Gozar só com beijo ou poder da mente? Sim, existe orgasmo além do clitóris
Resumo da notícia
- A definição precisa de orgasmo seria a obtenção de prazer associada a contração do assoalho pélvico
- Para contrair os músculos da vagina, basta estimular áreas do cérebro ligadas ao prazer, seja por meio da imaginação, seja por partes físicas do corpo
- As áreas "físicas" erógenas do corpo, além do clitóris, incluem os mamilos, a boca e o ânus
Como você chega ao orgasmo? Apesar de ser uma pergunta simples, a resposta pode ser complexa, ainda mais se tratando de mulheres.
Elas são as únicas que têm um órgão somente para o prazer, o clitóris, composto por oito mil terminações nervosas, o dobro do que é encontrado no pênis. Mas além dele, estudos mostraram que também é possível chegar ao orgasmo por meio da estimulação de outras partes do corpo, inclusive o cérebro.
"Já está bem comprovado pela ciência de que qualquer zona do corpo tem potencial erógeno, dependendo da intensidade e da qualidade do estímulo", diz a ginecologista Flávia Fairbanks, membro das Comissões Nacionais Especializadas de sexologia da Febrasgo (Federação Brasileira de Associações de Ginecologia e Obstetrícia).
Em uma sequência de estudos, Barry R. Komisaruk, do Departamento de Psicologia da Rutgers University, em Nova Jersey, nos Estados Unidos, analisou os cérebros de mulheres com paraplegia enquanto elas tentavam chegar ao orgasmo apenas com o pensamento, por meio de exames de ressonância magnética.
A lesão na medula espinhal das voluntárias as impedia de sentir qualquer estímulo em seus clitóris. No entanto, essas mulheres ainda conseguiam atingir o orgasmo, e os exames sugeriam que o nervo vago, que conecta o cérebro ao útero e ao colo do útero, mas que passa por uma região fora da medula espinhal, era o responsável por transmitir estimulação da vagina.
O resultado da pesquisa mostrou que para chegar lá não é necessário que o sexo seja focado na região genital. Afinal, basta estimular qualquer área do corpo que faça você sentir prazer e seu cérebro envie sinais para os músculos uterinos contraírem.
Cérebro e prazer
Para você sentir um orgasmo, as contrações uterinas precisam existir. As participantes da pesquisa de Komisaruk, por exemplo, atingiram o auge do prazer porque, por meio do nervo vago, seus cérebros transmitiram sinais para seus músculos contraírem.
Apesar de ainda ser uma incógnita para a ciência —os pesquisadores ainda tentam entender quais áreas do cérebro são exatamente ativadas e como elas se ligam às contrações uterinas—, podemos dizer que o orgasmo é como uma via de mão dupla: você estimula alguma parte do corpo (ou sua imaginação), isso desperta áreas do cérebro (incluindo as responsáveis por emoção, toque, alegria, satisfação e memória), que por sua vez envia sinais aos músculos para se contraírem.
A definição precisa de orgasmo seria a obtenção de prazer associada à contração do assoalho pélvico. A contração por si só é exercício, pode fazer com fisioterapia. Só o prazer, sem contração, não é orgasmo. O orgasmo é a somatória das duas coisas Flávia airbanks
De acordo com Carolina Ambrogini, ginecologista coordenadora do Projeto Afrodite, do Centro de Sexualidade Feminina da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), o orgasmo é como um reflexo, um espirro, difícil de ser controlado, mas que pode ser explorado de diversas formas. "Nosso corpo é todo uma zona erógena, então eu diria que não é impossível chegar ao clímax do prazer por meio de outras partes que não tenham a ver com o clitóris. Mas que é difícil, é".
