O segredo para uma boa saúde é tão simples quanto um passeio no parque
Apesar de estar partindo para assumir um trabalho, por muitos cobiçado, no jornal "The New York Times", em 1965, estava de coração partido por deixar Minneapolis, onde tinha começado minha carreira como jornalista dois anos antes. Naquela época, como hoje, Minneapolis já era um pequeno paraíso para quem gosta de ficar ao ar livre.
De acordo com um projeto ambicioso da Trust for Public Land - TPL (organização sem fins lucrativos americana cuja missão é criar parques e proteger a natureza para que as pessoas possam desfrutá-la), Minneapolis lidera a lista de áreas metropolitanas do país que oferecem o melhor acesso a parques públicos bem equipados e com bom serviço ao maior número de pessoas. A vizinha, St. Paul, em Minnesota, vem em segundo lugar.
Não é de espantar, portanto, que a região de Minneapolis a St. Paul seja também considerada a melhor área urbana dos Estados Unidos.
E, não, os moradores dessas cidades não se preservam do frio! Eles estão lá fora, aproveitando-o: patinando no gelo, praticando esqui, deslizando em trenós, pedalando, correndo, caminhando, ou o que quer que seja.
Uma análise realizada pela TPL revelou que 96 % dos habitantes de Minneapolis e 98% dos de St. Paul vivem a uma caminhada de dez minutos de um parque, em comparação à taxa de 70% de residentes que habitam as cem maiores cidades dos EUA. A cidade de Nova York, em que 99% dos moradores têm fácil acesso a parques, parques infantis, trilhas ou outras áreas abertas, está na nona colocação geral em matéria de acesso público a áreas externas quando o tamanho do parque e outros fatores são considerados.
Apesar de o clima em Charlotte, Carolina do Norte, ser geralmente bom, com temperatura média de 15º, 218 dias de sol, apenas dez centímetros de neve e 1.041 milímetros de chuva por ano, a cidade apresentou o pior acesso a espaços públicos entre as cem maiores áreas metropolitanas estudadas.
A análise abrangeu residentes em 14.000 comunidades classificadas como "áreas urbanas" pelo Departamento do Censo dos Estados Unidos e onde vivem, hoje, aproximadamente 85% dos americanos.
Ano passado, em parceria com a National Recreation and Parks Association (principal organização sem fins lucrativos dedicada ao avanço de parques públicos) e o Urban Land Institute (organização de pesquisa e educação sem fins lucrativos), a TPL colocou em prática uma iniciativa que pode disponibilizar o mesmo tipo de benefício encontrado em Minneapolis a qualquer cidadão do país: parques de alta qualidade dentro de uma distância de dez minutos de caminhada, ou 800 metros, segundo Adrian Benepe, vice-presidente da Trust for Public Land e antigo administrador dos parques da cidade de Nova York.
Até agora, mais de 220 prefeitos, incluindo gestores de grande parte das maiores cidades dos Estados Unidos, assinaram um acordo de apoio ao projeto, o qual pode fazer o mesmo ou até mais pela saúde física e mental do país do que qualquer lei que o Congresso venha a aprovar. "Parques são essenciais para termos cidades boas e saudáveis. A conexão entre os parques e a saúde já está bem estabelecida.
Eles são peças-chave para uma boa saúde pública e para a saúde ambiental das cidades", atestou Benepe. Uma caminhada de dez minutos pode desenvolver disposição física, reduzir o risco de doenças crônicas e melhorar funções cerebrais, como aprendizado e memória.
Hanaa A. Hamdi, diretora de saúde pública da TPL, disse que pesquisas mostram que as áreas verdes em uma comunidade podem reduzir crimes violentos; combater estresse e isolamento social, especialmente entre adultos mais velhos; melhorar a concentração de crianças com transtorno do déficit de atenção; aumentar os níveis de relaxamento; e incentivar a autoestima e a resiliência.
