Por que temos tanto medo de filmes de terror, se sabemos que são ficção?
No mundo, existem dois tipos de pessoas: as que morrem de medo de filmes de terror e as que, mesmo com pavor, amam o gênero. Mas ambas têm algo em comum: sabem que as histórias (alguns diriam supostamente) são fictícias. Por que, então, continuamos com o coração acelerado ao apagarmos a luz do quarto, mesmo dias após assistir ao longa?
Primeiro, é preciso explicar o medo. O dicionário Houaiss o define como "estado afetivo suscitado pela consciência do perigo ou que, ao contrário, suscita essa consciência". É o seu cérebro emitindo um sinal de alerta para protegê-lo do provável perigo.
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A definição faz total sentido em se tratando de um assalto, por exemplo, mas por que ele também está presente em filmes que retratam fantasmas ou zumbis --algo realmente mais improvável do que um assassino em série?
"Ao assistirmos a um filme, nos colocamos no lugar dos personagens. O efeito desse medo tem muito mais a ver com empatia", explica Lilian Graziano, doutora em psicologia pela Universidade de São Paulo (USP). Segundo a psicóloga Adriana de Araújo, mesmo sabendo que as cenas não são reais, o sistema de proteção mental interno reage como se fossem e desperta os alertas de perigo eminente.
A explicação para a persistência do medo por dias pode estar na infância. "É nessa fase da vida que a diferença entre o que é real e fantasia não é completamente clara. Depois alguns estímulos, eles ficam como gatilhos", explica Araújo. Ainda que se saiba que não são reais, eles ativam a memória emocional do perigo.
Prazer em sentir medo
Você deve ter algum amigo que assiste a todos os filmes de terror e realmente sinta prazer nisso. Há várias explicações para isso. Um estudo publicado em 2010 no periódico Sage mostrou que algumas pessoas gostam de sentir emoções mais intensas. Ainda de acordo com a pesquisa, existem também pessoas que apenas reagem ao medo de maneira diferente, mesmo sem a necessidade de passar por essas emoções mais fortes.
"Quem gosta de ver filmes que dão medo não ativa a memória dessa sensação ruim. Para alguns gera apenas uma emoção boa de curiosidade", explica Araújo. É por isso que algumas pessoas andam em montanha russa, por exemplo. Para outros, no entanto, o filme gera preocupação e medo. De qualquer modo, o que vale é uma memória, uma emoção já vivida e que se repete com determinados estilos de filme ou outros estímulos.
Outro estudo, no entanto, diz que essa preferência não é só uma escolha pessoal, mas resultado da química cerebral. Realizada por cientistas da Vanderbilt University, nos Estados Unidos, a pesquisa mostra que um dos principais hormônios liberados durante atividades assustadoras é a dopamina --um dos neurotransmissores do prazer --, mas alguns indivíduos têm mais dela pelo corpo do que outros. Isso significa que alguns vão realmente curtir situações mais estressantes do que outros.
Há quem diga ainda que algumas pessoas veem os filmes de terror como uma saída para enfrentar com segurança o estresse e a ansiedade sem consequências no mundo real. Assistir a um filme do gênero as deixariam mais confiantes no fim. "Mas isso só é possível se não houver associação do sofrimento que se vê no filme com emoções negativas pessoais", diz Araújo.
Quando passamos por atividades seguras, mas assustadoras, isso resulta em sentimentos de confiança, competência, realização e sucesso. Mas Araújo ressalta isso só é possível se a pessoa não relaciona os sustos com um sentimento de negatividade.
Geralmente, as sensações mais comuns são o medo, óbvio, e a curiosidade. E então, em qual grupo você se encaixa?
Fontes: Lilian Graziano, psicóloga e doutora em psicologia pela Universidade de São Paulo (USP); Adriana de Araújo, psicóloga e autora do livro "O Segredo para Vencer o Medo".
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