Leucemia: febre, anemia e manchas roxas pelo corpo são sintomas do problema
Entenda se a leucemia tem cura e quais os possíveis tratamentos
A leucemia é um tipo de câncer que afeta o sangue ou, para ser mais específico, os leucócitos, também chamados de glóbulos brancos, responsáveis pela defesa do nosso organismo contra infecções. Atualmente, é o 9º tipo de câncer mais comum entre homens e o 11º entre as mulheres no Brasil. É também o tipo mais frequente em crianças e adolescentes.
Segundo estimativas do Instituto Nacional de Câncer (Inca), são estimados cerca de 10.800 novos casos de leucemia por ano, e cerca de 6.300 mortes em decorrência da doença.
Onde surge o câncer
As células do nosso sangue são produzidas na medula óssea, um líquido gelatinoso que fica na parte interna e central dos ossos, popularmente chamado de tutano. Existem três tipos de células:
- Hemácias, ou glóbulos vermelhos (contêm hemoglobina, que carrega oxigênio para o corpo);
- Leucócitos, ou glóbulos brancos (protegem o corpo contra infecções e estruturas estranhas);
- Plaquetas (responsáveis pela coagulação, evitam hemorragias).
A leucemia é uma doença dos leucócitos. Suas células progenitoras, dentro da medula óssea, sofrem uma mutação, ou seja, uma alteração no seu DNA, e se transformam em células doentes (blastos), que passam a se multiplicar de forma anormal.
Existem diferentes tipos de leucócitos, com funções diferentes no sistema imunológico:
- Linfócitos (se dividem principalmente em linfócitos B e as células T);
- Granulócitos (há três tipos: neutrófilos, basófilos e eosinófilos);
- Monócitos.
Os neutrófilos, basófilos, eosinófilos e monócitos surgem a partir de células-tronco mieloides. Já os linfócitos se originam a partir de células-tronco linfoides.
Sintomas da leucemia
Além de favorecer infecções, o excesso de leucócitos doentes também compromete a produção dos glóbulos vermelhos, o que pode resultar em anemia, e de plaquetas, resultando em hematomas ou sangramentos. Assim, os sintomas mais comuns da leucemia são:
- Febres de causa não explicada;
- Infecções;
- Anemia (palidez, cansaço, fraqueza ou tontura);
- Sangramentos (por ex: no nariz ou nas gengivas);
- Manchas roxas ou pontos vermelhos na pele;
- Dor óssea;
- Aumento dos gânglios linfáticos, baço e fígado.
Se a doença afetar o Sistema Nervoso Central, podem surgir dores de cabeça, náuseas, vômitos, visão dupla e desorientação.
VEJA TAMBÉM
- Minha anemia pode virar leucemia?
- Mesmo com leucemia, ele decidiu deixar o hospital para dançar com sua filha
- Vale a pena armazenar células-tronco do cordão umbilical?
Tipos de leucemia
De acordo com a evolução, a doença pode ser aguda (quando a multiplicação de células anormais é muito rápida e os sintomas se agravam rápido) ou crônica (quando a multiplicação não é tão rápida e os sintomas se agravam gradualmente). Esta última é mais comum em adultos.
Além disso, quando as células linfoides é que são afetadas, as leucemias podem ser chamadas de linfoide, linfocítica ou linfoblástica. Já quando as células mieloides é que estão doentes, as leucemias são chamadas de mieloide ou mieloblástica.
Veja, a seguir, os tipos de leucemia mais comuns, suas características e prevalência:
- Leucemia linfoide aguda (LLA): mais comum em crianças e adolescentes (cerca de 70% dos casos são em pediatria). Os leucócitos alterados são os linfócitos, chamados de linfoblastos. Sua multiplicação desordenada é rápida e compromete todas a produção de células sanguíneas, por isso é importante que o diagnóstico seja rápido. Os sintomas também podem incluir dores de cabeça e vômitos. A boa notícia é que 90% das crianças em tratamento são curadas. Entre os adultos com a doença, o que é menos comum, cerca de 50% entram em remissão completa.
- Leucemia linfoide crônica (LLC): não acomete crianças e adolescentes, e é mais comum após os 50 anos. Os leucócitos alterados são os linfoblastos, mas sua multiplicação desordenada é lenta e não costuma afetar a produção de células normais. A maior parte dos casos afeta os linfócitos B, mas há subtipos mais raros que podem afetar também os linfócitos T (leucemia prolinfocítica ou linfocítica granular) ou as células pilosas (tricoleucemia).
