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O que pode ser?

A partir do sintoma, as possíveis doenças


Periodontite: dor, mobilidade nos dentes e gengiva inchada são sinais

A inflamação da gengiva por causa de higiene ruim e acúmulo de placa bacteriana é causa da periodontite, que pode levar à perda de dentes - Camila Rosa/VivaBem
A inflamação da gengiva por causa de higiene ruim e acúmulo de placa bacteriana é causa da periodontite, que pode levar à perda de dentes Imagem: Camila Rosa/VivaBem

Cristina Almeida

Colaboração para o UOL VivaBem

01/01/2019 04h00

Na sua próxima visita ao dentista, não fique ofendido se ele disser que você precisa melhorar sua escovação. Afinal, isso não é propriamente uma crítica negativa, mas uma demonstração de que ele está cumprindo o seu dever profissional: ajudá-lo a prevenir doenças bucais, como a periodontite.

Conhecida também como doença periodontal, essa enfermidade é consequência de uma inflamação nas gengivas - a gengivite -, cuja causa mais comum é o acúmulo de placa bacteriana. Esta, por sua vez, é resultado da higienização inadequada.

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Quando esse processo inflamatório avança, atinge as estruturas que dão sustentação ao dente (periodonto e osso alveolar). Além disso, promove a degeneração membranosa (da pele da boca), a movimentação (migração) dos dentes e a formação de espaços entre eles e as gengivas (bolsas).

Uma enfermidade bastante comum

Nos Estados Unidos, entre 8% e 10% da população adulta tem alguma forma de periodontite (o que equivale ao número total de habitantes de um país como a Arábia Saudita), mas os números estão em declínio. No Brasil, a doença pode afetar 9 entre 10 pacientes adultos examinados.

Crianças também podem ter periodontite, embora a gengivite seja a situação mais frequente na infância. "Se a criança não for tratada, pode chegar à adolescência com as formas mais graves da doença periodontal", alerta Eliete Rodrigues de Almeida, docente dos cursos de graduação e pós-graduação da Faculdade de Odontologia da Universidade Cruzeiro do Sul (SP).

Os dados da última Pesquisa Nacional de Saúde Bucal, do Ministério da Saúde (SB Brasil 2010), revelaram a presença de algum tipo de alteração periodontal em 37% das crianças de 12 anos de idade. Esse quadro ressalta a importância do diagnóstico precoce da doença e sua prevenção.

Saiba se você corre risco

No dia a dia dos consultórios odontológicos, a maior parte dos casos de periodontite se dá como resultado do acúmulo prolongado de placa bacteriana (ou biofilme). Mas se você se encaixa em alguma das condições abaixo, fique atento, pois todas elas influenciam ou são influenciadas pela doença:

  • Tabagismo;
  • Diabetes;
  • Síndrome de Down;
  • Doença de Crohn;
  • Leucopenia;
  • Aids;
  • Gravidez (devido às mudanças hormonais).

Entre as crianças, incluem-se ainda as seguintes situações:

  • Respiração pela boca, com ressecamento da mucosa intrabucal e gengiva;
  • Dente de leite caindo/trocando;
  • Puberdade (e suas mudanças hormonais);
  • Restauração mal adaptada;
  • Uso de aparelho ortodôntico.

Por que você deve se preocupar

A boca é habitada por bactérias de diferentes tipos que levam o nome de biofilme. O problema é que tanta variedade de micro-organismos pode ser fonte de contaminação, levando a complicações em diferentes regiões do corpo.

Paula Fernanda Leal Corazza, docente dos cursos de graduação da Faculdade de Odontologia da Universidade Cruzeiro do Sul (SP), diz que as evidências científicas "apontam possíveis relações entre doença periodontal e alterações no controle sistêmico do diabetes, nas patologias respiratórias e na gravidez - com partos prematuros e nascimentos de bebês com baixo peso e enfermidades cardiovasculares".

Isso significa que uma visita ao dentista reduz as chances de desenvolvimento de outras doenças, não só as que se manifestam dentro da boca.

Identifique os principais sintomas da periodontite

Além dos sinais presentes na gengivite - como gengiva inchada e avermelhada, sangramento espontâneo durante a escovação ou uso de fio dental, dor ao comer, mau hálito persistente e formação de pus -, você poderá notar:

  • Retração da gengiva;
  • Mobilidade do dente;
  • Dor (é raro, mas ocorre);
  • Incômodo na gengiva, como se fosse uma coceira.

