Uma simples caminhada de 15 minutos já reduz risco de depressão
Correr 15 minutos por dia, ou caminhar, ou cuidar das plantas por um período mais longo —qualquer uma dessas atividades pode auxiliar na proteção contra o desenvolvimento da depressão, de acordo com um novo estudo publicado no mês passado em JAMA Psychiatry. O estudo envolveu centenas de milhares de pessoas e usou um tipo de análise estatística para estabelecer, pela primeira vez, que a atividade física pode ajudar a prevenir a depressão, uma descoberta de relevância considerável para qualquer um interessado em manter ou fortalecer a saúde mental.
Muitos estudos anteriores analisaram as conexões entre exercícios, estado de espírito e bem-estar psicológico. E muitos concluíram que as pessoas fisicamente ativas tendem a ser mais felizes e ter menos tendência à ansiedade e à depressão severa do que aquelas que raramente se movimentam.
Mas esses estudos anteriores mostraram apenas que o exercício e a depressão estão relacionados, não que a atividade física de fato diminui o risco de depressão. Muitos deles foram longitudinais ou interseccionais, examinando os hábitos de prática de exercícios durante certo período ou em um momento, e então determinando se poderia haver relações estatísticas entre os dois. Em outras palavras: pessoas ativas podem ter menor tendência a se tornar deprimidas que as inativas. Mas também é possível que aqueles que não apresentam tendência à depressão tenham mais probabilidade de se exercitar. Esses tipos de estudos podem ser atraentes, mas não conseguem provar nada sobre causa e efeito.
Para mostrar a causa, os cientistas dependem de experimentos randomizados, durante os quais fazem as pessoas, por exemplo, se exercitar ou não, e então monitoram os resultados. Pesquisadores têm usado testes randomizados para ver se o exercício pode tratar a depressão depois que a condição já se desenvolveu, e os resultados foram encorajadores.
Mas seria quase impossível desenvolver um teste randomizado para verificar se a atividade física previne a depressão, já que seria necessário recrutar um grande número de pessoas, convencê-las a se exercitar, e outras não, acompanhá-las durante anos e esperar que um número suficiente desenvolva depressão para que uma análise estatística significativa possa ser feita. A logística envolvida seria desanimadora, se não impossível, e o custo, proibitivo.
Mas, então, surge a randomização mendeliana. Esse é um novo tipo de "hackeamento da ciência de dados" sendo usado para analisar riscos à saúde, disse Karmel Choi, pesquisadora de pós-doutorado em psiquiatria genética no Hospital Geral de Massachusetts e na Escola de Saúde Pública T. H. Chan, de Harvard, que liderou o estudo.
Com a randomização mendeliana, os cientistas concentraram sua atenção em trechos de genes que variam de pessoa para pessoa. Essas variações são passadas antes do nascimento e não se alteram mais tarde; não se transformam com o meio. Graças a estudos genéticos de larga escala, os pesquisadores associaram muitos desses trechos genéticos com comportamentos e riscos de saúde específicos. Pessoas com certas variações, por exemplo, têm maior tendência a comer muito ou a ser fisicamente ativas que aquelas sem essa variante.
Mais recentemente, os cientistas perceberam que essas diferenças no DNA ofereciam, de fato, testes randomizados prontos, elaborados pela natureza, já que as variações ocorrem de modo matematicamente aleatório.
Por causa dessa aleatoriedade, os cientistas podem comparar o número de pessoas com ou sem o trecho relacionado a riscos ou comportamentos de saúde, como, digamos, uma forte probabilidade de ser ativo, contra outra ocorrência, como a depressão severa. E se uma grande porcentagem de pessoas com a variante não desenvolve a condição, os cientistas acreditam que podem concluir que o comportamento relacionado a ela causou a mudança de risco da outra condição.
Esse resultado é o que Choi e seus colegas descobriram quando aplicaram a randomização mendeliana ao exercício físico e à depressão. Para chegar a essa conclusão, eles primeiro recorreram ao UK Biobank, um banco de dados de informações genéticas e de saúde de quase 400 mil homens e mulheres. Lá, identificaram pessoas portadoras de pelo menos uma das muitas variantes genéticas que, acredita-se, podem aumentar a probabilidade de a pessoa ser fisicamente ativa. Muitas delas eram de fato ativas e poucas haviam experimentado a depressão.
Já aqueles sem os trechos genéticos tendiam a se movimentar menos e também mostravam maior risco de depressão.
Ao se aprofundar na análise, os cientistas descobriram que, estatisticamente, a quantidade ideal de exercício para prevenir a depressão começa com 15 minutos diários de corrida ou outra atividade extenuante. Atividades menos exigentes, como uma caminhada em ritmo acelerado, trabalho doméstico e assim por diante, também protegiam contra a depressão, mas era preciso pelo menos uma hora por dia para que surtissem efeito.
Por fim, para se certificar de que a atividade física estava afetando o risco de depressão, e não o contrário, os pesquisadores repetiram o estilo mendeliano de análise em outro grande banco de dados genético. Dessa vez, buscaram variações genéticas relacionadas à depressão, e se as pessoas que as apresentavam, além da propensão à depressão, tendiam a ser sedentárias. E descobriram que não.
Assim, concluíram os pesquisadores, a atividade física nessa análise diminui o risco de depressão, mas a depressão não afeta a possibilidade de a pessoa se exercitar.
A randomização mendeliana continua sendo um exercício matemático, é claro, e no mundo real a vida e o comportamento das pessoas não são moldados só pela genética. Muitos fatores, sem dúvida, influem na possibilidade de desenvolver a depressão. As variantes genéticas relacionadas à vida ativa, por exemplo, também e separadamente agem como um tipo de antidepressivo, disse Choi, acrescentando que as ligações genéticas e comportamentais entre o exercício e a saúde mental exigirão muitos outros estudos.
Mas esses resultados de fato oferecem "uma forte evidência" de que ser fisicamente ativo, independentemente de sua formação genética, pode ajudar na proteção contra a depressão, afirmou Choi.
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