- Leucemia mieloide aguda (LMA): pode ocorrer em qualquer idade, mas é mais comum a partir dos 65 anos. Cerca de 25% dos casos são em crianças e adolescentes. Os leucócitos alterados são os granulócitos, chamados de mieloblastos. Sua multiplicação desordenada é rápida. Sangramentos persistentes podem ser um sintoma comum. Pacientes com mielodisplasia, mielofibrose e leucemia mieloide crônica têm mais risco de desenvolver a doença, bem como pacientes com doenças raras como a anemia de Fanconi. Existem 9 subtipos de LMA.
- Leucemia mieloide crônica (LMC): mais comum após os 50 anos; apenas 5% dos casos são em crianças e adolescentes. Os leucócitos alterados são os granulócitos, chamados de mieloblastos. Sua multiplicação desordenada é lenta. A diferença da LMC em relação às outras leucemias é a presença de uma anormalidade genética nos glóbulos brancos, denominada cromossomo Philadelphia (Ph+). Mesmo assim, não se trata de uma doença hereditária. Hoje, mais de 70% dos pacientes entram em remissão completa após tratamento.
Ainda existem outros tipos menos frequentes, como a leucemia mielomonocítica crônica (LMMC), mais comum após os 60 anos, e a leucemia bifenotípica (LAB).
Causas da leucemia
Ainda não se sabe quais as causas das leucemias, apenas os fatores de risco. De qualquer forma, sabe-se que as mutações que resultam nesse tipo de câncer não são hereditárias, ou seja, elas são adquiridas ao longo da vida.
Fatores de risco
Alguns dos fatores de risco abaixo já foram associados a determinados tipos de leucemia:
- Tabagismo;
- Exposição à radiação (por ex: radioterapia, raios X);
- Tratamento prévio com quimioterápicos;
- Doenças hereditárias como síndrome de Down, síndrome de Bloom, ataxia, telangiectásica, neurofibromatose e anemia de Fanconi;
- Doenças do sangue, como policitemia vera, trombocitopenia essencial e mielofibrose idiopática;
- Exposição ao benzeno (solvente encontrado na fumaça do cigarro, na gasolina e largamente utilizado na indústria química).
Diagnóstico
A suspeita é através da história clínica e do exame físico do paciente. O diagnóstico é feito com exames de sangue (como o hemograma) e confirmado com exames da medula óssea (mielograma, imunofenotipagem, estudo genético/cariótipo). Outros exames, como líquor (coleta do líquido da espinha), ultrassom e radiografia de tórax podem ser solicitados para avaliar a extensão da doença. Testes moleculares também ajudam no diagnóstico e na definição das terapias mais indicadas para cada caso.
Leucemia tem cura?
"Cerca de 80% das crianças são curadas com quimioterapia ou transplante de medula óssea. Em adultos este número é menor. No entanto, uma boa parte dos casos é curada com procedimentos intensivos, como o transplante de medula óssea", afirma Nelson Hamerschlak, coordenador de Hematologia do Hospital Israelita Albert Einstein e membro do comitê médico da Associação Brasileira de Linfoma e Leucemia (Abrale)..
Tratamentos
Para cada tipo de leucemia existem abordagens específicas, mas, em linhas gerais, o objetivo é destruir as células doentes para que a medula óssea volte a produzir células normais, ao mesmo tempo em que as complicações da doença são controladas. Nos últimos anos foram obtidos grandes avanços com a quimioterapia, os transplantes de medula óssea e as terapias-alvo. "Recentemente a terapia com células geneticamente modificadas, imunoterapia e anticorpos bi-específicos acrescentam chances inéditas ao atendimento de pacientes portadores de leucemia", conta Hamerschlak.
- Quimioterapia: costuma ser a principal forma de tratamento; grandes avanços para se obter a cura foram alcançados com a associação de medicamentos (poliquimioterapia). A administração é realizada em ciclos e os efeitos colaterais envolvem enjoo, diarreia, alteração no paladar, boca seca e queda de cabelo, entre outros.
- Medicamentos de suporte: para minimizar o surgimento de infecções e os efeitos colaterais da quimioterapia é comum a prescrição de antivirais, antibióticos, antifúngicos e anti-inflamatórios.
- Radioterapia: o uso de raios de alta energia para destruir células cancerígenas é pouco comum na leucemia, mas pode ser empregado para tratar linfonodos ou baço aumentados, ou complicações como dores ósseas. Os efeitos colaterais podem incluir irritação na pele no local da aplicação.