Entretanto, os especialistas alertam para o fato de que a periodontite é conhecida por ser uma doença silenciosa, ou seja, é comum que o paciente não perceba os sintomas até que o quadro esteja avançado.

Outras causas, além da placa bacteriana

Genética: os estudos médicos nessa área estão ainda em andamento, mas o que se sabe até agora é que a predisposição à periodontite está relacionada aos mecanismos de defesa do organismo.

Uso de medicamentos: todos os remédios têm efeitos colaterais e algumas categorias poderão influenciar a forma como a inflamação se desenvolve (anti-inflamatórios), a composição da placa bacteriana (antibióticos) ou mesmo o sistema de defesa do corpo, como os fármacos usados no tratamento do câncer (imunossupressores). Daí a importância de evitar a automedicação.

A hora certa de procurar ajuda

Consulte um dentista toda vez que observar qualquer alteração na boca (como os sintomas mencionados acima). Nos casos graves, o próprio profissional deve encaminhá-lo para um periodontista, que é o especialista habilitado para o diagnóstico e o plano de tratamento em todas as fases da doença.

Já na consulta, para que o especialista entenda a situação, primeiro deve querer saber sobre seu estado geral de saúde e se você faz uso de algum tipo de medicação.

Na sequência virá o exame físico, que se resume na palpação dos gânglios em região de cabeça e do pescoço, inspeção dos tecidos orais, exploração dente a dente e radiografia (a fim de avaliar as condições do osso).

Há um exame específico, chamado sondagem periodontal, que mede o tamanho do problema. Só então o diagnóstico pode ser definido.

Tratamento da periodontite

Quanto mais rápido você for ao dentista, melhor. Assim, as chances de controlar o avanço da periodontite aumentam. A terapia começa com instruções de higiene oral específica para cada pessoa, além da limpeza feita pelo dentista por meio de uma raspagem da placa bacteriana e tártaro. O uso de anestesia ocorrerá somente nos casos mais difíceis.

Medicamentos costumam ser indicados só nos casos mais graves. Nessas situações, pode ser recomendado antibiótico por via oral ou sistêmica.

A falta de tratamento pode levar à perda dos dentes. Além do evidente problema estético e da dificuldade para mastigar, a pessoa pode desenvolver problemas de articulação (ATM) e sofrer com deficiência nutricional, entre outros problemas.

Dicas de prevenção

- Visite seu dentista regularmente, mesmo que não apresente sintomas. O acompanhamento clínico é fundamental para o controle dos hábitos de higiene oral e manutenção da saúde da boca.

- Peça ao seu dentista uma orientação personalizada sobre como fazer a limpeza bucal. A repetição de erros básicos é suficiente para abrir caminho para a contaminação.

- Faça uso de escovas convencionais, tufo e interdentais, assim como fio ou fita dental diariamente.

- Ensine seus filhos a usar diariamente a escova, o fio dental e a pasta de dente.

- Evite a utilização de enxaguatório bucal pelas crianças, principalmente aqueles que contêm álcool ou flúor na composição e não podem ser engolidos. Dependendo da idade dos pequenos, isso pode acontecer. Adolescentes podem ser encorajados a usar o produto desde que com recomendação do dentista.

- Alimente-se corretamente. Uma dieta anti-inflamatória, rica em vegetais e gorduras saudáveis (presentes em oleaginosas, peixes ricos em ômega 3, azeite de oliva e abacate, por exemplo), contribui para manter o organismo protegido.

- Afaste-se do cigarro. Comparados aos não fumantes, quem faz uso do tabaco aumenta de 3 a 6 vezes o risco de ter inflamação gengival.

Fontes: Eliete Rodrigues de Almeida, mestre e doutora em saúde pública, docente dos cursos de graduação e pós-graduação em Odontologia da Universidade Cruzeiro do Sul (SP); Luciana Scaff Viana, membro da Câmara Técnica de Periodontia do Conselho Regional de Odontologia de São Paulo (CROSP); Luciane Kraul, doutoranda em laser na Universidade de São Paulo (USP), mestre em materiais dentários e especialista em ortodontia, com pós-graduação em DTM pela mesma universidade; Marcelo Cavenague, membro da Câmara Técnica de Periodontia do CROSP; Paola Fernanda Leal Corazza, mestre em radiologia e imaginologia pela Universidade São Leopoldo Mandic (SLMANDIC), especialista em periodontia pela Associação Brasileira de Ensino Odontológico (ABENO) e estomatologia pela SLMANDIC e docente do curso de graduação em Odontologia da Universidade Cruzeiro do Sul (SP).

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