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Veneno de aranha é alternativa promissora para tratar disfunção erétil

O PnPP-19 pode se tornar um novo medicamento, especialmente em indivíduos hipertensos e diabéticos - iStock
O PnPP-19 pode se tornar um novo medicamento, especialmente em indivíduos hipertensos e diabéticos Imagem: iStock

Do UOL VivaBem, em São Paulo

06/03/2019 14h08

Resumo da notícia

  • Cientistas desenvolvem droga baseada em molécula presente no veneno da aranha armadeira
  • A molécula sintética melhorou a função erétil de ratos e camundongos, sem provocar efeitos colaterais, e nenhum sinal de toxicidade foi observado
  • O PnPP-19 pode se tornar um novo medicamento para o tratamento da disfunção erétil, especialmente em indivíduos hipertensos e diabéticos

Uma molécula presente no veneno de uma espécie de aranha encontrada no Brasil, Uruguai, Paraguai e Argentina pode ser a base de um novo medicamento para a disfunção erétil. A conclusão é de um estudo realizado por pesquisadores da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) e do Instituto de Tecnologia da Flórida, nos Estados Unidos, publicado no periódico The Journal of Sexual Medicine.

A neurotoxina do veneno da aranha armadeira (Phoneutria nigriventer) causa perda de controle muscular, pode levar a problemas respiratórios, paralisia e eventual asfixia, e induz o priapismo, também conhecido como ereções anormalmente longas. Com base nessa informação, os cientistas desenvolveram uma versão sintética do ingrediente ativo do veneno, conhecido como PnPP-19, e a aplicaram em camundongos que sofrem de diabetes e pressão alta. Os pesquisadores descobriram que o composto foi bem-sucedido na criação de ereções em camundongos sem causar efeitos colaterais adversos.

De acordo com os cientistas, o PnPP-19 induz o relaxamento do tecido esponjoso nos órgãos sexuais, levando ao aumento do fluxo sanguíneo que causa uma ereção. Na natureza, a ereção causada pela mordida da aranha é dolorosa, dura muitas horas e pode levar à impotência. Entretanto, a versão sintética provoca efeitos controlados.

Os pesquisadores concluem que a droga sintética pode ser administrada com sucesso e segurança por injeção ou via gel tópico, embora o gel tenha baixa permeabilidade, com apenas 10% da dose aplicada penetrando na pele. "O PnPP-19 parece ser um medicamento indicado para ser testado no tratamento de disfunção erétil em pacientes diabéticos e hipertensos. Mas embora ativo por aplicação tópica e mostrando segurança ao ser humano, apresenta baixa permeabilidade, cerca de 10% da dose aplicada", escreveram eles.

Como o estudo foi feito

  • Os cientistas sintetizaram o peptídeo de 19 aminoácidos, PnPP-19, presente no veneno da aranha armadeira, e aplicaram via injeção ou gel tópico na pele de camundongos saudáveis ou que tinham diabetes ou pressão alta.
  • A droga melhorou a função erétil de ratos e camundongos, sem provocar efeitos colaterais, e nenhum sinal de toxicidade foi observado. Além disso, o PnPP-19 foi capaz de potencializar o efeito do Viagra.

  • Os pesquisadores acreditam que o PnPP-19 pode se tornar um novo medicamento capaz de preencher a lacuna no tratamento farmacológico da disfunção erétil, especialmente em indivíduos hipertensos e diabéticos.

O que é disfunção erétil?

A disfunção erétil (DE) é definida como a incapacidade de iniciar ou manter uma ereção suficiente para uma relação sexual satisfatória. O conceito é amplo e pode ocorrer por uma dificuldade ou falha no funcionamento de uma ou mais estruturas envolvidas. Embora muita gente utilize o termo "impotência sexual" para se referir ao problema, os especialistas evitam utilizá-lo por causa da conotação negativa que possui.

Problema é muito comum

Segundo pesquisas da Sociedade Brasileira de Urologia, cerca de metade dos homens com mais de 40 anos apresentam queixas relacionadas à ereção. Estudos norte-americanos mostram uma prevalência de disfunção erétil pelo menos leve em torno de 40% aos 40 anos e de quase 70% aos 70 anos. Para disfunção grave, as proporções são ao redor de 20% e 50%, respectivamente. Os números são parecidos no mundo todo, o que comprova que o problema é mais frequente do que se imagina.

