Vitamina D e óleo de peixe não são eficazes para a prevenção de câncer
Nos últimos anos, muitos americanos começaram a tomar vitamina D e pílulas de óleo de peixe, entusiasmados com a constante publicação de estudos que mostravam seus benefícios. Nessas investigações, foram relacionados níveis mais elevados de vitamina D a taxas mais baixas de câncer e também o consumo de peixe a uma taxa reduzida de doenças cardíacas.
Agora, um grande e rigoroso teste governamental randomizado - sobre o único estudo de ômega 3, proveniente do óleo de peixe, já realizado em adultos saudáveis e o maior já feito sobre o consumo de altas doses de vitamina D - descobriu que tais suplementos não reduzem as taxas de câncer em adultos saudáveis. Também não reduzem as taxas de problemas cardiovasculares mais sérios, ataques cardíacos, derrames ou mortes por doenças cardiovasculares. O teste é considerado "gold standard" na medicina.
"É decepcionante, mas sempre houve expectativas altas demais em relação à eficácia da vitamina D", disse o dr. Clifford J. Rosen, do Maine Medical Center Research Institute, em Scarborough, um dos autores de um editorial sobre os estudos no "The New England Journal of Medicine". Ele disse que os médicos estavam com um "pensamento mágico em torno do poder da vitamina D", muitas vezes testando os níveis sanguíneos de seus pacientes e aconselhando-os a tomar suplementos.
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"No que se refere à prevenção do câncer, as portas estão fechadas. Não acho que tenha qualquer efeito ali", disse Rosen. O estudo também mostrou que os suplementos de ácidos graxos ômega 3 não reduzem grandes problemas cardiovasculares ou câncer, "e ponto", disse. "Isso é o que as pessoas devem saber."
Os resultados sugeriram alguns benefícios potenciais, que teriam de ser explorados em outros ensaios. Uma análise secundária dos dados encontrou, por exemplo, uma redução das mortes por câncer nas pessoas que tomaram vitamina D por pelo menos dois anos, e menos ataques cardíacos entre aqueles que utilizavam o óleo de peixe. As pessoas de fato precisam de vitamina D para a absorção de cálcio e para outras funções corporais.
Em relação ao óleo de peixe, Rosen questionou: "Existem subgrupos em que pode ser altamente eficaz ou mesmo reduzir o risco de ataques cardíacos? É possível. Mas isso tem de ser provado em outro teste. Se essa droga fosse testada para aprovação pela FDA [Food and Drug Administration], ela não seria liberada."
A dra. JoAnn E. Manson, pesquisadora do Brigham and Women's Hospital, que liderou o teste, disse que, já que o óleo de peixe não passou no teste de redução de derrames, não impactaria sobre o risco geral de doenças cardiovasculares, medida que engloba ataques cardíacos, derrames e mortes cardiovasculares.
Mas ela disse que em outra análise, observando separadamente apenas ataques cardíacos, houve uma redução de 28 por cento entre os que tomam óleo de peixe, uma redução de 40 por cento em pessoas que comem pouco peixe e uma redução de 77 por cento entre os afro-americanos. Ela disse que a redução de 28 por cento era "muito surpreendente. Esse é o resultado que você tem com as estatinas".
"Os dados têm de ser muito consistentes antes que se recomende a todo mundo a utilização de suplementos. E certamente não estamos fazendo isso. O que fazemos é dizer: 'Fale com o seu médico, especialmente se você consome pouco peixe ou é afro-americano'", disse a dra. Manson.
Os Institutos Nacionais de Saúde financiaram o teste, que recrutou 25.871 homens e mulheres americanos saudáveis com 50 anos ou mais, incluindo 5.106 afro-americanos. Os participantes do estudo foram divididos em quatro grupos e designados aleatoriamente para tomar suplementos ou placebos, e foram acompanhados por 5,3 anos em média.
Um grupo tomou duas mil IUs (unidades internacionais) de vitamina D3 e um grama de ômega 3 todos os dias. O segundo grupo recebeu vitamina D e um comprimido placebo no lugar do ômega 3. Um terceiro grupo recebeu ômega 3 e um placebo de vitamina D. E o grupo final recebeu dois placebos.
A Pharmavite LLC, de Northridge, Califórnia, doou os agentes de vitamina D e os placebos correspondentes. A Pronova BioPharma da Noruega e a BASF doaram o Omacor, óleo de peixe vendido sob a marca Lovaza nos Estados Unidos.
Os resultados, publicados no "The New England Journal of Medicine", foram apresentados em uma conferência da American Heart Association, em Chicago.
De várias maneiras, os resultados não foram surpreendentes. O público foi bombardeado por uma torrente constante de informações sobre os benefícios para a saúde da vitamina D nos últimos anos, porque os estudos ligaram baixos níveis da vitamina a circunstâncias tão variadas quanto diabetes, pressão alta, câncer, doença cardíaca e depressão. Muitos médicos rotineiramente pedem exames dos níveis de vitamina D e os declaram deficientes. Assim, as vendas de suplementos dispararam nos últimos anos.
Desde o início, porém, os críticos questionaram se a vitamina D é meramente um marcador da saúde global do paciente e se o limiar de tal deficiência foi alto demais. A chamada vitamina do sol é sintetizada no corpo quando a pele é exposta à luz solar e se esgota em consequência de tabagismo, obesidade, má nutrição e outros fatores. Certos alimentos, como peixes gordos, ovos e leite, também contêm vitamina D.
Em 2011, o Instituto de Medicina concluiu que a maioria dos americanos obtém níveis suficientes de vitamina D e que as deficiências foram exageradas. O grupo também observou que relatos de benefícios potenciais com níveis sanguíneos mais elevados são inconsistentes.
A Força-Tarefa de Saúde Preventiva dos Estados Unidos também concluiu que não há evidências suficientes para avaliar se os suplementos de vitamina D impedem o câncer ou doenças cardiovasculares.
Quanto aos suplementos de óleo de peixe, a Associação Americana do Coração não aconselha que adultos saudáveis que não tenham doenças cardíacas tomem suplementos de ômega 3, embora recomende o consumo frequente de peixe.
Enquanto o novo estudo descobriu alguns potenciais benefícios da vitamina D e do ômega 3 em relação ao câncer ou às doenças cardiovasculares, também houve pouco potencial de desvantagem nos níveis disponibilizados pelo estudo. Os participantes não relataram nenhum efeito colateral grave, como sangramento, sintomas gastrointestinais ou "arrotos de peixe", disse Manson.
Ela alertou, no entanto, para o consumo de "megadoses" de um ou outro suplemento. Um excesso de vitamina D pode causar problemas de saúde potencialmente graves. Vários estudos de outros suplementos, como o de vitamina E e betacaroteno, por exemplo, encontraram taxas de mortalidade mais altas entre aqueles que tomavam doses elevadas.
Quanto aos efeitos da vitamina D e do ômega 3 sobre outras condições, fique atento. Os pesquisadores esperam publicar descobertas adicionais sobre diabetes, depressão, distúrbios autoimunes e funções cognitivas nos próximos meses, disse Manson.
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