Dor de estômago pode ser sintoma de estresse, úlceras e até câncer
Resumo da notícia
- A dor de estômago é definida como toda a sensação de mal-estar localizado na parte central superior do abdome
- O problema pode vir acompanhado de inchaço, náuseas, vômito, arroto etc.
- As causas são variadas e vão desde abusos na dieta e estresse até a presença de bactérias úlcera e câncer de estômago
- Não fumar, evitar o consumo de álcool, não cometer exageros alimentares e não usar remédios sem indicação médica são algumas formas de prevenção
A sensação dolorosa na parte superior do abdome é conhecida há milênios. Nas cartas trocadas entre o filósofo Cícero e seu amigo Tito Ático, a referência a ela era constante. A ideia do filósofo romano era enfatizar sua reação aos políticos da época mas, talvez, nesses escritos, esteja a origem de um provérbio italiano que diz: Dor de estômago, nenhuma felicidade.
Uma pesquisa bem mais recente que avaliou os riscos e a prevalência desse sintoma concluiu que 20% da população de todo o mundo pode vivenciá-lo, e que a dor de estômago é mais frequente entre as mulheres, fumantes e pessoas que fazem uso contínuo de um anti-inflamatório, principalmente o do tipo não esteroide. O estudo foi publicado pelo prestigioso British Medical Journal (BMJ), em 2015.
Apesar de muitas vezes a dor de estômago não estar associada a doenças graves, uma coisa é fato: ela sempre impacta negativamente a qualidade de vida das pessoas.
Como ela se manifesta
A dor de estômago é definida como toda sensação de mal-estar localizado na parte central superior do abdome, popularmente referido como "boca do estômago".
Algumas pessoas relatam sentir uma queimação, que pode ser até atrás do osso do peito; outras descrevem uma picada, aperto ou cólica que se irradia para outros locais. A intensidade é variável. E a indisposição pode aparecer antes ou depois de comer.
A dor pode também vir acompanhada dos seguintes sintomas:
- Sensação de empachamento ou inchaço;
- Náuseas;
- Vômito;
- Arroto (eructação);
- Regurgitação.
Por que isso acontece?
As possibilidades são variadas. Abusos na dieta, no álcool ou café, uso de medicamentos, principalmente o Ácido Acetil Salicílico (AAS) ou anti-inflamatórios, além da presença de uma bactéria chamada Helicobacter pylori, capaz de causar inflamação na mucosa gástrica. Todas essas condições levam a uma irritação, inflamação ou alterações na movimentação do estômago e, consequentemente, à dor.
Mas, segundo os especialistas, em 50% dos casos, a causa é indefinida, devido a uma síndrome denominada dispepsia funcional: os médicos não conseguem identificar uma razão que justifique as queixas do paciente. Apesar disso, sabe-se que os fatores abaixo listados podem estar relacionados ou desencadear o incômodo:
- Uso de medicamentos à base de nitrato, anti-inflamatórios não esteroides;
- Obesidade;
- Estresse e ansiedade;
- Hérnia de hiato;
- Infecção por Helicobacter pylori
- Refluxo gastroesofágico;
- Úlcera gástrica ou duodenal;
- Câncer de estômago;
- Aneurisma da aorta abdominal;
Quem precisa ficar atento
Além das mulheres, mais suscetíveis, indivíduos com histórico familiar e pessoas que fazem uso de medicamentos sem a devida orientação profissional.
Quando é hora de ir ao médico
Embora todos possam sentir dor de estômago de vez em quando, consultar um gastroenterologista é essencial nos casos em que ela fica mais intensa e se repete com frequência, atrapalhando a sua vida no dia a dia, ou quando seus familiares vivem tendo problemas digestivos.
Como o sintoma também pode ter relação com inflamações agudas ou crônicas, câncer e, eventualmente, a presença de uma bactéria chamada Helicobacter pylori —um tipo de infecção que pode causar úlcera —, você deve ser avaliado por um especialista.
Marque uma consulta principalmente caso você se encaixe em algum dos itens abaixo:
- Idade superior a 40 anos;
- Perda de muito peso sem razão aparente;
- Dificuldade para engolir;
- Vômito frequente;
- Anemia ou insuficiência de ferro;
- Nódulo que se pode apalpar na região do estômago;
- Presença de sangue durante o vômito ou nas fezes.
