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A partir do sintoma, as possíveis doenças


Colesterol alto não tem sintomas, pode ser genético e põe coração em risco

Apenas 30% do colesterol nosso colesterol provêm da dieta e o restante é produzido no organismo - Camila Rosa/UOL VivaBem
Apenas 30% do colesterol nosso colesterol provêm da dieta e o restante é produzido no organismo Imagem: Camila Rosa/UOL VivaBem

Tatiana Pronin

Colaboração para o UOL VivaBem

06/11/2018 04h00

História familiar, sedentarismo e dieta inadequada são alguns dos fatores de risco para o colesterol alto

Quando se fala em colesterol, as pessoas logo pensam em ovo, bacon, e picanha, e se lembram que o alto nível desse tipo de gordura faz mal ao coração. Mas não pense que é só comer um hambúrguer com batata frita para que o colesterol no sangue aumente na hora. E mais: você pode evitar alimentos de origem animal e, ainda assim, não se ver livre do "colesterol ruim".

O que é e para que serve?

A rigor, o colesterol é um composto químico do grupo dos álcoois, para quem se lembra das aulas de química orgânica. Tem a textura e a aparência de uma cera. Apesar da péssima fama, o colesterol é essencial ao organismo: está presente na estrutura de todas as células, forma ácidos biliares que atuam na digestão, faz parte da composição dos hormônios e da vitamina D. Por ser solúvel apenas em gordura, é transportado e armazenado com ela. É por isso que as pessoas se referem ao colesterol como mais um tipo de gordura (ou lipídio). Triglicérides e os ácidos graxos são outros exemplos.

Colesterol é só um

Você já sabe que existe o "bom" e o "ruim", mas a verdade é que colesterol é só um. O que varia é seu meio de transporte. A carona, bem como o destino, depende das lipoproteínas, que são conglomerados de proteínas, gorduras e outras substâncias. Elas podem ser de alta ou de baixa densidade, dependendo da composição, e têm funções diferentes.

O colesterol contido nas chamadas lipoproteínas de baixa densidade é chamado de LDL (do inglês low density lipoprotein). O LDL leva o colesterol para todas as nossas células e, em excesso, pode se depositar nas paredes das artérias, formando placas que aumentam o risco de infarto e derrame —processo conhecido como aterosclerose. É por isso que o LDL é o vilão da história, o "mau colesterol", e seu nível deve ser mantido baixo.

Já quem tira o colesterol das células, para ser eliminado, são as lipoproteínas de alta densidade, ou HDL (do inglês high density lipoprotein). Ele é o mocinho da história, pois ajuda a evitar o entupimento das artérias, por isso é bom que esteja alto.

Ainda existem as lipoproteínas de muito baixa densidade, ou VLDL (very low density protein), mais conhecidas como triglicérides. Em excesso, também colaboram para o acúmulo de placas nas paredes dos vasos sanguíneos.

A soma de todo colesterol ligado às lipoproteínas tem o nome de colesterol total, outra medida que você encontra no resultado do exame para determinar o perfil lipídico. Quando há nível elevado de colesterol ruim e/ou triglicérides no sangue, e taxa baixa de HDL, dizemos que a pessoa tem dislipidemia. A condição é considerada um dos principais fatores de risco para as doenças cardiovasculares, principal causa de morte no país.

A prevalência das dislipidemias varia, mas estudos indicam que pode chegar a 60% em alguns grupos populacionais.

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O corpo produz maior parte do colesterol

Apenas 30% do nosso colesterol provêm da dieta, ou seja, vem de fora do organismo (exógeno) —todos os alimentos de origem animal possuem colesterol em quantidades variáveis. A maior parte do nosso colesterol é produzida pelo próprio organismo (endógeno).

Como se forma

Grande parte da fabricação acontece no fígado. O colesterol é, então, liberado na corrente sanguínea e distribuído para os tecidos, onde podem ser utilizados logo ou armazenado no tecido adiposo, a camada de gordura que temos abaixo da pele. As lipoproteínas de baixa densidade são capturadas por receptores no interior das células, e aí o colesterol livre é depositado. Já as partículas de HDL são formadas não só no fígado, como também no intestino e na circulação.

