Qual a diferença entre cura e remissão de uma doença?
"Estou curado!" Para quem enfrenta alguma doença, é ótimo poder dizer essa frase e saber que está livre de um problema. Mas você sabia que, em muitos casos, a pessoa pode não apresentar mais nenhum sintoma para o resto da vida e ainda ter a doença. Calma! Não se trata de erro médico. É que existe diferença entre cura e remissão de uma doença, e esses conceitos geram certa confusão.
Remissão é o período em que o problema permanece sob controle. Ou seja, o paciente pode estar sem qualquer evidência da doença (remissão completa), mas não é considerado curado pois ainda existe o risco de o mal retornar ou há necessidade de controlá-lo com remédios. O termo é utilizado principalmente para problemas como câncer, doenças autoimunes e infecciosas (como Aids).
"No caso de tumores, costuma-se considerar curadas pessoas com a doença indetectável (remissão completa) por cinco anos após o fim do tratamento, pois depois desse período o risco de recidiva (reaparecimento da doença) do tumor cai consideravelmente", explica Lilian Arruda Barros, oncologista clínica e coordenadora adjunta do departamento de oncologia do IBCC (Instituto Brasileiro de Controle do Câncer).
No entanto, alguns tumores (na próstata e na mama, por exemplo) podem voltar muito além dos cinco anos do término do tratamento --a chamada recidiva tardia. É por isso que, apesar de ser possível dizer que há cura para certos tipos de câncer (mas não todos), alguns médicos preferem não usar a palavra cura para a doença.
É possível se "curar" do HIV?
Não. Apesar disso, pessoas infectadas com o vírus podem entrar em remissão, o chamado HIV indetectável --condição em que o paciente atinge a supressão do vírus e de sintomas provocados por ele graças ao uso dos medicamentos antirretrovirais.
Vale lembrar a diferença entre Aids e HIV. Aids é a manifestação sintomática do HIV e, portanto, só aparece quando ele não é controlado por meio do tratamento. Nesse caso, o vírus vai se multiplicando até comprometer o sistema imunológico e, consequentemente, a capacidade de o portador defender-se de infecções.
"No Brasil, 90% dos pacientes chegam a se tornar indetectáveis. O prazo do tratamento é de seis meses, mas a maioria consegue a remissão num período de três meses. O remédio deve ser tomado todos os dias ao longo da vida e o paciente consegue atingir uma qualidade de vida plena, inclusive sexual, já que nessa condição o vírus não é mais transmitido sexualmente", explica o médico paulista Jamal Suleiman, infectologista do Instituto Emilio Ribas.
E as doenças autoimunes?
Lúpus, psoríase, diabetes tipo 1, Sídrome de Guillain-Barré, esclerose múltipla e várias outras doenças autoimunes --que ocorrem porque células de defesas do corpo atacam uma área do organismo -- não têm cura. Mas muitas delas podem ter seus sintomas significativamente diminuídos ou entrar em remissão completa por longos períodos com medicamentos e/ou mudanças de hábitos.
"Em muitas doenças, como a esclerose múltipla, para aumentar os períodos de remissão, o paciente precisa aderir ao tratamento e investir em uma dieta equilibrada, atividade física, ingerir menos sal, não fumar, hidratar-se bem, ter sono adequado, ou seja, melhorar sua qualidade de vida. Equilibrar corpo e mente ajuda bastante", explica a neurologista clínica Liliana Russo, do grupo de apoio médico da Abem (Associação Brasileira de Esclerose Múltipla).
A médica explica que a esclerose múltipla --assim como algumas outras condições autoimunes -- é classificada como doença remitente-recorrente. Ou seja, apresenta períodos de remissão e aparecimento do problema. Portanto, o tratamento visa minimizar os sintomas desconfortáveis do surto, modificar a evolução da doença e aumentar o período de intervalo entre a remissão e a crise.
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