Será que seu mau-humor pode ser um tipo de depressão?
Mau humor, fadiga, irritabilidade e insatisfação são sintomas comuns que podem nascer em fases difíceis da vida. Quem nunca? Porém, se você convive com eles constantemente --sabe a impressão de ter uma nuvem negra sobre a cabeça? -- e acha que não há nada que possa ser feito para mudar, é importante buscar orientação médica, pois pode ser algo mais grave.
A distimia, popularmente conhecida como doença do mau humor, é classificada como um tipo de depressão --na verdade, um transtorno depressivo persistente. "Estar sempre ranzinza é um dos sintomas, mas não garante o diagnóstico da doença", conta o psiquiatra Fernando Fernandes, pesquisador do Programa de Transtornos do Humor do IPq - Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas, em São Paulo. Mas, de acordo com o especialista, é normal sentir tristeza e oscilações de humor em diversos momentos.
A permanência dessa nuvem sobre a cabeça, porém, pode ser um sinal de alerta. "O diagnóstico envolve a avaliação de uma série de outros sintomas, como alterações no apetite e no sono, dificuldade de concentração, ansiedade, angústia, baixa autoestima, falta de energia e cansaço", descreve o psiquiatra.
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Doença ou personalidade ranzinza?
Ainda assim, é comum a distimia demorar para ser diagnosticada porque se confunde com uma característica de personalidade. "Por isso, se o mau humor estende-se há mais de um ano e ocorre sem um motivo específico, é importante tratar", avisa a psicóloga Marina Vasconcellos.
Fique atento, principalmente, se este estado de espírito provoca sofrimento intenso e leva a atitudes ranzinzas, capazes de atrapalhar relacionamentos. O sentimento crônico pode desencadear prejuízos que vão se acumulando. "Trata-se de uma doença incapacitante, que interfere diretamente nas relações sociais. Pacientes que mantêm sintomas depressivos crônicos ao longo da vida acabam tendo menor escolaridade, menor renda e se casam menos. Ou seja, todas as áreas da vida são afetadas", alerta.
Como tratar?
Por isso, quem convive com a pessoa mal-humorada pode perceber o distúrbio e incentivá-la a buscar ajuda. O tratamento é realizado com antidepressivos e psicoterapia. "Muitas vezes, é indicado uma terapia familiar, pois pode ser que a doença já tenha desgastado os relacionamentos. Quem convive com alguém com distimia pode considerá-lo chato, rabugento ou desanimado sem saber que há um transtorno em questão, que precisa ser revisto e recuperado", observa a psiquiatra Sonia Palma, vice-presidente do Conselho Científico da Associação Brasileira de Familiares Amigos e Portadores de Transtornos Afetivos (Abrata).
De acordo com Palma, a prevalência dessa doença varia entre 3% e 6% da população geral, lembrando que a dificuldade no diagnóstico pode interferir nesse número. É duas vezes mais comum em mulheres e em pessoas solteiras. "Quase metade dos pacientes não são diagnosticados com distimia e, com o passar do tempo, fica difícil identificar o início da doença", destaca. Sem o tratamento adequado, o quadro pode evoluir com episódios depressivos mais intensos.
Para Vasconcellos, é fundamental que o paciente queira mudar. "A melhora nem sempre é rápida, mas é preciso ter disposição para alterar seu posicionamento na vida e experimentar novas formas de agir", diz. Já o psiquiatra Fernandes alerta que, independentemente de uma possível evolução da doença, vale aproveitar todas as chances de tentar se livrar da doença. Esse, talvez, seja o melhor argumento para convencer alguém sempre 'de mal com a vida' a buscar ajuda.
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