salles, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Diabetes e professor da Faculdade de Medicina da Santa Casa, de São Paulo.
O endocrinologista comparou os cuidados da doença a uma cadeira, na qual cada pé tem sua devida importância: o tratamento, a educação do diabetes, a reeducação alimentar e o exercício físico. "Infelizmente, hoje essa cadeira não se mantém em pé no Brasil. As pessoas precisam entender que são necessários pelo menos três desses itens para conviver com a condição, e quatro deles para viver confortável com ela", explica o médico.
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Insulina natural
A prática de exercício físico melhora o controle metabólico tanto do diabetes tipo 1 quanto do tipo 2. Isso porque a atividade expõe a célula muscular a um trabalho e automaticamente essa célula começa a captar glicose independentemente de insulina. "O diabetes é a falta da insulina, mas quando você a repõe, a glicose cai. A diferença aqui é que o exercício faz a glicose cair sozinha", conta Salles.
O ideal é seguir a recomendação da OMS (Organização Mundial da Saúde): fazer 150 minutos de exercício por semana. Mas não pense que, para atingir essa meta, basta caminhar 30 minutos por dia. De acordo com o endocrinologista, é preciso realizar treinos aeróbicos, como corrida e natação, e anaeróbicos, como a musculação. "Enquanto o aeróbico queima aquela glicose que está em excesso, tendo uma ação mais curta, o resistido melhora a massa muscular como um todo, que é justamente onde o corpo pega a glicose. Nesse caso, o resultado é mais duradouro."
Segundo Marco Petti, diretor médico e chefe de pesquisa clínica da Novo Nordisk, movimentar-se também diminui o tecido gorduroso periférico, que está associado ao aumento da resistência à insulina, ou seja, o controle da doença se torna melhor. "O impacto da atividade física na terapia é nítida. Nós acompanhamos um time de ciclistas com diabetes tipo 1. Para se ter uma ideia, no dia em que eles pedalam, chegam a usar uma aplicação de insulina por dia, quando em um dia normal usam cinco", conta ele.
Riscos e cuidados
Por causa do tratamento com a insulina, quem tem a diabetes deve tomar cuidado ao praticar atividades físicas. "Alguns tipos de insulina têm picos, o que aumenta os riscos de hipoglicemia. Como o músculo queima a glicose na hora do exercício, se o paciente aplicar uma injeção, vai sofrer uma hipo", explica Salles.
É por esse motivo que é preciso fazer uma consulta com um médico antes de começar a se mexer, para saber quando e onde tomar -- injeções na barriga podem diminuir os riscos de hipo, já que a glicose demora mais para ser absorvida do que quando é aplicada na perna-- ou se deve se alimentar de outra forma antes do treino, como comer um carboidrato.
"Depende muito de cada caso, mas isso não deve impedir ninguém de sair do sofá", garante o médico. "O problema maior é não se exercitar."
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