- Terapia-alvo: medicamentos que atacam apenas as células doentes têm trazido resultados importantes para alguns tipos de leucemia. É o caso dos inibidores de tirosina quinase (como Imatinibe, Desatinibe e Nilotinibe), atual tratamento padrão para a leucemia mieloide crônica.
- Transfusão de sangue: pode ser necessária para controlar o baixo número de plaquetas e hemorragias.
- Imunoterapia: medicamentos que permitem que o sistema imunológico reconheça as células doentes e as ataque. Alguns anticorpos monoclonais como Ribuximab, Obinutuzumab, Ofatumumabe e Alentuzumabe podem ser utilizados na leucemia linfoide crônica e aguda.
- Leucoferese: pode ser indicado em alguns casos de na leucemia linfoide crônica para remover o excesso de leucócitos.
- Transplante de medula óssea: indicado para alguns casos de leucemias agudas, após a quimioterapia. O paciente recebe células-tronco formadoras do sangue de um doador compatível (alogênico). Às vezes, são usadas células retiradas do cordão umbilical. Quando não há um irmão ou parente próximo compatível, pode-se tentar uma busca no Registro Nacional de Doadores Voluntários de Medula Óssea (Redome). No transplante autólogo, são usadas células-tronco do próprio paciente. Um dos efeitos mais importantes a curto prazo dos transplantes é o risco de infecções graves, por isso é preciso tomar uma série de cuidados.
Vale lembrar que, como em outros tipos de câncer, o trabalho é feito por uma equipe multidisciplinar, que, além dos médicos e enfermeiros, nutricionistas, psicólogos, dentistas, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, educadores e outros profissionais.
Como se ajudar
- Siga todas as orientações dos profissionais de saúde e tire dúvidas sempre que surgirem;
- Mantenha higiene adequada, uma dieta saudável, e evite aglomerações de pessoas, para evitar infecções;
- Em caso de febre procure imediatamente o hospital;
- Não hesite em pedir ajuda de amigos e parentes;
- Procure conversar com outras pessoas que passaram pelo tratamento;
- Busque métodos para reduzir o estresse, como ioga e meditação;
- Seja positivo: apesar de ser uma doença grave, o câncer pode ser tratado e muitas vezes curado.
Como ajudar quem tem leucemia
O trabalho do cuidador é de extrema importância para o paciente, especialmente no câncer infantil. Estudos têm mostrado que o suporte social faz muita diferença para o prognóstico, por isso é importante estar bem para ajudar o familiar em tratamento. Participar das consultas, buscar informações, ajudar o paciente a fazer perguntas e absorver as respostas, incentivar o auto cuidado e os hábitos saudáveis são atitudes que ajudam bastante o paciente com câncer.
Seja um doador voluntário
A doação de medula óssea também é uma forma de ajudar pacientes com leucemia e outras doenças que podem demandar um transplante. Para isso, basta comparecer ao hemocentro de sua cidade, fazer um exame de sangue e se cadastrar. O doador só é acionado se aparecer um paciente compatível. Em geral, a doação de medula é um procedimento ambulatorial, feito com anestesia --as células-tronco são retiradas por uma agulha por meio de punção no osso da bacia. Podem ocorrer sintomas como dor local ou fraqueza após a doação, mas eles são passageiros. O procedimento não traz nenhum prejuízo à saúde do doador. Mais informações podem ser obtidas no site redome.inca.gov.br.
Prevenção
Não há uma forma específica de se evitar a leucemia, mas ter hábitos saudáveis é sempre recomendável para evitar o câncer e outras doenças.
Detecção precoce
"Trabalhar o diagnóstico precoce com os pediatras e com a população é muito importante. Os sinais e sintomas do câncer em pediatria são inespecíficos, mimetizando outras doenças comuns da infância e podendo dificultar o diagnóstico precoce", afirma a onco-hematologista Sandra Loggetto, da Abrale (Associação Brasileira de Linfoma e Leucemia) e do Centro de Hematologia de São Paulo. Para ela, é importante que as pessoas tenham informação e que os médicos sejam capacitados para identificar a leucemia o quanto antes.
Fontes: Nelson Hamerschlak (hematologista/Hospital Israelita Albert Einstein/Abrale) e Sandra Loggetto (onco-hematologista/Abrale); American Cancer Society; Associação Brasileira de Linfoma e Leucemia (Abrale); Instituto Oncoguia; Instituto Nacional de Câncer (Inca)
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.