Em uma entrevista, Hamdi explicou que de 35 a 40% da saúde são determinados pelo meio físico onde se vive, incluindo o acesso público a áreas verdes. Nessa linha, a TPL está colaborando com hospitais e profissionais comunitários da área da saúde para estimular investimentos em espaços abertos e criar programas que lutem contra doenças físicas e mentais. Um dos projetos, chamado Caminhando com um Médico, traz uma lista de médicos, enfermeiras, nutricionistas e assistentes sociais com quem pacientes diagnosticados com diabetes tipo 2 podem agendar passeios a pé, incentivando um estilo de vida mais saudável.
Além disso, Benepe cita um benefício complementar: "Parques reduzem os efeitos da mudança climática. As árvores absorvem e armazenam gás carbônico e retêm material particulado na superfície das folhas.
Elas absorvem o escoamento da água da chuva - um dos principais agentes de erosão -, mantendo-a longe da rede de esgoto e combatendo a poluição, além de reduzir o impacto do efeito do calor nas áreas urbanas." Há também incontáveis benefícios sociais e comunitários ligados aos espaços dos parques públicos.
Tenho dois amigos, Kathryn Morrissette e Michael Smith, que se conheceram no Prospect Park, no bairro do Brooklyn, enquanto brincavam com seus cachorros. Eles se casaram e hoje têm dois meninos, Dillon, 3 anos, e Wyatt, 1, que agora também se divertem no parque.
A TPL sustenta que não adianta oferecer muitos parques se os habitantes dependem de transporte público ou privado para acessá-los. "As pessoas precisam ser capazes de andar até os parques. Elas não podem criar asas e sobrevoar uma avenida ou um rio", defendeu Benepe. Da vasta maioria de americanos que vive em cidades e seus subúrbios, cerca de dois terços já contam com um parque a dez minutos de caminhada.
Contudo, ainda existem 110 milhões de americanos sem esse tipo de acesso. Talvez a melhor maneira de convencer prefeitos do país seja o fato de o acesso a parques valorizar os imóveis e, por consequência, aumentar a arrecadação de impostos da cidade. Além de Minneapolis e St. Paul, a análise conduzida pela TPL indica que as áreas urbanas mais apropriadas para se viver nos EUA são Washington, Arlington (na Virginia), São Francisco, Portland (no Oregon), Cincinnati, Chicago e Nova York.
Aproximadamente 99% dos moradores de Nova York residem a dez minutos de caminhada de uma área de lazer pública, principalmente porque "há muitos parques infantis", justificou Benepe, em boa parte graças ao controverso "mestre construtor" Robert Moses, engenheiro americano que assumiu diversos cargos públicos e cuja administração fez aumentar o número de parques infantis de 100, em 1934, para 658 em 1960. Hoje, há mil deles.
Os pátios escolares, que por muito tempo foram "terríveis pisos asfaltados inacessíveis fora do horário escolar", na descrição de Benepe, estão sendo transformados em parques infantis convidativos e abertos à comunidade à noite, nos fins de semana e nos feriados. Embora o trabalho da TPL esteja focado em áreas metropolitanas, Benepe confessou estar "preocupado com as pessoas que vivem em cidades pequenas, onde a terra é de propriedade privada.
O mapa pode ser verde, o que não significa que este seja necessariamente acessível". O índice de Pontuação de Parques da Trust for Public Land classifica as áreas metropolitanas considerando quatro fatores: porcentagem de residentes que vivem a uma caminhada de dez minutos de um parque; o espaço médio dos parques locais e a porcentagem da área urbana que eles ocupam; o investimento em dólar em parques por morador; e o oferecimento de seis itens de uso público, como cesta de basquete, espaço para cães brincarem sem coleira, parquinho e banheiro.
Líderes comunitários podem usar os mapas gerados pela Pontuação de Parques da TPL para determinar onde novos parques são mais necessários. Além disso, moradores podem usar a informação disponível no website da organização para pressionar os representantes eleitos a disponibilizar acesso mais equitativo a parques de qualidade.
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