Câncer de próstata: 60% dos homens fogem do médico, isso atrasa diagnóstico
A maior parte dos homens "foge" do consultório médico o quanto pode. Esse descuido com a saúde muitas vezes não parece algo preocupante, mas tende a retardar a detecção de muitas doenças que apresentam poucos sintomas no estágio inicial e reduzir sua taxa de cura, como acontece com o câncer de próstata.
Uma pesquisa do Centro de Referência da Saúde do Homem, órgão da Secretaria da Saúde do Estado de São Paulo, mostra que 60% dos pacientes só procuram o urologista quando estão com o tumor em estágio avançado, momento em que o tratamento tende a surtir menos resultado e o risco de morte é maior.
"Se diagnosticado no início, as chances de cura da doença são de até 90%. O problema é que 20% dos casos não são detectados no início", alerta Carlo Passerotti, urologista e cirurgião do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.
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Ao contrário do que muitos pensam, ausência de dor ou desconforto nem sempre é sinal de saúde. Até porque o câncer de próstata se instala de maneira silenciosa e os sintomas --dor, ardor ou dificuldade de urinar, sensação de não conseguir esvaziar completamente a bexiga, dor ao ejacular, presença de sangue na urina e dor óssea -- só se manifestam nos casos mais graves.
"É frequente o paciente de 70 ou 75 anos chegar ao consultório dizendo que até os 60 anos era um touro e que nunca precisou ir ao médico. Aí, a gente faz o diagnóstico de problemas antigos que estão numa fase com sequelas que poderiam ter sido evitadas, caso ele tivesse feito exames numa época em que não tinha sintomas", relata Luís Gustavo Morato de Toledo, professor e chefe do serviço de urologista da Santa Casa de São Paulo.
Segundo os especialistas, quando o assunto é câncer de próstata, muitos homens "fogem" do consultório por temer a impotência sexual e o exame de toque. Mas esse tabu precisa ser quebrado e é importante que todos marquem uma primeira consulta com o especialista até os 40 anos, para investigar se há doenças ou alterações no trato urinário e sistema reprodutor masculino.
Como é feito o diagnóstico
Embora o maior número de casos de câncer de próstata apareça após os 55 anos, exames específicos para identificar a presença do tumor devem ser feitos a partir dos 50 anos e repetidos anualmente. Quem tem um histórico do tumor na família, por sua vez, precisa começar a fazer esse check-up antes, aos 45 anos, e voltar ao consultório uma vez por ano para continuar o acompanhamento.
Apesar de ainda ser motivo constrangimento para muitos homens, o toque retal é importante para identificar possíveis alterações na próstata. "Os homens têm resistência em fazer o exame de toque por machismo. É um pouco desconfortável, mas é indolor, simples e rápido", resume Passerotti. Outro teste realizado para descobrir a doença é a dosagem de PSA (Prostate-Specific Antigens ou Antígenos Prostáticos Específicos), pois quem tem o tumor apresenta nível aumentado no sangue dessa substância.
Se o toque retal e o PSA apontam a existência do câncer de próstata, o médico solicita uma biópsia. O diagnóstico só é fechado após a análise de fragmentos da glândula, retirados pelo ânus. O procedimento invasivo é realizado mesmo existindo a possibilidade do resultado ser falso positivo, o que costuma acontecer com frequência. A ressonância magnética é uma alternativa para evitar biópsias desnecessárias.
Identificar os tumores que realmente precisam ser tratados é um processo cuidadoso, já que muitos deles são indolentes, ou seja, não colocam a vida em risco. "Se a gente fizer a biópsia, um em cada seis homens vai ter câncer de próstata. Então procuramos selecionar bem para diagnosticar os tumores que realmente precisam de tratamento. E tratá-los de forma individualizada", esclarece Toledo.
Mais esperança no combate à doença
O tratamento depende da idade, estado de saúde, estágio e extensão do câncer. Antes de decidir o tratamento, a vontade do paciente precisa ser levada em consideração. "Alguns chegam ao consultório, por exemplo, falando que não querem ter nenhum risco de ficar impotentes. A gente precisa ter uma conduta que possa curar o paciente, mas principalmente manter a qualidade de vida", diz Passerotti.
A prostatectomia radical (remoção completa da glândula) é indicada quando o tumor está localizado na próstata. Ela pode ser feita por meio de uma cirurgia convencional, com corte, por laparoscopia ou laparoscopia assistida por robô. Tanto a prostatectomia radical quanto a radioterapia são utilizadas com a finalidade de curar o paciente.
Quando o tratamento não resolve e o câncer ultrapassa os limites da próstata, bloquear a testosterona é um meio de impedir que a doença avance. Reduzindo o nível do hormônio no organismo, ele para de estimular o crescimento do tumor. Dessa maneira, espera-se que ele "murche" e não aumente mais. A quimioterapia costuma ser usada nos casos em que os procedimentos anteriores não fazem efeito.
Mesmo quem não responde aos tratamentos não deve se desanimar. "Estão surgindo drogas novas que permitem transformar um câncer avançado em uma doença crônica. Há também medicações associadas à medicina nuclear, que levam substâncias radioativas que se ligam às células tumorais e acabam destruindo-as por radiação", finaliza Toledo.
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