Tanorexia: entenda os riscos da obsessão por ter pele sempre bronzeada
Resumo da notícia
- Apesar do sol ser importante para a saúde e bem-estar, a exposição excessiva causa envelhecimento precoce e aumenta risco de câncer de pele
- Por isso, o transtorno de querer ter a pele sempre dourada começa a preocupar especialistas no mundo todo
- O nome da compulsão é uma espécie de trocadilho com tan (bronzear em inglês) e anorexia
- Entre os sintomas do problema estão pensar o tempo todo em tomar sol e ficar mal ao ver alguém mais bronzeado que você
- O vício em se bronzear produz sintomas semelhantes ao de dependência em drogas, como obsessão, descontrole, irritação e culpa
Para muita gente, corpo bronzeado é sinônimo de felicidade, bem-estar, de saber curtir a vida e ficar mais atraente --principalmente no caso das mulheres, a pele queimada de sol ajuda a disfarçar imperfeições como celulite, o que dá uma levantada na autoestima. Por isso, sempre vai haver quem não abra mão de se bronzear, apesar do alerta dos dermatologistas para o risco de envelhecimento precoce e câncer de pele.
O sol tem mesmo efeito positivo no humor na disposição, sem falar na saúde. Estudos mostram que a vitamina D, que é ativada pela exposição ao sol, estimula a liberação de neurotransmissores como dopamina e serotonina, responsáveis pela sensação de prazer, euforia e bem-estar. Ela também é fundamental para a manutenção de ossos fortes e participa de diversos processos do organismo. Desde que com moderação e proteção adequada, portanto, tomar sol é mais uma recomendação do que uma proibição médica.
No entanto, especialmente nos Estados Unidos e em alguns países da Europa, a busca por uma aparência dourada o ano inteiro vem colocando as mulheres no limite entre saúde e doença. Por lá, cada vez mais se estuda o que foi apelidado de tanorexia, que é a compulsão por estar sempre com a pele bronzeada. O termo é uma espécie de trocadilho com tan (bronzear, traduzido do inglês) e anorexia. Os especialistas preferem tratar como tanning addiction ou tanning dependence (vício ou dependência em bronzeamento).
Quando "surgiu" o problema?
O transtorno de comportamento, que não é oficialmente reconhecido pelos critérios da Associação Americana de Psiquiatria, começou a ser estudado em meados dos anos 2000, quando as camas de bronzeamento com lâmpadas ultravioleta se tornaram uma mania preocupante entre adolescentes e estudantes universitárias no hemisfério norte.
Nos Estados Unidos, esses equipamentos para bronzeamento artificial são permitidos para maiores de 18 anos e usados por cerca de 10 milhões de pessoas todos os anos, apesar do alerta categórico de que a exposição à luz que emitem eleva em até 20% o risco de melanoma, tipo mais grave de câncer de pele, que pode ser fatal. Boa parte do público --aproximadamente 1,6 milhão, pelos dados de 2015 da American Cancer Society -- é composta por adolescentes e jovens universitários. Pesquisadores da Universidade Rutgers (EUA), estimam que aproximadamente 5% desses usuários desenvolvem compulsão por estar bronzeado.
No Brasil, as camas de bronzeamento artificial são banidas desde 2009. Os médicos, porém, reconhecem traços da dependência em pessoas que passam horas sob o sol mesmo nos horários de pico, dispensam o protetor solar, usam bronzeador, ficam mal ao ver alguém mais bronzeado ou por algum motivo são impedidas de pegar sol, por exemplo.
Os especialistas destacam que o vício em se bronzear produz sintomas semelhantes aos de dependência em álcool e drogas: pensamento obsessivo (em tomar sol), descontrole sobre o momento de parar mesmo sabendo dos riscos, irritação se ficar tempo demais sem se queimar, culpa.
"Vale dizer que gostar de pegar sol, mesmo que seja até a pele torrar, não é o suficiente para ser diagnosticado com o problema", observa a dermatologista Fernanda Junqueira, membro da Sociedade Americana de Medicina Estética.
Mulheres têm mais risco
Os estudos mostram que mulheres jovens, solteiras e com predisposição a comportamento ansioso são mais vulneráveis a desenvolver tanorexia, embora não se saiba exatamente o que leva a ela. Acredita-se em uma combinação das sensações positivas produzidas pela liberação de neurotransmissores e traços de um tipo de transtorno de autoimagem corporal: a pessoa forma uma visão distorcida da própria aparência e passa a buscar formas de corrigir defeitos inexistentes, a fim de se encaixar em padrões que julga aceitáveis, sem perceber que extrapola (até ficar com a pele alaranjada) e se coloca em perigo (de ter câncer de pele) para conseguir.
Um estudo da Northwestern University (EUA) revelou que os sinais de envelhecimento (rugas e flacidez) são um argumento mais forte do que o risco de desenvolver câncer para convencer mulheres a reduzir a frequência das sessões de bronzeamento. Isso confirma que a preocupação estética tem um peso na evolução do transtorno. O trabalho foi publicado no Archives of Dermatology.
Mas o maior perigo não é ter pele envelhecida precocemente --pois a radiação UV destrói o colágeno e provoca manchas e rugas --, e sim precipitar o surgimento de câncer. "Se a média de idade ao detectar um tumor maligno de pele é 50 anos para quem se cuida, alguém que toma sol sem limites pode antecipar o diagnóstico em até 20 anos", avalia a dermatologista Denise Steiner, ex-presidente e conselheira da SBD (Sociedade Brasileira de Dermatologia).
De todos os tipos de câncer, o de pele é o mais comum no Brasil e no mundo --representa 30% dos tumores malignos registrados no país, de acordo com o Instituto Nacional de Câncer (INCA). Ainda segundo a instituição, em 2018 foram registrados 6 mil casos de melanoma e 170 mil de tumores não melanoma.
Sintomas e tratamento
As ferramentas usadas atualmente para investigar a tendência à dependência são adaptadas dos protocolos empregados para abuso de álcool e outras substâncias. O tratamento deve passar por psicoterapia e, dependendo do caso, pode incluir medicamentos psiquiátricos.
Se acha que está (ou conhece alguém que) pode estar exagerando na exposição ao sol, observe os sintomas abaixo. Em caso de se identificar com duas ou mais situações, vale procurar ajuda profissional.
- Pensar o tempo todo em tomar sol;
- Irritar-se com comentários sobre o exagero na exposição e a cor da pele;
- Ignorar as recomendações de horário mais seguro para tomar sol (antes das 10h e após as 16h), assim como do uso de protetor solar;
- Achar que nunca está bronzeado o suficiente;
- Ficar ansioso se não puder pegar sol;
- Sentir-se culpado por não controlar o impulso de tomar mais sol;
- Gastar dinheiro destinado a outras despesas para pagar sessões de bronzeamento.
Fontes: Denise Steiner, dermatologista, ex-presidente e atual conselheira da SBD (Sociedade Brasileira de Dermatologia); Sergio Serpa, chefe do Setor de Dermatologia do Hospital Copa D´Or; e Luiz Scocca, psiquiatra membro das Associações Brasileira e Americana de Psiquiatria; Fernanda Junqueira, dermatologista membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia e da Sociedade Americana de Medicina Estética.
SIGA O UOL VIVABEM NAS REDES SOCIAIS
Facebook - Instagram - YouTube
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.