Resultados de testes genéticos podem mudar com o tempo
Enquanto o genoma de uma pessoa não muda, a pesquisa que mostra a ligação de certos pedaços específicos de DNA a doenças está em constante fluxo. Geneticistas e laboratórios de testes recebem constantemente novas informações que os levam a reavaliar mutações genéticas.
Como resultado, uma mutação vista como benigna hoje pode ser considerada perigosa amanhã. E vice-versa. Mas não há uma boa maneira de essas novas informações chegarem a médicos e pacientes.
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O resultado: o teste genético que você fez há alguns anos pode oferecer dados surpreendentemente diferentes agora.
O problema afeta uma minoria dos pacientes, em geral pessoas com mutações incomuns. As mutações causadoras de doenças mais comuns – como aquelas que predispõem ao câncer de mama ou cólon – são tão bem estudadas que não há muitas dúvidas acerca delas.
Em um estudo recente, pesquisadores da Myriad Genetics, uma empresa de diagnóstico, analisou dados de 1,45 milhão de pacientes que fizeram testes genéticos entre 2006 a 2016 para ver se os resultados originalmente relatados ainda eram verdadeiros.
O laboratório emitiu novos relatórios para quase 60 mil deles, significando que os resultados antigos haviam sido superados por dados mais novos.
Mas muitos pacientes que carregam mutações reclassificadas permanecem no escuro. "O sistema é completamente caótico", disse a Dra. Sharon E. Plon, geneticista clínica da Faculdade de Medicina Baylor.
Ela contou que não houve nenhuma medida sistemática para dizer aos pacientes e médicos que uma mutação que já foi tida como inofensiva agora mostra um risco à saúde, ou o contrário, algo que era considerado perigoso hoje é tido como benigno.
"Alguns laboratórios relatam os resultados apenas uma vez", disse a Dra. Theodora Ross, diretora do programa de genética do câncer do Centro Médico Southwestern da Universidade do Texas. "Eles não irão reavaliar as interpretações de testes de 10 anos atrás, a menos que os médicos peçam".
Mas, acrescentou, os médicos raramente pedem.
Normalmente, um médico aconselha testes genéticos para uma pessoa com uma história familiar forte de, digamos, ataques cardíacos, derrames ou câncer. Uma amostra do sangue ou da saliva do paciente é enviada a um laboratório, onde o DNA do paciente é examinado para encontrar alterações incomuns.
Nem todas são prejudiciais. O laboratório compara as mutações às que aparecem em estudos científicos que causam a doença.
Alguns pacientes são informados de que têm uma mutação que é insignificante. Outros descobrem que têm "uma variação de significado desconhecido" em um gene suspeito – o que significa que ninguém sabe muito bem o que é.
Ainda outros pacientes têm uma mutação considerada perigosa, indicando que há um risco muito elevado de desenvolvimento de câncer, doença cardíaca ou outra condição. Para esses pacientes, tal resultado pode significar exames regulares e pode alterar uma série de decisões de vida, incluindo ter ou não filhos.
A reclassificação é um problema particular para membros de minorias étnicas e raciais – populações cujos genes não foram tão bem estudados quanto os genes de pessoas brancas. Pode ser difícil saber o que uma variação no DNA significa para esses pacientes.
Um banco de dados federal, o ClinVar, permite que os laboratórios compartilhem publicamente dados sobre mutações genéticas e o que pensam significar. Mas algumas empresas, como a Myriad, que hospedam enormes bases de dados sobre mutações genéticas, não contribuem com o ClinVar.
Mesmo a terminologia para variantes de DNA pode não ser amplamente compartilhada. Laboratórios diferentes têm esquemas de nomenclatura diferentes.
Por exemplo, o ClinVar processa uma variante de DNA desta forma:
NM_004004.5 (GJB2): c. 101T > C (p. Met34Thr).
Mas outro laboratório faz assim:
c. 101T > C, p. Met34Thr, GJB2.