Tratamentos

O acompanhamento médico é indispensável para a investigação, diagnóstico e discussão sobre as opções mais indicadas para cada caso. As principais formas de tratamento são as seguintes:

Inibidores da fosfodiesterase 5 (ou PDE5): a sildenafila (Viagra) foi o primeiro medicamento dessa classe a ser lançado, mas existem outros, como a tadalafila (Cialis) e a vardenavila (Levitra). Alguns facilitam a ereção por períodos de cerca de quatro horas, enquanto outros podem durar até 36 horas.

Essas pílulas, que revolucionaram a vida dos homens, atuam no relaxamento da musculatura lista, melhorando o fluxo sanguíneo e a ativação do sistema de válvula no pênis. São bastante seguros e têm taxa de eficácia acima de 70%, mas podem causar efeitos colaterais como calor e rubor na face, dores de cabeça, sintomas de rinite, gastrite e alterações visuais, que melhoram conforme as drogas perdem seu efeito.

São contraindicados para homens com dores no peito durante esforço físico e usuários de remédios para o coração à base de nitratos, pois a interação medicamentosa pode provocar queda brusca de pressão arterial.

  • Injeções penianas: se o paciente não responde às pílulas ou não podem utilizá-las, o tratamento de segunda linha é com drogas injetadas pelo próprio usuário nos corpos cavernosos do pênis antes do sexo. São utilizadas substâncias como a fentolamina, a papaverina ou a prostaglandina. A agulha é finíssima e o procedimento, praticamente indolor. O tratamento deve ser bem orientado pelo médico, pois, apesar de seguro, há risco de priapismo (ereção prolongada e dolorosa), complicação que deve ser controlada o quanto antes para se evitar sequelas.
  • Bombas de vácuo: são aparelhos que promovem a sucção do pênis e aumentam a circulação de sangue temporariamente. Hoje seu uso tem sido mais indicado no processo de reabilitação de pacientes submetidos à cirurgia para câncer de próstata.
  • Implantes: se tudo falhar, é sinal de que houve comprometimento definitivo das estruturas que promovem a ereção. Nesse caso, os implantes são a melhor opção. Existem diversas opções disponíveis de próteses penianas (maleáveis ou semirrígidas, infláveis ou hidráulicas), que são implantadas na câmara erétil do pênis para dar a sustentação necessária para o sexo sem interferir na sensibilidade e capacidade de orgasmo. As cirurgias duram aproximadamente uma hora, com baixos índices de complicação e altos níveis de satisfação. Por ser um procedimento irreversível, é a última linha de tratamento.
  • Terapia: nos casos em que a disfunção erétil é psicogênica ou mista, a terapia com psicólogo ou psiquiatra especializado em sexualidade é a principal forma de tratamento. Além de ajudar homens com perfil ansioso e que se cobram muito, o acompanhamento psicológico do paciente e do casal pode ser muito útil também quando há outras causas envolvidas, já que o problema é delicado e costuma criar medos e desentendimentos entre o casal.
  • Mudanças no estilo de vida: prática de atividade física regular, perda de peso, interrupção do uso de tabaco e drogas ilícitas, bem como moderação no uso de álcool, são medidas que têm impacto positivo na função erétil e devem ser sempre estimuladas. Em alguns casos, apenas esse tipo de mudança é suficiente para resolver o problema.
  • Tratamento hormonal: indicado apenas nos casos em que a disfunção é causada por alterações na produção de hormônios.
  • Mudança de remédio: nos casos em que o problema é causado por medicamentos de uso contínuo, as substituições, quando possíveis, podem resolver o problema.

Fontes: Bruno Nascimento, urologista membro da Sociedade Brasileira de Urologia de São Paulo e do Departamento de Medicina Sexual e Andrologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP); Jairo Bouer, psiquiatra especializado em sexualidade, biólogo especializado em evolução humana e comportamento e colunista do UOL;  National  Institutes of Health (Institutos Nacionais de Saúde dos EUA); Sociedade Brasileira de Urologia (portaldaurologia.org.br), consultadas em matéria do dia 08/01/2019.

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