Anticoncepcional hormonal afeta o ganho de massa muscular?
Médicos e pesquisadores afirmam que sim, o uso de anticoncepcional hormonal pode prejudicar o ganho de músculos. Isso acontece porque esses medicamentos reduzem a produção de hormônios anabólicos (como o estrógeno e a testosterona) pelo organismo, o que pode prejudicar os resultados do treino.
"Por se tratar de hormônios exógenos (sintéticos), esses anticoncepcionais acabam diminuindo a fabricação de progesterona, estrógeno e, principalmente, de testosterona pelo corpo, além de interferir nos níveis de cortisol", explica Alessandra Masi, médica ortopedista, traumatologista do esporte e fisiologista.
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Além de interferir no ganho de massa magra, essas alterações hormonais podem significar ganho de peso, perda de massa óssea, maior retenção de líquido, diminuição da energia e da sensação de bem-estar.
Estudos em vários países, no entanto, não encontraram redução significativa nos resultados de força ou resistência entre as mulheres que fazem uso regular desses medicamentos.
Os principais efeitos se dão em quem deseja ganhar massa muscular, como afirma Renata de Camargo Menezes, ginecologista, obstetra e especialista em reprodução humana. "Isso ocorre por causa da diminuição dos níveis de testosterona e de outros hormônios relacionados ao metabolismo andrógeno", diz.
Ela explica que, quando uma mulher usa um contraceptivo hormonal, ocorre o aumento na quantidade de uma proteína produzida pelo fígado. O problema é que essa proteína captura a testosterona circulante, fixa-se a ela e acaba tornando esse hormônio inativo.
Prova disso é um estudo publicado no periódico Human Reproduction Update, em 2014, que mostrou uma redução média de 61% na testosterona livre em mulheres que tomavam pílula anticoncepcional em comparação com as que não faziam uso do método.
Normalmente associada aos homens, a testosterona também é produzida pelo organismo feminino. A diferença é a concentração, que neles é de 20 a 30 vezes maior. A testosterona tem efeitos sobre a libido, a composição corporal (gordura e massa magra) e a disposição para atividades cotidianas.
O real efeito dessa alteração hormonal, no entanto, é difícil de ser medida. Isso porque há uma grande variedade de contraceptivos hormonais (como adesivos, injeções, anéis vaginais e diferentes tipos de pílulas anticoncepcionais), com composição e ação bem distintas. Nem todos foram testados quanto ao impacto sobre o ganho de massa muscular.
O endocrinologista Renato Zilli, do Hospital Sírio Libanês, diz que, além das diferenças entre os métodos, é preciso levar em conta que cada pessoa reage de modo diferente ao anticoncepcional e que a influência dele sobre treino pode ser insignificante para muitas mulheres.
"A medicação tem um efeito individual, ou seja, é muito difícil saber como cada mulher vai reagir usando determinado método. Mesmo porque há outros fatores também muito importantes, como idade, composição corporal, estilo de vida, padrão familiar e nível de estresse", diz.
Com hormônio ou sem?
Para quem não quer correr o risco de prejudicar o esforço feito na academia, mas também não quer ficar grávida, a saída pode ser adotar um método não hormonal, como a camisinha e o DIU (dispositivo intrauterino) de cobre. Ou, então, optar por um método hormonal que não afete a concentração de testosterona no organismo.
"Uma opção é o contraceptivo monofásico, composto apenas de gestrinona, um tipo de hormônio que inibe a ovulação, mas pode potencializar levemente a formação de testosterona e, dessa maneira, reduziria o impacto sobre a perda de massa muscular", indica Renata Menezes. Entretanto, é preciso considerar que uso da gestrinona pode alterar a oleosidade da pele (levando ao aparecimento de acne), a voz e o crescimento de pelos no corpo.
Além disso, a escolha pelo melhor método contraceptivo deve levar em conta se a mulher tem hipertensão, sobrepeso, fuma, tem risco de trombose ou apresenta endometriose, entre outros fatores.
Já as mulheres que não querem adotar outro método contraceptivo podem avaliar a necessidade de mudanças no treino, como frequência, carga e repetições. Ou fazer uso de um gel à base de testosterona, desde que com recomendação e supervisão de um médico, pois altas doses do hormônio podem levar a modificações na voz, na pele e no tamanho do clitóris.
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