Pacientes que buscam informações por conta própria "não teriam certeza de como iniciar uma busca no ClinVar", disse a Dra. Heidi Rehm, geneticista clínica do Hospital Geral de Massachusetts e do Instituto Broad.
Além do problema terminológico, disse Ross, há um problema de discordância entre os laboratórios.
Quando um grande laboratório "relata uma reclassificação e os outros não, e você tem membros da família que se testam em laboratórios diferentes, temos diferentes interpretações dos mesmos dados do paciente. Como lidamos com isso? O que dizemos aos nossos pacientes?", questionou Ross.
Laboratórios como o Myriad muitas vezes notificam um médico que solicitou um teste genético quando os resultados são reclassificados. Mas mesmo quando fazem isso, os médicos podem não ter como chegar aos pacientes e informá-los.
"Eu mudei de endereço ao longo dos anos e meus pacientes também. Recebi atualizações de relatórios de pacientes que não vivem mais em Houston e não temos ideia de onde estejam agora", disse Plon.
Alguns geneticistas dizem que o peso dos resultados atualizados vai cair sobre aqueles pacientes cujas alterações genéticas são raras. Eles terão que entrar em contato com seus médicos ou conselheiros genéticos anualmente para perguntar se houve uma reclassificação.
E isso nem sempre é uma boa notícia.
Dr. Jason Park, diretor clínico do laboratório de diagnósticos avançados no Children's Medical Center, em Dallas, disse que chegou a dizer aos pais de crianças com epilepsia grave que uma mutação genética que se pensava ser a causa da doença, na verdade, era uma mudança benigna.
A reclassificação pode não alterar o tratamento, pois muitas vezes não há o que fazer especificamente para uma mutação que, acredita-se, possa causar epilepsia severa. Mas agora os pais que pensavam ter descoberto a causa da doença de seu filho, veem que, em vez disso, a causa continua desconhecida.
"Para as famílias isso pode ser uma questão importante. Há grupos de apoio centrados em torno de certos genes. Agora não fazem mais parte desse grupo", Park disse.
Mas para alguns, como Ricky Garrison, bombeiro de 61 anos que mora em Denton, Texas, a reclassificação pode ser salvadora.
Por conta do crescimento de uma verruga no nariz, ele foi a um médico, há dois anos. O laboratório que examinou a biopsia do tecido notou algumas mudanças incomuns em proteínas ligadas à síndrome de Lynch, uma condição que aumenta consideravelmente o risco de desenvolver uma variedade de cânceres.
Então, foi encaminhado para Ross e sua equipe, que enviou seu sangue para o Invitae para testar mutações em genes de Lynch.
Os resultados: Garrison tinha uma "variante de significado desconhecido". E seu diagnóstico foi confuso: "Algo como síndrome de Lynch". Isso significava que talvez ele tivesse a síndrome, ou talvez não.
Os médicos disseram que ele deveria realizar colonoscopias, endoscopias e exames de pele anuais. Mas já que seu caso não era uma mutação definitivamente ligada à síndrome de Lynch, seus familiares – ele tem cinco filhos – não fizeram testes para ver se tinham herdado tal condição.
"Nenhum laboratório razoável testaria uma família inteira para uma variação de significado desconhecido", disse Ross. Em vez disso, os membros da família foram informados que seria melhor assumir que tinham Síndrome de Lynch e realizar exames rotineiros.
Em junho, no entanto, o laboratório de testes contatou Ross com novas notícias. A mutação de Garrison já não era de "significado desconhecido". A pesquisa em outros pacientes mostrou ligação à síndrome de Lynch.
Tudo mudou. Seus filhos e parentes diretos devem fazer testes sobre a mutação e ele deve ser monitorado constantemente.
Por conta disso, mudou seus planos de aposentadoria, porque se preocupa com o custo do seguro de saúde para alguém com síndrome de Lynch. Em vez disso, vai manter seu emprego como bombeiro, que garante um seguro, e esperar os 65 anos para se aposentar e obter o Medicare.
"O câncer provavelmente vai me pegar no final. Mas porque sei disso, provavelmente vou ter mais alguns bons anos", disse ele.
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