Estudo encontra ação antidepressiva com apenas uma única dose de ayahuasca
Um novo estudo feito pelo Departamento de Neurociências e Ciências do Comportamento da FMRP (Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto) da USP (Universidade de São Paulo), revelou o potencial antidepressivo do ayahuasca, o chá preparado com folhas e cascas utilizado em rituais religiosos.
Os dados foram publicados no jornal científico Psychological Medicine, mas os pesquisadores deixam claro que o consumo do chá ainda está longe de ser indicado como tratamento para a depressão.
A pesquisa contou com testes clínicos realizados com 29 pessoas no Hospital Universitário Onofre Lopes, em Natal, e registrou melhora significativa do quadro depressivo entre os pacientes que tomaram dose única da substância.
No experimento, os voluntários foram aleatoriamente indicados para receber o chá ou uma bebida sem ação farmacológica (placebo), formulada para ter sabor e aspecto de ayahuasca. Antes, durante e por uma semana após o tratamento, os pesquisadores realizaram uma série de avaliações psicológicas e fisiológicas nos participantes (14 tomaram ayahuasca e 15 placebo), além de imagens de ressonância nuclear magnética para avaliar alterações no funcionamento do cérebro. Durante o experimento, nem os pesquisadores nem os participantes sabiam quem havia recebido ayahuasca ou placebo - o chamado duplo-cego.
Os dois grupos apresentaram redução no quadro depressivo após o experimento, com melhora significativamente maior entre os que tomaram ayahuasca. A diferença se tornou mais importante no sétimo dia após o tratamento: cerca de 60% das pessoas que receberam a preparação com as folhas e o cipó haviam apresentado uma redução superior a 50% nos sinais de depressão, contra 27% no grupo placebo. Metade dos participantes do primeiro grupo estava completamente livre dos sintomas, ante 10% no segundo.
Como cerca de 300 milhões de pessoas do mundo sofrem com depressão, segundo a OMS (Organização da Saúde), os cientistas estão otimistas em descobrir tratamentos alternativos para melhorar a vida dos pacientes.
"Encontramos um efeito antidepressivo rápido e duradouro, o que não é comum em antidepressivos, que demoram de duas a três semanas em média para fazer efeitos terapêuticos, enquanto a ayahuasca teve efeitos nas primeiras horas que permaneceram de duas a três semanas. E é um estudo preliminar, é bom destacar," explicou o farmacólogo Rafael Guimarães dos Santos, pesquisador do grupo do professor Hallak, em entrevista para a Rádio USP.
Além disso, Santos deixou claro que os pacientes que mostraram melhora já tinham testado cerca de outros dois remédios convencionais para a depressão e não tinham conseguido respostas positivas.
Os testes com ayahuasca integram estudos de uma rede de pesquisadores, coordenada pelo professor Jaime Hallak, do Departamento de Neurociências e Ciências do Comportamento, que investiga o potencial terapêutico dos compostos psicodélicos. Comentando as pesquisas que essa rede realiza, Hallak lembra que "a psiquiatria necessita de novos medicamentos, porque muitos dos que existem hoje não apresentam boa eficácia contra certos casos de depressão".
Outros estudos
Outros dois estudos com ressonância magnética ajudam a explicar por que os usuários frequentes de ayahuasca parecem mais autoconscientes nos testes realizados. Em um deles, a neurocientista Fernanda Palhano-Fontes, da UFRN, observou que, durante o uso do composto, as pessoas apresentam atividade menor da rede cerebral acionada quando se está divagando ou remoendo pensamentos, algo comum na depressão. Segundo os pesquisadores, os resultados apoiam a ideia de que o estado alterado de consciência está relacionado à modulação dessa rede.
Em outro experimento, publicado em 2016 no Journal of Clinical Psychopharmacology, o grupo de Hallak deu uma dose de ayahuasca a 17 pessoas com depressão refratária a tratamento que nunca tinham consumido a bebida.
Exames de imagens realizados oito horas após a ingestão do composto mostraram aumento da atividade de três áreas cerebrais responsáveis pelo controle do humor e das emoções (núcleo accumbens, ínsula direita e área subgenual esquerda) - os antidepressivos comuns também agem nessas regiões, mas levam mais tempo.
Avaliações do humor realizadas no dia e nas três semanas seguintes mostraram uma redução importante dos sintomas depressivos até o 21° dia. "A ayahuasca parece agir como um antidepressivo duplo, reduzindo a degradação de serotonina e estimulando seus receptores", afirmou Santos, da equipe da USP-RP. "Esses receptores controlam as emoções e a neuroplasticidade."
Apesar dos resultados animadores, ainda não há informações suficientes que permitam indicá-la como um possível tratamento contra a depressão. Faltam dados mostrando que o uso da bebida é seguro no longo prazo e qual seria a dosagem terapêutica adequada.
Também seria necessário avaliar um número bem maior de participantes por mais tempo, em estudos controlados com placebo. Mesmo que esses testes sejam feitos, Hallak tem dúvidas de que um dia a ayahuasca se torne um tratamento disseminado. "A ayahuasca tem alguma semelhança com os medicamentos fitoterápicos, mas é mais complexo garantir que seja produzida sempre com a concentração desejada dos princípios ativos", disse.
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