Apneia do sono: descobri razão de já acordar cansada e que problema é sério
Se você já acorda cansado, sente que nunca dorme o suficiente, boceja o dia todo e parece um verdadeiro zumbi no trabalho, tenho um conselho: talvez seja a hora de procurar um médico.
Após reparar nesses sintomas, resolvi visitar um especialista e descobri que sofro de uma leve apneia obstrutiva do sono. Pensei: "OK, eu ronco, coitado de quem já dormiu comigo" --e não fui atrás de tratamentos. Mas, depois de conversar com alguns profissionais, cheguei à conclusão de que o problema traz consequências preocupantes para a minha saúde.
Assim como eu, 76% dos brasileiros têm pelo menos uma queixa relacionada à qualidade do sono, de acordo com um levantamento realizado pela Unifesp (Universidade Federal de São Paulo). Mas poucos procuram ajuda.
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A apneia obstrutiva do sono é a interrupção da respiração devido ao bloqueio das vias áreas superiores (garganta e nariz) durante o repouso. Ela foi descoberta nos anos 70, e está muito ligada à vida moderna. Somos mais sedentários, mais obesos, temos mais obstrução nasal por causa de infecções, alergias e inflamações, nossa alimentação é alterada, comemos muito tarde, deslocamos o eixo do sono vigília para mais tarde.
Dormir mal aumenta risco de depressão, ansiedade e até Alzheimer
Além de causar roncos, as pequenas paradas respiratórias durante a noite pioram a qualidade do sono, que não fica tão reparador quanto deveria ser.
A pessoa que sofre de apneia costuma acordar cansada, mesmo achando que dormiu bastante. Ela sente sono o dia todo e, dependendo do grau da doença [leve (entre 5 e 15 apneias e hipoapneias), moderado (de 15 a 30) ou severo (acima de 30)], tem sintomas cada vez mais perigosos.
A falta de sono mexe com o humor e cada vez mais pesquisas associam o problema noturno com a depressão e transtornos de ansiedade.
"As ligações são complexas e ainda não são completamente compreendidas. O que sabemos por meio de exames de neuroimagem e testes neuroquímicos é que, quando dormimos bem, aumenta a ativação no organismo de tudo aquilo que está ligado à resiliência, nossa capacidade de lidar com as situações. Já noites mal dormidas, nos deixam emocionalmente mais frágeis e estão associadas a padrões pensamentos negativos recorrentes", explica o psiquiatra e neurologista americano John Todd Arnedt.
Mais um risco para mim que sofro de síndrome do pânico. Comecei a pensar se isso pode ter alguma relação com minhas noites mal dormidas. Arnedt diria que sim.
Isso sem falar nos maiores riscos de desenvolver a doença de Alzheimer. Um estudo publicado em abril no periódico Proceedings Of The National Academy Of Sciences descobriu que basta uma única noite com dificuldade séria para pregar os olhos para a massa cinzenta já passar a produzir muito mais beta-amiloides e tau no cérebro. O acúmulo dessas duas proteínas leva a uma quebra nas funções normais do órgão e é uma das principais características da doença.
Pressão aumenta e tem mais chance de infarto e AVC
Mas além dos problemas psicológicos, a apneia também pode prejudicar o funcionamento do coração. Principalmente a moderada e a severa, aumenta o risco de hipertensão, arritmia, infarto e acidente vascular cerebral (AVC). As repetidas pausas na respiração durante a noite, que chegam a passar de 10 segundos, levam à diminuição do fluxo de oxigênio para o coração e o cérebro, o que aumenta a pressão arterial e pulmonar, desencadeia processos inflamatórios (que podem dar início a doenças, incluindo o câncer) e eleva o risco de problemas cardiovasculares.
Tratamentos não precisam ser invasivos
Alguns estudos mostram que a apneia é uma doença evolutiva, ou seja, se você tem o grau mais leve da doença e não tratar, ela pode evoluir para algo mais sério com o tempo. "Com o passar dos anos, essa vibração vai mudando o tipo de colágeno da musculatura fazendo com que fique mais flácido, piorando o problema", explica Mauricio Kurc, otorrinolaringologista do grupo de medicina do sono do Hospital Israelita Albert Einstein.
Mas o tratamento pode ser bastante eficaz e reverter a doença, melhorando a qualidade de vida do paciente. No geral, são três recomendações mais comuns: o CPAP (aparelho de pressão positiva contínua nas vias aéreas), a cirurgia e os aparelhos intra-orais.
O CPAP pode ser indicado como um dispositivo de assistência respiratória durante a noite. É uma espécie de máscara que a pessoa coloca no nariz ou no nariz e boca que joga ar limpo para não deixar a via aérea fechar.
Os aparelhos dentários tracionam a mandíbula para a frente e fazem com que a região da faringe e da garganta ganhem espaço na respiração.
Por fim, a anatomia --como é o meu caso-- também é um fator de risco. A obstrução está na região da faringe, apesar de o nariz também estar presente, por isso qualquer desvio de septo, carne esponjosa, amídala muito grande, rinite ou adenoide aumentada podem ser um problema. Nestes casos, a cirurgia pode ser uma opção de tratamento para desobstrução das vias.
Além disso, a balança pode ser o causador de problemas respiratórios durante o sono, mas a perda de peso pode ajudar bastante.
"Esses três são os métodos mais usados, mas ainda existem terapias de fortalecimento muscular com fonoaudiólogos --como uma musculação para a faringe-- e várias técnicas cirúrgicas diferentes. O leque de opções é bem amplo", diz Fábio Lorenzetti, coordenador do Departamento de Medicina do Sono da Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial.
Em conjunto com o tratamento tradicional, é importante fazer uma "higiene" do sono, como dormir cedo, não comer muito tarde, evitar bebidas estimulantes à noite, drogas sedativas (que podem aumentar o relaxamento muscular) e o consumo de bebida alcoólica e até observar as posições em que dorme (dormir de barriga para cima pode favorecer o ronco).
Roncar não é normal
Assim como o ronco, sentir que o sono não anda bem, que a respiração está ruim ou o sono durante o dia é maior do que o normal, ter perda de memória, alterações de humor e até diminuição da libido são sinais de que é hora de procurar ajuda.
O Brasil está entre os três países que menos dormem no planeta, sendo o campeão absoluto entre os ocidentais, segundo um estudo divulgado pela Universidade de Michigan, nos Estados Unidos.
É sempre válido procurar ajuda, principalmente se for para você ter uma qualidade de vida melhor. Eu, por exemplo, estou no processo. Quem sabe daqui um tempo consigo dormir tão bem quanto minhas gatas.
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