Células-tronco ajudam a recuperar área cerebral danificada por AVC
Pesquisadores brasileiros conseguiram diminuir lesões provocadas por um derrame no cérebro de camundongos usando células-tronco. A técnica pode ajudar na recuperação de vítimas de acidente vascular cerebral (AVC) isquêmico, quando uma veia do cérebro é bloqueada e a parte do órgão que deixa de ser irrigada tem morte de neurônios. A isquemia pode causar sequelas graves, como perda de movimentos, e mesmo levar à morte.
Atualmente, há dois procedimentos possíveis para os pacientes que sofrem um AVC isquêmico. Um deles é a terapia de recanalização intravascular (trombólise), em que é aplicado um medicamento ativador de plasminogênio (rtPA) que desfaz o trombo. A outra opção é um cateterismo para desobstruir mecanicamente o vaso, para o sangue então voltar a circular.
No entanto, as terapias só têm eficácia se aplicadas em até quatro horas e meia após o AVC. Depois disso, a morte celular é irreversível. A nova técnica surge como uma possibilidade de tratamento mesmo depois desse intervalo.
"O procedimento que existe hoje para isquemia tem benefícios, mas mesmo quando realizado dentro desse curto intervalo ainda pode deixar sequelas e algum déficit cognitivo", diz Laura Zamproni, principal autora do estudo, que foi publicado no periódico Nanomedicine: Nanotechnology, Biology, and Medicine, e médica neurologista do Hospital São Paulo, da Unifesp.
Para o estudo, as células-tronco mesenquimais --que originam tecidos-- foram retiradas da medula óssea de camundongos e cultivadas em placa de Petri. Em seguida foram depositadas em um material que, além de ser biocompatível (não tóxico), aumenta a sobrevivência das células-tronco e faz com que elas permaneçam na área da lesão, diminuindo a inflamação. Depois de alguns meses, com a área em grande parte recuperada, o material é totalmente absorvido pelo corpo.
"Quando esse material contendo as células-tronco mesenquimais foi implantado em um cérebro lesionado, a lesão ficou com um terço do tamanho que ficaria se não houvesse intervenção", disse Marimélia Porcionatto, professora da EPM-Unifesp e coordenadora do estudo.
A fibra que desenvolveram é de um polímero orgânico, o ácido polilático. Ela se forma quando colocada em um equipamento que aquece o material e gira em alta velocidade, como uma máquina de algodão-doce. O "algodão" que se forma tem fibras altamente porosas.
As fibras contendo as células-tronco foram então colocadas sobre a lesão e acompanhadas por 30 dias. Os pesquisadores observaram que elas se dão melhor no material do que na lamínula em que são normalmente cultivadas em laboratório.
Testes mostraram que elas produzem mais uma citocina chamada CXCL12, que atrai as células para a região. Além disso, produzem mais proteínas chamadas integrinas, que fazem as células-tronco aderirem à área em que estão.
"É como se a célula-tronco mesenquimal estivesse produzindo um ambiente apropriado para ficar. Ainda não sabemos o que nesse material causa isso, mas é muito interessante ver como um material não biológico interfere no comportamento da célula", conta Porcionatto.
Os pesquisadores agora pretendem testar a técnica com células-tronco em traumatismo crânio-encefálico, em que há perda de parte do cérebro.
"Hoje, quando se perde massa encefálica, controla-se a hemorragia e se faz uma cirurgia, mas o que perdeu está perdido. Não tem como melhorar. Esse poderia ser um novo tratamento", diz Zamproni.
Para isso, os pesquisadores querem usar bioimpressão, recriando a parte perdida do cérebro no mesmo formato com uma impressora 3D. Agora, eles pretendem encontrar outro biomaterial que possa também ser moldado, além de ter as propriedades do ácido polilático.
*Com informações da Agência Fapesp
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