Essa dificuldade se dá por diversos fatores. "Devido à falta de educação sexual e conhecimento sobre nossos corpos, o primeiro contato que se tem é com a cultura de filme pornô, que basicamente só tem foco no genital e penetração", explica Dayana Almeida, psicóloga e terapeuta orgástica da Casa Prazerela, espaço em São Paulo que oferece múltiplas atividades focadas no prazer feminino. "Tudo isso acaba limitando as pessoas, achando que sexo é penetração... E aí pergunto, onde fica nossa criatividade?"
"Nós temos a pele mais sensível de todos os mamíferos, porém não estimulamos outra parte do corpo além do genital" Dayana Almeida, psicóloga e terapeuta orgástica da Casa Prazerela
Zonas erógenas
Quer saber quais são as áreas do corpo que proporcionam tanto prazer quanto o clitóris? Abaixo, listamos as mais conhecidas.
- Estimulação dos mamilos
Se o clitóris tem um parente no corpo da mulher, é o mamilo. "Ele é cientificamente comprovado como um estimulante importante para o orgasmo da mulher", diz Ambrogini. Ele é muito enervado e sensível. Acredita-se que a área do cérebro que controla o prazer proveniente do clitóris é a mesma do estímulo mamilar.
Em um estudo publicado no periódico Journal of Sexual Medicine em 2011, cientistas mostraram que, quando os mamilos foram estimulados, por exemplo, a área do cérebro correspondente às sensações no tórax foi estimulada, mas os genitais também foram ativados.
De acordo com Fairbanks, o mamilo é tão sensível que, ao causar o orgasmo, libera grandes concentrações de ocitocina, responsável por contrair o assoalho pélvico.
- Prazer anal
O ânus tem bastantes enervações também, ou seja, é mais fácil sentir prazer com ele, se for estimulado. "O períneo (entre a vulva e ânus), por exemplo, é muito sensível ao toque, seja das mãos, braços, lábios... O prazer anal pode ser incrível", diz Almeida.
Mas, segundo Ambrogini, depende muito do limiar de sensibilidade de cada um. "Em alguém mais sensível, só a estimulação anal já leva a uma onda enorme de prazer. Mas normalmente é mais difícil. Geralmente o orgasmo vem quando há uma junção de estimulação anal e clitoriana".
- Beijo
Não há trabalhos científicos que falem de atingir o orgasmo somente com o beijo, mas as especialistas afirmam que, com base na lógica de que quanto mais enervada a parte do corpo, maior e mais fácil é a conexão com cérebro e, portanto, com as contrações musculares, a boca pode ser uma chave para o prazer.
"Sabemos que a boca é muito enervada e tem um estímulo muito sensorial, já que é por ela que sentimos os sabores, por exemplo. Isso claramente eleva a sensação de prazer", diz Ambrogini.
- Poder da mente
Os estudos realizados pelos cientistas da Rudgers University em voluntárias com paraplegia mostram que é possível atingir o orgasmo apenas com a mente. Mas, claro, não é uma tarefa fácil. "É como aquela história de que cegos têm a audição mais aguçada. Por não sentirem a estimulação direta do clitóris, as mulheres com paraplegia têm maior facilidade de sentir prazer apenas com a mente. Em pessoas sem lesão medular é mais difícil", diz Ambrogini.
Entretanto, segundo a ginecologista, é mais comum conseguir durante o sono. "Ter um sonho erótico, por exemplo, deixa tudo mais 'vivo', ajudando a atingir áreas do cérebro ligadas ao orgasmo e facilitando o processo".
Para quem deseja tentar acordado, é preciso concentração. "É como o sexo tântrico sem a estimulação física: a pessoa precisa se concentrar no prazer para sentir prazer", diz a terapeuta orgástica. De acordo com ela, o ideal é primeiro explorar todo o corpo, sem julgamentos, sem culpa, sem limites, apenas sentindo e vivenciando aquilo. Assim, a mente aprende onde focar para sentir prazer. "É aí que está o segredo: despertar os sentidos e descobrir novas partes de um todo. Autoconhecimento é tudo", ensina.
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