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Sintomas, prevenção e tratamentos para uma vida melhor


Apesar dos esforços, a luta contra a malária está estagnada

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Imagem: iStock

Donald G. McNeil Jr.

Do New York Times

29/11/2018 10h33

Semana passada, a Organização Mundial da Saúde declarou que a luta contra a malária estancou e que a doença segue sendo uma ameaça real para bilhões de pessoas, apesar dos esforços milionários de décadas para contê-la. Segundo o relatório anual mais recente da instituição, estima-se que, no ano passado, houve 220 milhões de casos de malária e, aproximadamente, 435 mil mortes decorrentes da doença, entre as quais 262 mil crianças com menos de cinco anos de idade.

A doença é causada por parasitas transmitidos aos humanos por mosquitos. O relatório afirma que os índices mundiais de contaminação permanecem basicamente os mesmos desde 2013; eles começaram a cair drasticamente no começo dos anos 2000 com o desenvolvimento de telas inseticidas de alta performance, novos remédios e maior investimento financeiro.

Sem fazer críticas abertas a nenhum país específico, representantes da organização deixaram claro que alguns estão fazendo muito pouco para proteger seus cidadãos. "O ano passado foi de luzes e sombras", afirmou Pedro L. Alonso, diretor do programa para a malária da OMS.

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Paquistão, Etiópia, Ruanda e Índia são exemplos de sucesso, de acordo com ele. A Índia reduziu em três milhões os números de casos de 2016 a 2017, uma queda de 24%. Por outro lado, Nigéria, Madagascar, República Democrática do Congo, Moçambique, Mali, Níger, Indonésia, Burkina Faso e alguns outros países estão perdendo a luta contra a doença. A Nigéria, que possui um quarto de todos os casos de malária do mundo, registrou 1,3 milhão de casos a mais em 2017 do que em 2016, segundo o relatório.

Na América Latina, o número anual de mortes por malária não passa de algumas centenas, mas elas subiram no ano passado, especialmente na Venezuela, onde a economia entrou em colapso. A China, pela primeira vez, não reportou nenhum caso de transmissão dentro de suas fronteiras.

Alonso defende que as nações que já doam devem dobrar o valor que oferecem se esperam ver uma rápida queda nas taxas de infecção e cumprir as metas estabelecidas pela Organização das Nações Unidas para 2030. No entanto, as contribuições para o combate à malária --assim como à Aids e à tuberculose-- estão estagnadas desde a crise de 2008.

Dos quase 3 bilhões de dólares (mais de 11 bilhões de reais) gastos por ano para fazer a doença recuar, os Estados Unidos são, de longe, o maior contribuidor, sendo responsáveis por quase 40% de todos os recursos. Isso não mudou com o governo Trump. "Há apoio bipartidário no Congresso que independe de qualquer administração", explicou Alonso. Além disso, a Iniciativa do Presidente Contra a Malária, lançada em 2005 pelo então presidente George W. Bush, teve seu programa recentemente expandido para a África Ocidental, complementou Kesete Admasu, presidente da Parceria RBM pelo fim da malária.

Admasu se uniu a Alonso este mês em uma coletiva de imprensa pelo telefone para discutir o relatório. O carro-chefe das doações é o Fundo Global de Combate à Aids, Malária e Tuberculose. A próxima conferência de captação de recursos, que se realiza a cada três anos, será em outubro, em Paris, mas os doadores têm se queixado de que alguns países estão muito dependentes e precisam começar a investir mais do próprio dinheiro. Os dois médicos concordam que o sucesso depende principalmente de uma liderança política forte em cada país.

Embora os casos de malária na Nigéria tenham dobrado desde 2010, o relatório mostra que o país gasta muito menos per capita do que outros países africanos. Ao ser perguntado por que a Nigéria teve desempenho tão medíocre, apesar de ser um grande exportador de petróleo, Alonso disse que não culparia nenhum país individualmente e que a Nigéria, com governo descentralizado e população em rápido crescimento, é um país que propicia a transmissão.

Além disso, Admasu lembrou que o país recentemente investiu mais 18 milhões de dólares (69 milhões de reais) em seu fundo para a malária para receber uma subvenção de 36 milhões de dólares (138 milhões de reais) do Fundo Global. Em abril, a Nigéria se comprometeu a fazer um empréstimo de 300 milhões de dólares (mais de 1 bilhão de reais) com o Banco Mundial, o Banco Islâmico de Desenvolvimento e o Banco Africano de Desenvolvimento para melhorar seus resultados.

Ainda não surgiram problemas científicos capazes de prejudicar a luta atual contra a malária como os que, aos poucos, destruíram a que teve início nos anos 1950. Esta desmoronou quando os mosquitos se tornaram resistentes ao DDT e os parasitas ficaram imunes à cloroquina, o tratamento milagroso que surgiu após a Segunda Guerra Mundial. Apesar de alguma resistência ter sido registrada contra a medicação atual, a artemisinina, ela está basicamente limitada ao sudoeste asiático.

No mês passado, uma equipe da Universidade de Oxford baseada na Tailândia relatou ter obtido sucesso ao curar centenas de pacientes no sudoeste asiático com uma nova combinação de três remédios que une a artemisinina, de rápida ação, com outros dois de duração mais longa. "A terapia tripla deveria ser padrão para todos os tratamentos. É um assunto delicado porque ela é mais cara e tem mais efeitos colaterais, mas isso é compensado pelos ganhos", acredita Adrianus Dondorp, diretor de pesquisa para a malária na Unidade de Pesquisa de Medicina Tropical de Oxford. Outra descoberta recente e bastante animadora é a nova rede experimental contra mosquitos que usa dois inseticidas em vez de um; ela mostrou ser mais eficaz para proteger crianças do que as convencionais.

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