Cientistas descobrem forma de prever progressão do câncer de boca
Pesquisadores identificaram a correlação entre a abundância de proteínas presentes no tecido tumoral e na saliva com a progressão do câncer de boca.
A descoberta surge como um parâmetro capaz de antecipar ou prever a progressão da doença --se há a presença ou ausência de metástase em linfonodo cervical, por exemplo --, além de superar as limitações dos exames clínicos e de imagem utilizados na clínica e orientar a escolha do tipo de tratamento ideal para cada paciente.
O estudo se iniciou na fase de descoberta por meio da análise proteômica de diferentes áreas do tecido tumoral utilizando-se 120 amostras microdissecadas e na fase de verificação as assinaturas de prognóstico foram confirmadas em aproximadamente 800 amostras de tecido por meio da técnica de imuno-histoquímica --localização de antígenos em tecidos, explorando o princípio da ligação específica de anticorpos a antígenos no tecido biológico -- e 120 amostras de saliva de pacientes com a doença por proteômica baseada em alvos ou dirigida.
"O conjunto de dados nos levou a ter um resultado robusto e bastante promissor na definição da gravidade da doença. Além de sugerirmos marcadores potenciais da doença em uma primeira fase, também verificamos esses marcadores em uma segunda fase da pesquisa, o que confere mais confiabilidade aos achados, mostrando que esses marcadores são eficientes para classificar o paciente com metástase em linfonodo cervical", disse Adriana Franco Paes Leme, pesquisadora do Laboratório Nacional de Biociências (LNBio), no Centro Nacional de Pesquisas em Energia e Materiais (CNPEM), e autora correspondente de artigo publicado na Nature Communications sobre o estudo.
O trabalho, apoiado pela Fapesp, foi conduzido no CNPEM em parceria com o Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp) e a Faculdade de Odontologia de Piracicaba da Universidade Estadual de Campinas (FOP-Unicamp), o Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação da Universidade de São Paulo (USP), o Instituto de Computação da Universidade Estadual de Campinas e a Faculdade de Odontologia da Universidade Estadual do Oeste do Paraná, entre outras instituições nacionais e internacionais.
O câncer de boca, também chamado de carcinoma espinocelular (CEC), é o tipo mais comum de tumor maligno de cabeça e pescoço. Tem alta prevalência e mortalidade, com cerca de 300 mil novos casos diagnosticados por ano no mundo e 145 mil mortes. Embora seja relativamente fácil de ser detectado, por feridas na boca identificadas por dentistas, geralmente o diagnóstico é feito quando a doença já está em estágio avançado.
"O estudo levou cinco anos até chegarmos a essa descoberta. Foi dividido em duas fases. Na primeira, usamos a proteômica baseada em descoberta, quando identificamos e quantificamos as proteínas dos tecidos tumorais. Na segunda fase do estudo foram feitas análises por imuno-histoquímica e também por proteômica baseada em alvos ou dirigida - onde sabíamos exatamente quais proteínas precisávamos quantificar", disse Paes Leme.
A proteômica é o estudo de um conjunto de proteínas em uma amostra, seja em tecido ou célula, por exemplo, onde é possível identificar, quantificar, determinar modificações, localizar, avaliar atividade e interações de proteínas.
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