Topo

Saúde

Sintomas, prevenção e tratamentos para uma vida melhor


EUA liberam spray nasal para depressão. Quando chega aqui? Como usar?

Nos Estados Unidos, o spray nasal será comercializado sob a marca Spravato - Divulgação
Nos Estados Unidos, o spray nasal será comercializado sob a marca Spravato Imagem: Divulgação

Gabriela Ingrid

Do UOL VivaBem, em São Paulo

07/03/2019 18h14Atualizada em 13/05/2020 03h26

Resumo da notícia

  • Spray nasal de cetamina foi aprovado nos Estados Unidos como tratamento para depressão resistente
  • O medicamento também está em análise pela Anvisa para ser vendido no Brasil, mas não se sabe quando será aprovado
  • A cetamina atua de forma mais rápida e deve ser aplicada juntamente com os antidepressivos orais
  • Mas deve ser aplicada com supervisão em consultório médico ou ambulatório, por ter efeitos colaterais fortes

Um novo remédio que trata a depressão com um aparelho semelhante a um descongestionante nasal foi aprovado nos Estados Unidos e deve chegar ao Brasil em breve. Desenvolvido para casos de depressão resistente aos tratamentos tradicionais, o spray nasal contém uma substância derivada da chamada cetamina (ou ketamina), um anestésico disponível há muito tempo e já usado de forma intravenosa.

A FDA (Food and Drug Administration), agência americana de fiscalização e regulamentação e alimentos e remédios aprovou o medicamento na terça-feira (6). No Brasil, o remédio já foi submetido para análise da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) e aguarda aprovação antes de ser comercializado. O UOL VivaBem conversou com profissionais e com o próprio laboratório para tirar dúvidas sobre esse novo tratamento:

A cetamina será vendida no Brasil?

De acordo com a farmaceutica, a Anvisa está analisando a liberação desse medicamento. "Leva-se um tempo para ele ser aprovado, mas a decisão da FDA pode acelerar o processo", afirma Fátima Vasconcelos, diretora da ABP (Associação Brasileira de Psiquiatria). "São necessários estudos extensos para garantir a eficácia de um medicamento poderoso como esse. Mas tenho certeza que logo chega aqui."

De acordo com a Janssen, fabricante do produto, há uma pesquisa com o medicamento em andamento no país, envolvendo 11 centros e 82 pacientes em tratamento para a depressão resistente. Mas um estudo de quatro semanas já realizado com cetamina intranasal, associada a antidepressivo oral, demonstrou que os pacientes tiveram melhoras superiores nos sintomas da depressão quando comparados àqueles que utilizaram o antidepressivo oral e placebo.

Como a cetamina funciona?

De acordo com Kalil Duailibi, psiquiatra da Universidade de Santo Amaro (Unisa) e um dos especialistas que acompanhou os estudos brasileiros sobre a cetamina, a substância age restaurando as conexões nas células cerebrais de pessoas com transtorno depressivo maior. "A cetamina é usada como anestésico desde a década de 1970 e se percebia que a pessoa tinha ativação cerebral após seu uso. Isso motivou estudos sobre seus efeitos no corpo, principalmente nos quadros muito graves de depressão, com risco de suicídio", considera o especialista.

Os estudos mostraram sua eficácia quando aliada aos medicamentos antidepressivos orais já conhecidos. Em um experimento publicado no periódico American Journal of Psychology em abril de 2018, pesquisadores analisaram 68 pacientes com alto risco de suicídio e que estavam usando antidepressivos. Metade do grupo recebeu, em conjunto com o medicamento já usado, sprays nasais de cetamina duas vezes por semana, enquanto os outros receberam placebo.

Em apenas quatro horas, tanto os médicos quanto os pacientes relataram que aqueles que receberam o spray apresentaram sinais de melhora, algo que ainda era perceptível após 24 horas.

O medicamento é eficiente em casos em que um tratamento precisa ser rápido, antes mesmo de o paciente começar a tomar um antidepressivo. Por ter um efeito veloz, espera-se que a cetamina possa atuar como uma ponte entre o diagnóstico e o tempo que leva para que os antidepressivos mais convencionais fazerem efeito, o que pode levar algumas semanas.

Por ser um spray, funciona melhor?

A apresentação em spray está muito mais ligada à quantidade da substância do que a eficácia do tratamento. A versão nasal usa uma molécula que é entregue em uma dose menor ao corpo, e por isso é mais segura.

Inicialmente a cetamina era aplicada diretamente na veia ou com injeção subcutânea. "Mas como ela é muito forte, essas duas apresentações acabam promovendo muitos efeitos adversos, como a pressão arterial aumentada", considera Duailibi. Entre os efeitos colaterais do uso com antidepressivos orais estão: dissociação, tontura, náusea, sedação, vertigem, ansiedade, falta de energia, aumento da pressão arterial e vômitos.

Mesmo com essa quantidade menor da substância, o uso do spray não é liberado em casa.

Como usar?

A aprovação da FDA requer que as doses sejam aplicadas numa clínica ou consultório médico, e que os pacientes sejam acompanhados por pelo menos duas horas, com registro de suas experiências. Não se sabe ainda se no Brasil as regras serão semelhantes.

"O ideal seriam duas aplicações por semana no primeiro mês, uma aplicação por semana no segundo mês, e do terceiro mês em diante, aplicações semanais ou quinzenais", explica Duailibi.

Quanto vai custar?

A Jassen não tem uma estimativa de preço ainda. No entanto, o custo de um tratamento como esse nos Estados Unidos está entre US$ 2,36 mil e US$ 3,54 mil. O valor no Brasil será definido depois que a Anvisa aprová-lo.

Por que ela é indicada para depressão resistente?

Isso está muito relacionado à forma como o medicamento age. Diferentemente do Prozac e de outros antidepressivos, os compostos baseados na cetamina são rapidamente absorvidos pelo corpo e se mostraram efetivos em pessoas que já usaram outros medicamentos, mas não obtiveram melhora do quadro.

"Uma pessoa com depressão resistente já usou pelo menos dois antidepressivos sem sucesso. Ai, quando você entra com a cetamina e outro antidepressivo ela quebra essa resistência, permitindo que o paciente siga com o remédio oral", explica o psiquiatra Luiz Sperry, blogueiro do UOL VivaBem. Por isso que depois as doses do spray podem ser reduzidas.

Um estudo de longo prazo com a terapia mostrou que pacientes já estáveis com o tratamento continuado com o spray, em combinação com o antidepressivo oral, tiveram 51% menos chance de recaída do que o grupo controle (antidepressivo oral com placebo), o que é muito em pessoas cujo organismo resiste ao tratamento.

UOL VIVABEM NAS REDES SOCIAIS
Facebook - Instagram - YouTube