Após travar na catraca, ela resolveu voltar a pé do trabalho e perdeu 30 kg
A compulsão alimentar e o término de um relacionamento fizeram Patricia Santos, 35, chegar a 140 kg. Depois de ficar constrangida por não passar na catraca do ônibus, ela adotou hábitos saudáveis e mostrou que é possível fazer dieta sem gastar muito. A seguir, conta como conseguiu:
"Nunca tive problemas com a balança. Até os 30 anos estava dentro do peso e satisfeita com meu corpo. Mas, após me divorciar, passei a compensar toda a frustração na comida e adquiri uma compulsão alimentar: em menos de dois anos, pulei de 75 kg para 140 kg.
Não percebia que estava doente e obesa, mesmo vestindo calças 56, número de roupa que jamais tinha comprado na vida. Só dei conta do problema um dia em que fui trabalhar e travei na catraca do ônibus. Foi um baita constrangimento: as pessoas me olhando e eu sem saber o que fazer, até que o cobrador me deixou descer pela porta da frente.
Depois, fiquei pensando na desculpa que poderia dar caso acontecesse novamente. Pensei em falar que estava grávida. Mas a situação foi um tapa na minha cara e a vergonha que passei não saía da minha cabeça.
Percebi que a saída era justamente deixar de procurar desculpas e mudar totalmente meus hábitos
Após o fim do meu casamento, estava tão triste que um dia fui andando do meu trabalho até onde moro, na favela Vietnã, em São Paulo --um percurso de pouco mais de 7 km. Se consegui uma vez, por que não fazer isso todo dia? Decidi então adotar a tática para emagrecer.
No fim do expediente, vestia roupas de ginástica, tênis, mochila e retornava caminhando. Demorava cerca de três horas até chegar em casa, pois como estava muito acima do peso andava em um ritmo devagar.
Não existia desculpa ou tempo ruim: na chuva ou no sol, eu voltava a pé. Minha determinação era conseguir passar na catraca do ônibus novamente
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Além de começar a praticar exercícios, mudei minha alimentação. Comia muita salada e frango, que eram os alimentos saudáveis que tinha condições de comprar. No início, por ainda sofrer de compulsão alimentar, não sabia o tamanho das porções que precisava comer para ficar saciada. Muitas vezes, jogava alimentos fora, comia sem parar e mal sentia o gosto das refeições.
Percebi que isso não era normal, pesquisei na internet e decidi procurar ajuda. Comecei a fazer psicoterapia (online), que me ajudou muito a tratar a compulsão alimentar e a depressão --descobri que o problema também prejudicava meu emagrecimento.
Até hoje tenho acompanhamento psicológico e aprendi vários exercícios que me auxiliaram a diariamente a lidar com a comida. Por exemplo: deixei uma lousa na cozinha com frases como "Sinta o sabor da comida"; "Mastigue bem os alimentos"; "Dê uma garfada por vez"; "Coma devagar, o prato não vai sair correndo". Também troquei o garfo pelo hashi (o "palitinho" japonês). Todas essas táticas me ajudaram a comer de maneira mais lenta e perceber quando já estava satisfeita.
Como vivo em uma comunidade carente, muitas pessoas ficaram surpresas ao saber que eu estava fazendo dieta, diziam que era algo era muito caro. Mas sempre reforcei que é possível comer bem sem gastar muito. Basta optar por alimentos naturais, que a gente encontra na feira ou no supermercado, e ter criatividade para elaborar os pratos.
Alguns dias, só tinha ovo, repolho e cenoura em casa, mas ainda sim eu inventava receitas saudáveis e conseguia comer bem
É possível perder peso sem consumir suplementos ou produtos fit, diet, ligth, sem "isso" ou sem "aquilo", que muitas vezes não são baratos. Reforço: é possível se alimentar corretamente sem gastar muito. Esse virou meu lema e, o seguindo, consegui perder 30 kg após seis meses de reeducação alimentar.
No meio de todo o processo, resolvi fazer faculdade de nutrição para ajudar pessoas como eu, que não têm recursos financeiros para comprar pacotes de dieta e comidas caras a seguirem uma vida mais saudável. Nas redes sociais, sou conhecida como "Nutrifavela" e sempre posto dicas de receitas práticas e baratas.
Hoje, estou feliz com meu corpo e peso 90 kg. Minha meta é chegar a 70 kg no próximo ano. Estou batalhando para isso, faço muay thai em um projeto comunitário e sigo cuidando da minha alimentação.
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