Queloide: "Levei 16 anos para achar solução para cicatrizes no meu corpo"
Quando entrou na puberdade, a professora de inglês Rebecca Correa, 37 anos, teve uma surpresa. De uma hora para outra, percebeu que seu rosto e pescoço estavam cheios de acne. Ela acreditava que as espinhas iam desaparecer, mas em vez disso começaram a se espalhar pelos ombros, tórax e costas. As do rosto foram embora com o tempo, deixando depressões no lugar, mas nas outras regiões elas ficavam cada vez mais vermelhas e endurecidas.
Aos 15, Rebecca procurou o médico e se assustou com o que ouviu. "Fui ao dermatologista. Ele me falou que eram queloides e que não tinha cura. Foi devastador. Aquilo para mim, na época, era muito feio", conta.
O problema é causado pelo excesso de colágeno na pele durante o processo de uma cicatrização --de um ferimento provocado por acne ou corte de uma cirurgia, por exemplo. As cicatrizes podem causar desconfortos físicos e emocionais e, depois do diagnóstico, a rotina da professora de inglês mudou.
Ela se desfez de blusas, vestidos decotados e quando ia à praia nunca tirava a camiseta. Parou de usar roupas com rendas, bordados, apliques e botões. Para sair de casa, se cobria de protetor solar e evitava ambientes abertos quando o sol estava muito forte.
Rebecca fazia de tudo para que ninguém visse os queloides que se uniam uns aos outros, formando grandes cicatrizes que nenhuma maquiagem era capaz de disfarçar. Apesar do esforço para escondê-los, os do pescoço ficavam à mostra, o que dava margem à curiosidade e comentários de conhecidos e estranhos. Muitas pessoas só queriam ajudar, mas deixavam Rebecca profundamente incomodada.
Problemas aumentavam no calor
Embora vivesse insegura com sua aparência, não era apenas a estética que a fazia se sentir mal. No calor ela suava, tinha muita coceira e sensação de ardência. Durante o inverno não conseguia dormir à noite, porque a pele encolhia, repuxava e dava pontadas.
Os queloides limitavam tanto o dia a dia de Rebecca que até sua vida pessoal foi prejudicada. Ela se sentia péssima quando os namorados viam as cicatrizes. O preconceito que tinha de si mesma chegou a impedir que alguns relacionamentos amorosos fossem adiante. Mas a questão não era só psicológica e também física.
Não suportava que namorados tocassem nos queloides quando eles estavam inflamados, tamanha era a sensibilidade."
A busca pelo tratamento
Ainda adolescente, Rebecca começou uma jornada para por um fim nas cicatrizes. Queria melhorar sua autoestima e acabar com as dores e coceiras. Por 16 anos ela tentou todos os tratamentos que apareceu pela frente, dos caseiros aos experimentais. Nada adiantou. "Uma época eu desisti porque não aguentava mais. Era muito sofrimento e não tinha um resultado palpável", relata.
A solução só foi encontrada quando ela estava com 31 anos. "Procurei uma clínica por indicação. Era a minha última cartada. Como eu já tinha feito vários tratamentos, estava desesperada", lembra.
Por orientação do médico ela cortou alimentos gordurosos do cardápio e começou a ingerir vitaminas. Foi submetida a uma combinação de procedimentos que incluía aplicações de corticoide (com sedativos para suportar a dor), uso de malhas compressivas, placas de silicone e sessões de fisioterapia. Aos poucos, os queloides foram desinflamando, o relevo foi diminuindo, as pontadas e coceira começaram a desaparecer.
Quando me dei conta, estava vestindo roupas que não podia usar antes. Passei a me olhar no espelho sem rejeitar minha a própria imagem"
Hoje, Rebecca mantém uma alimentação equilibrada, usa protetor solar ou sombrinha com filtro solar regularmente.
As marcas continuam no seu corpo, mas estão menos visíveis. Quando sai de casa, faz uma maquiagem no pescoço e se sente bem. E se percebe que os queloides estão começando a inflamar de novo, realiza algumas sessões de manutenção do tratamento. Fora isso, leva uma vida normal.
Ninguém está livre de cicatrizes
As marcas surgem em situações felizes ou tristes. Pode ser uma cesárea ou qualquer outra cirurgia, um acidente, um corte mais profundo ou uma queimadura. Em todos os casos, resultam de um processo fisiológico da pele que tem por objetivo curar a ferida. A má notícia é que na maioria das vezes essa reparação não é perfeita a ponto de deixar a pele como era antes.
