Figurante de novela morre após dor forte no peito; como saber se é infarto?
Resumo da notícia
- Todo mundo associa o infarto a uma dor forte no peito, mas esse não é o único sintoma. Em alguns casos, pode nem estar presente
- Se a dor no peito persistir por mais do que três ou quatro minutos, a pessoa precisa procurar um médico para tirar a dúvida
- Ter informações sobre esse tipo de emergência médica é fundamental, já que quanto antes o tratamento for iniciado, maiores as chances de sobrevivência
O figurante Joseph Lima dos Santos, de 23 anos, que trabalhava na novela "O Sétimo Guardião", morreu na tarde de quarta-feira (27) após passar mal no set. A causa da morte ainda não foi divulgada, mas colegas de Santos confirmaram que o figurante sentiu falta de ar e fortes dores no peito antes de receber uma injeção para dores musculares pela equipe de atendimento, o que fez com que muitos associassem o fato a um infarto.
O modo como o ator foi supostamente tratado deixou alguns colegas indignados e levantou a questão de como saber se sintomas como dores no peito são sinais de um infarto e de que é hora de procurar ajuda.
"Nem toda dor no peito é um infarto, mas ela pode ser. Se ela dura mais do que três ou quatro minutos, a pessoa precisa procurar um médico para tirar a dúvida", alerta Dante Senra, cardiologista dos hospitais Sírio Libanês e Albert Einstein, de São Paulo. "A dor no tórax aparece em cerca de 30% dos casos de infarto e ela pode se irradiar para pescoço, mandíbula, costas, braço ou ombro esquerdo", diz ele. Sobre o caso de Santos, Senra classifica como algo incomum, devido a idade do figurante. "Só um laudo pode confirmar o que ele teve, mas é difícil sofrer um infarto nessa faixa etária", diz.
Segundo o cardiologista, provavelmente o jovem sofria de alguma doença que não envolva a aterosclerose (acúmulo de gorduras, colesterol e outras substâncias nas paredes das artérias que pode ser uma causa para o infarto). "Uma má formação nas artérias pode ser a causa ou embolia pulmonar, arritmia e até mesmo morte súbita. Mas uma coisa é certa: o caso dele é raridade".
Sintomas de infarto
Além da dor ou aperto no peito, que se irradia para o queixo ou ombro e braço esquerdos, um desconforto na boca do estômago também é um sintoma comum. "As pessoas que sentem esse tipo de dor não procuram um médico porque acham que é só um problema no estômago, mas quando o infarto afeta a parede inferior do coração, a dor pode aparecer no estômago", diz Senra.
Mas o problema ainda pode não ter sintoma algum. Quando a obstrução afeta um pequeno ramo da coronária, atingindo uma área pequena e periférica do músculo cardíaco, o ataque cardíaco pode ser assintomático (ou silencioso).
Fique atento se tiver:
- Dor aguda no peito, que perdura por mais de 20 minutos e pode se irradiar para pescoço, mandíbula, costas, braço ou ombro esquerdo (também pode se manifestar como queimação, sensação de peso ou aperto no peito e formigamento no braço);
- Náuseas e/ou vômito;
- Sudorese, suor frio;
- Falta de ar (mais frequente em idosos);
- Cansaço extremo ou fraqueza;
- Tontura;
- Desmaio;
- Ansiedade.
Como agir
Ao sentir a dor no peito, a recomendação é ligar para o SAMU (192) e manter a pessoa em repouso. Enquanto aguarda, Senra aconselha o paciente com suspeita de infarto tomar dois comprimidos de 100 mg de ácido acetilsalicílico (aspirina) infantil. Em caso de parada cardíaca, deve-se deitar a pessoa no chão, com o queixo virado para cima, e iniciar a massagem cardíaca fazendo duas compressões por segundo no meio do peito até a chegada da equipe de socorro.
Mesmo que os sintomas sejam leves e a pessoa não tenha histórico de doença cardiovascular, é importante ir ao pronto-socorro. "O coração é como um pistão de músculo. Quando o indivíduo tem um infarto, uma área do órgão morre e ele perde essa função de bombear o sangue, por isso o atendimento deve ser rápido. Quanto mais tempo demora, maior a perda de músculo e de função", explica Senra.
O ideal é que as providências sejam tomadas até seis horas após o início dos sintomas. Depois de 12 horas, a probabilidade de recuperação é mínima.
Como prevenir
O controle da pressão arterial, do nível de colesterol e açúcar no sangue, o combate ao tabagismo e ao sedentarismo são os pilares da prevenção da doença coronária e, consequentemente, do infarto do miocárdio. Aprender a gerenciar o estresse, dormir bem e cultivar o lazer também são medidas importantes.
Realizar exames de rotina, especialmente se a pessoa tiver um ou mais fatores de risco para doença coronariana, pode evitar um infarto. Em geral, exames de sangue (para dosagem de colesterol, triglicérides, glicose e marcadores inflamatórios, como a proteína C reativa), eletrocardiograma, ecocardiograma, teste de esforço, cintilografia ou angiotomografia podem ser indicados pelo cardiologista.
Se alguma obstrução for detectada, o paciente pode ser encaminhado para o cateterismo e elege-se o procedimento mais indicado, que pode ser apenas o uso de medicamentos, a angioplastia com stent ou a cirurgia de revascularização eletiva.
Fontes: Guilherme Sangirardi, membro da Sociedade Brasileira de Cardiologia do Estado de São Paulo (Socesp) e da Sociedade Brasileira de Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista (SBHCI), e Magaly Arrais, cirurgiã cardiovascular do Hospital do Coração (Hcor) e diretora de Departamentos Especializados da Sociedade Brasileira de Cirurgia Cardiovascular (SBCCV), consultados em matéria do dia 23/10/2018.
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