Gordura não é tudo igual

As gorduras presentes nos alimentos, ou ácidos graxos, possuem diferentes estruturas. Elas podem ser classificadas como:

  • Saturadas Presentes principalmente em alimentos de origem animal;
  • Insaturadas (poli ou mono) Encontradas em óleos vegetais --como de girassol e azeite -- e em oleaginosas;
  • Trans É obtida a partir de óleos vegetais, mas, ao ser submetida a um processo chamado hidrogenação, torna-se ainda mais prejudicial à saúde que a saturada.

De modo geral, uma dieta com excesso de gorduras saturadas ou trans pode levar ao aumento do colesterol ruim (LDL). Já as gorduras insaturadas podem combatê-lo. Mas há algumas pegadinhas: óleos vegetais ricos em poli-insaturados, como os de girassol, milho e soja, baixam o nível de LDL, mas não na mesma proporção em que as gorduras saturadas aumentam esse índice. E, em excesso, podem baixar o HDL e ter efeito inflamatório no organismo, o que também não é bom para a saúde. Já as gorduras monoinsaturadas, presentes no azeite, no abacate e no amendoim, parecem reduzir o LDL sem baixar o HDL.

Por fim, é bom lembrar que o excesso de açúcares, ou carboidratos, também é convertido em gordura, ou melhor, triglicérides, se não houver gasto energético suficiente. Assim, nosso perfil lipídico depende de todos os nutrientes que consumimos, e também de nossas atividades diárias, metabolismo e, para complicar só mais um pouco, dos nossos genes.

Fatores de risco

- História familiar: as dislipidemias podem ter origem genética e serem herdadas de pais para filhos. É a chamada hipercolesterolemia familiar, condição que raramente pode ser tratada apenas com mudanças no estilo de vida. Vários genes já foram associados à condição.

- Sedentarismo: a atividade física ajuda a "queimar" o colesterol ruim (LDL) e a aumentar o bom (HDL).

- Dieta inadequada: excesso de gorduras e carboidratos, somado à quantidade insuficiente de fibras e alimentos antioxidantes, pode causar aumento do colesterol ruim.

- Obesidade e síndrome metabólica: muitas vezes a ingestão exagerada de calorias está associada à resistência à insulina, hormônio que metaboliza o açúcar e também está envolvido no armazenamento de gordura.

- Pré-diabetes e diabetes: como explicado acima, a resistência à insulina com frequência gera descontrole metabólico, aumentando o risco de hipercolesterolemia.

- Hipotireoidismo: o funcionamento insuficiente da glândula tireoide também pode interferir no metabolismo lipídico.

- Doenças renais ou do fígado: também podem prejudicar o metabolismo das gorduras;

- Abuso de álcool ou drogas: por causarem prejuízos ao fígado;

- Uso de certos medicamentos: certas substâncias, como a cortisona ou drogas para evitar a rejeição após transplantes, podem ser uma causa secundária de hipercolesterolemia

Sinais e sintomas

Ter colesterol elevado não provoca sintomas. Porém, em alguns casos, quando os valores estão extremamente elevados, é possível que haja alguns sinais clínicos, como:

  • Arco córneo Halo esbranquiçado nos olhos que aparece em indivíduos abaixo de 45 anos;
  • Xantelasmas Pontos amarelos de gordura ao redor dos olhos;
  • Xantomas Depósitos de gordura amarelada em articulações ou tendões, como no calcanhar.

Quando a aterosclerose está avançada, o paciente pode ter angina (dor no peito) ou infarto.

Diagnóstico

Para saber se uma pessoa tem dislipidemia, o médico solicita um exame de sangue (lipidograma). Hoje não é mais necessário o jejum de 12 horas para medir o colesterol, apenas para os triglicérides, que são mais influenciados pela alimentação.

Todos os indivíduos acima de 10 anos de idade devem ter o perfil de colesterol avaliado. Já em crianças cujos pais tiveram infarto ou doenças arteriais antes dos 55 anos e/ou mães antes dos 65 anos, a avaliação deve ser feita a partir dos 2 anos de idade.

Valores de referência, de acordo com a diretriz de dislipidemias e prevenção da aterosclerose da Sociedade Brasileira de Cardiologia (2017):

Adultos saudáveis a partir de 20 anos (em mg/dl)

  • Colesterol total - desejável: menor que 190 mg/dl
  • LDL - ótimo: menor que 100
  • LDL desejável: entre 100 e 129
  • LDL limítrofe: entre 130 a 159
  • LDL alto: de 160 a 189
  • LDL muito alto: maior ou igual a 190
  • HDL - desejável: maior que 40
  • VLDL (triglicérides) - desejável com jejum de 12 horas: menor que 150
  • VLDL desejável sem jejum de 12 horas: menor que 175

Para indivíduos com risco cardiovascular alto: a diretriz recomenda que o colesterol LDL esteja abaixo de 70 mg/dl e o colesterol não HDL (soma de todos os outros), abaixo de 100 mg/dl.