"Um arranhão, por exemplo, desencadeia um processo chamado epitelização, sem o tecido de cicatriz. Mas toda cicatriz é para sempre", explica Felipe Isoldi, pesquisador da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) e cirurgião plástico da Clínica Prof. Dr. Bernardo Hochman, em que Rebecca fez o tratamento.
Assim que um corte, uma queimadura, uma acne severa ou uma catapora acontecem, começa o processo de cicatrização, que passa por três fases e dura cerca de um ano e meio:
- A primeira é a inflamatória, quando o organismo e o sistema imunológico entram em ação para defender a região de sujeiras e bactérias. O corte fica vermelho, inchado e dolorido e um tampão de plaquetas e fibrinas se forma, a famosa casquinha. É por baixo dela que a cicatriz vai se desenvolvendo;
- A segunda é a fase proliferativa. Nesse momento, o corte é preenchido por um novo tecido e o colágeno (principal proteína da cicatrização) é produzido;
- A terceira e última fase é a remodelação, na qual o colágeno é remodelado e amadurecido.
Por que umas cicatrizes são quase imperceptíveis e outras não?
A resposta está nessas três fases, quando alguma coisa não ocorre como deveria. Se tudo der certo, a queimadura, a acne ou o corte serão substituídos por uma cicatriz normotrófica. É a que fica com o aspecto mais próximo ao da pele original, com textura e cor bem semelhantes. Se não der, podem se formar, por exemplo, cicatrizes atróficas, como as de acne, e as retraídas, comuns em quem faz cirurgias, como a de abdome, e depois engorda. A pele fica fina, funda e alargada, pois não foi produzido tecido suficiente na segunda fase de cicatrização e falta gordura debaixo da derme.
Ao contrário das atróficas e das retraídas, as hipertróficas cicatrizam demais, apresentam relevo, ficam avermelhadas e provocam coceira. A diferença entre elas e os queloides é que eles costumam se espalhar além da lesão.
"O queloide cresce sobre a pele de maneira desordenada como se fosse um tumor de cicatriz, mas benigno. Em quem tem queloide por acne, eles começam a se juntar e formar um queloide maior. Cresce na vertical e na horizontal. Se estiver em algum lugar que tem pelos, o pelo pode encravar no queloide e isso aumenta o processo infamatório, formando um ciclo vicioso de manutenção dessa cicatriz", explica Isoldi.
Segundo o cirurgião plástico, as regiões mais problemáticas são as que têm maior tração da pele, como os ombros, abdome, tórax e rosto (na parte da mandíbula). Cortes feitos num sentido contrário às linhas de tração da pele também ficam mais evidentes.
Como evitar os sinais
A inflamação é a maior inimiga de quem quer manter a pele a salvo de cicatrizes inestéticas, e Isoldi alerta que o sol tende a inflamar a pele. Portanto, aquele bronzeado que você gosta de ostentar no verão não é uma boa ideia se a sua cicatriz for recente.
Outra dica é manter distância de alimentos gordurosos como carnes, principalmente de porco e vermelha, frutos do mar, comida industrializada e temperos fortes, pois eles são alimentos inflamatórios. Entenda por que esses alimentos são inflamatórios e prejudicam sua saúde. No lugar deles, beba bastante água e aposte em alimentos ou suplementos que tenham nutrientes importantes para a cicatrização, como vitamina C, vitamina D, zinco e ômega 3.
O mesmo vale para quem tem um procedimento médico invasivo marcado. "Antes de fazer uma cirurgia é interessante preparar a pele para ter uma melhor cicatrização. Pelo menos uns 30 dias antes, não se deve tomar muito sol, é bom ter uma alimentação saudável, hidratar bastante a pele e, se possível, fazer uma depilação definitiva ou limpeza de pele caso a região tenha pelos. Procure ainda evitar o estresse e a ansiedade, que tem repercussão infamatória sobre a pele", aconselha o médico.
Receitas caseiras nunca são bem-vindas
Passar creme dental ou borra de café em uma queimadura pode agredir ainda mais a pele, principalmente na hora que esses produtos forem removidos. O ideal é colocar a região queimada dentro de um recipiente com água fria. Se houver substâncias como ácido na pele, é importante lavá-la com água corrente. E no caso de um corte ou acidente, estancar o sangramento e ir imediatamente para o hospital.
Existem tratamentos para todos os tipos de cicatrizes, tanto as recentes quanto as antigas. Entre as técnicas mais usadas, há o laser de CO2, infiltração de corticoide, preenchimento com ácido hialurônico, enxerto de gordura, luz pulsada, fita de silicone, fonoforese, hidratação com massagem cicatricial e cirurgia de correção de cicatriz. Busque sempre orientação de um dermatologista para saber qual a melhor para seu caso.
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