Para indivíduos com risco muito alto, como quem já sofreu infarto ou AVC, o LDL deve ficar abaixo de 50 mg/dl e o colesterol não HDL, inferior a 80 mg/dl. O médico é quem determina os fatores de risco e define as metas.

Crianças e adolescentes (em mg/dl)

  • Colesterol total - desejável: menor que 170
  • LDL - desejável: menor que 110
  • HDL - desejável: maior que 45
  • VLDL - desejável de 0 a 9 anos: menor que 75 com jejum ou menor que 85 sem jejum
  • VLDL desejável de 10 a 19 anos: menor que 90 com jejum ou menor que 100 sem jejum

Quando o colesterol total está acima de 310 mg/dl é considerada a hipótese de hipercolesterolemia familiar.

Tratamento

Uma vez diagnosticado, o tratamento do colesterol elevado deve ser imediatamente iniciado, com adoção de mudanças no estilo de vida e, se necessário, uso de medicamentos. O mesmo é válido para quem tem triglicérides alto. Conheça os pilares do tratamento:

ALIMENTAÇÃO

Deve-se evitar alimentos gordurosos em excesso, particularmente os de origem animal, como leite integral e derivados, gema de ovo, carnes gordas, miúdos (moela, coração, fígado etc), frutos do mar (camarão, lagosta, mariscos, polvo, lula, caviar etc). Quem possui triglicérides alto também deve controlar o excesso de açúcar, massas e bebidas alcoólicas. O consumo de frutas, legumes e verduras, ricos em fibras e antioxidantes, também tem ação benéfica sobre o perfil lipídico.

Veja, abaixo, alguns alimentos cujo consumo pode auxiliar na redução do colesterol ruim e/ou aumento do HDL, quando associados a outros hábitos saudáveis, como dieta equilibrada e atividade física:

- Grãos integrais (farelo de aveia, farinha de linhaça, farelo de trigo etc.): estudo recente indicou que o consumo de três porções (90 g) de grãos integrais por dia foi associado a melhora do perfil lipídico.

- Peixes gordos: a recomendação é consumir duas vezes na semana peixes como salmão, sardinha, arenque, cavala, atum voador e linguado, ricos em ômega 3, de preferência assados.

- Fitoesteróis: componentes exclusivos dos vegetais que possuem estrutura semelhante a do colesterol, e por isso competem com eles na digestão. Estudos indicam que 2 g ao dia levam a uma redução de 10% no LDL. Pode ser encontrado em alimentos como nozes, soja, amêndoas ou abacate, adicionados a alimentos ou ingeridos em cápsulas.

- Alho cru: possui substâncias que agem no fígado, podendo ajudar no controle do colesterol.

- Azeite: rico em ômega 3, 9 e polifenóis, também ajuda a aumentar o HDL. Só não vale exagerar, já que o óleo é calórico.

Uva: o consumo moderado de vinho tinto (desde que haja o aval do médico) ou de suco integral de uva protege as artérias contra a oxidação do colesterol livre no sangue

ATIVIDADE FÍSICA

Pilar importante para controlar o triglicérides e aumentar o HDL, o ideal é praticar 30 minutos de exercício aeróbico leve (como caminhada, corrida, natação, bicicleta etc) cinco vezes por semana; ou 20 a 60 minutos de atividade física vigorosa três vezes. Se possível, exercícios de força (musculação) também devem ser incluídos na rotina. Lembre-se que é preciso consultar o médico para saber qual a intensidade e a frequência semanal mais indicada para você.

MEDICAMENTOS

- Estatinas: são o grupo mais utilizado no controle das dislipidemias, pois diminuem a produção de colesterol LDL pelo fígado. Exemplos: sinvastatina, rosuvastatina, atorvastatina e pitavastatina. Efeitos colaterais: dores de cabeça, musculares, artralgias, aumento de enzimas hepáticas (comprometimento do fígado) e sensação de fraqueza.

- Ezetimiba: reduz a absorção de colesterol no intestino. Efeitos colaterais: dores musculares, artralgias e alterações de enzimas hepáticas são os mais comuns.

- Anticorpo monoclonal: o evolocumabe, aprovado em 2016 no Brasil, atua em uma proteína chamada PCSK9, impedindo que se ligue a receptores no fígado para a síntese de LDL. A droga é injetável e indicada para pacientes que não respondem ou são intolerantes às estatinas. O maior obstáculo é o preço, ainda muito alto. Efeitos colaterais podem incluir dores articulares, lombalgia, reações no local das aplicações e infecções das vias aéreas superiores.

- Orlistate: embora lançado como "emagrecedor", foi desenvolvido para reduzir o colesterol por reduzir a absorção intestinal de gorduras. Efeito colateral: diarreia.

- Fibratos: grupo de medicamentos indicados para redução do nível de triglicérides. Efeitos colaterais: sintomas gastrointestinais e alteração de enzimas hepáticas.

- Derivados do ácido nicotínico: indicados para aumento do HDL. Efeitos colaterais: enrubescimento da pele, sintomas gastrointestinais e hepatoxicidade.

- Fitoterápicos: produtos à base de Monascus purpuricus (ex: Monaless) têm sido indicados por alguns médicos como coadjuvante no tratamento. Efeitos colaterais: elevação de enzimas hepáticas e, às vezes, dores musculares e/ou articulares.

- Outros: o tratamento de condições que podem interferir na dislipidemia também é fundamental, como o uso de hormônio para o hipotireoidismo, ou de hipoglicemiantes para quem tem diabetes ou pré-diabetes, ou drogas que ajudam no emagrecimento. A liraglutida, indicada para pacientes com diabetes e obesidade, também ajuda a diminuir o colesterol.

Como ajudar quem tem colesterol alto?

A melhor forma de ajudar um familiar ou amigo é incentivar a prática de exercícios físicos, a alimentação saudável e o controle dos fatores de risco. Também é importante lembrar sobre a necessidade de ir ao médico com regularidade e tomar os medicamentos prescritos corretamente.

Prevenção

A adoção de hábitos de vida saudáveis, como uma dieta balanceada e a prática regular de atividade física, é fundamental para a prevenção de fatores de risco cardiovasculares como as dislipidemias.

A seguir, dez passos para uma alimentação saudável:

1. Faça pelo menos três refeições (café da manhã, almoço e jantar) e dois lanches saudáveis por dia. Não pule as refeições.

2. Inclua diariamente seis porções do grupo de cereais (arroz, milho, trigo, pães e massas), tubérculos, como as batatas, e raízes, como a mandioca, nas refeições. Dê preferência aos grãos integrais e aos alimentos em sua forma mais natural.

3. Coma diariamente pelo menos três porções de legumes e verduras como parte das refeições e três porções ou mais de frutas nas sobremesas e nos lanches.

4. Coma feijão com arroz todos os dias ou, pelo menos, cinco vezes por semana. Esse prato brasileiro é uma combinação completa de proteínas e bom para a saúde.

5. Consuma diariamente três porções de leite e derivados e uma porção de carnes, aves, peixes ou ovos. Retirar a gordura aparente das carnes e a pele das aves antes da preparação torna esses alimentos mais saudáveis!

6. Consuma no máximo uma porção por dia de óleos vegetais, azeite, manteiga ou margarina. Fique atento aos rótulos dos alimentos e escolha aqueles com menores quantidades de gorduras trans.

7. Evite refrigerantes e sucos industrializados, bolos, biscoitos doces e recheados, sobremesas e outras guloseimas como regra da alimentação.

8. Diminua a quantidade de sal na comida e retire o saleiro da mesa. Evite consumir alimentos industrializados com muito sal (sódio), como hambúrguer, salsicha, linguiça, presunto, salgadinhos, conservas de vegetais, sopas, molhos e temperos prontos.

9. Beba pelo menos dois litros (seis a oito copos) de água por dia. Dê preferência ao consumo de água nos intervalos das refeições.

10. Evite as bebidas alcoólicas e o fumo.

Fontes: Adriana Bertolami, cardiologista e diretora do Departamento de Aterosclerose da SBC (Sociedade Brasileira de Cardiologia); Jacqueline Moniz Anversa, nutricionista clínica e esportiva; Maria Fernanda Barca endocrinologista membro da Sbem (Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia) e da SEE (Sociedade Europeia de Endocrinologia); Diretriz Brasileira de Dislipidemias e Prevenção da Aterosclerose (SBC-2017); American Heart Association.

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