Como é feito o diagnóstico
No pronto-socorro ou em uma consulta, o médico deve ouvi-lo para entender a dor e a sua história de saúde. Na sequência ele fará o exame físico, que inclui apalpação do estômago para entender onde se localiza o incômodo.
É possível que exames complementares sejam solicitados. O mais conhecido deles é a endoscopia digestiva que avalia o interior do órgão.
O que esperar do tratamento
A terapia varia de acordo com a causa, a intensidade e a gravidade do sintoma. Como a dieta pode provocar ou acentuar o desconforto, os cuidados começam com uma série de orientações dietéticas.
Entre os medicamentos mais utilizados no tratamento da dor de estômago destacam-se os inibidores da secreção ácida, que os médicos chamam de Inibidores da Bomba de Prótons (IBP), e que oferecem resultados mais seguros e eficazes.
Posso usar antiácido sem problemas?
O medicamento é seguro e eficaz, mas deve ser prescrito pelo seu médico. Só ele é capaz de avaliar qual é a melhor opção no seu caso.
Como todo fármaco, o antiácido pode desencadear efeitos colaterais. Os mais comuns são constipações intestinais (se o remédio for à base de alumínio), ou diarreias (caso possua hidróxido de magnésio em sua composição).
Evite a automedicação. O risco que você corre é mascarar o diagnóstico ou mesmo usar um medicamento errado.
A importância da dieta
O que você come e os seus hábitos à mesa contam como parte do tratamento e recuperação da mucosa gástrica. Confira as principais orientações dos médicos e nutricionistas para prevenir ou aliviar o sintoma:
- Fracione a alimentação: o jejum prolongado pode agravar as dores;
- Coma em ambiente tranquilo, e mastigue com calma;
- Evite tomar líquidos durante as refeições;
- Reduza ou fuja dos refrigerantes, bebidas alcoólicas e café;
- Prefira alimentos e temperos frescos ou naturais: molhos prontos, enlatados, ketchup, alimentos ultraprocessados e fast-food desencadeiam a queimação;
- Observe qual é o efeito da pimenta e das frutas cítricas no seu estômago. Ele varia entre as pessoas, mas, em geral, também provoca a dor;
- Diminua o consumo de leite de vaca e derivados;
- Evite frituras;
- Priorize o consumo de frutas, verduras e legumes de acordo com sua tolerância;
- Utilize gorduras que beneficiam a saúde: azeite, castanhas, abacate;
- Consuma proteínas animais ou vegetais em quantidades moderadas;
- Aposte em alimentos com funções anti-inflamatórias: hortelã, gengibre, cúrcuma, mel, alho e orégano;
- Adote uma dieta leve à base de legumes cozidos e sem ingredientes que estimulam a produção do suco gástrico nos dias de crise;
- Mantenha-se bem hidratado.
Alimentos que ajudam a aliviar a dor de estômago
As nutricionistas sugerem o uso dos itens abaixo, cujas propriedades são aliadas no tratamento e na prevenção da dor de estômago.
- Couve manteiga: inclua suco verde com couve na sua alimentação. O vegetal diminui a irritação e promove a regeneração da mucosa gástrica.
- Chá de ervas: alecrim possui ação anti-inflamatória e digestiva; hortelã aumenta a secreção ácida no estômago; espinheira-santa possui substâncias que ajudam a proteger a mucosa estomacal.
Pode ser sinal de infarto?
Muitas pessoas vão para o pronto-socorro ao sentir dor de estômago. Pessoas idosas, com histórico pessoal ou familiar de problemas no coração devem ficar atentas porque também pode ser um dos sintomas do infarto.
Como diferenciar uma coisa da outra? Quando a queimação vem acompanhada de suor excessivo, sensação dolorosa que irradia para o braço, desmaio ou náusea, as chances de ser um infarto são altas. Procure atendimento médico imediatamente.
Táticas de apoio para prevenir crises de dor de estômago
Alguns acertos na rotina e nos hábitos de vida aumentam as chances de sucesso do tratamento e ainda previnem crises. Veja o que pode ser feito:
- Evite usar aspirina (especialmente se você tiver idade inferior a 16 anos) ou anti-inflamatórios, caso tenha tido ou tenha diagnóstico de úlcera;
- Faça o tratamento da forma indicada pelo seu médico. Nunca pare o tratamento por conta própria;
- Mantenha o peso ideal para a sua idade e altura;
- Pare de fumar;
- Comece um diário alimentar para descobrir quais são os itens que melhoram ou pioram a queimação;
- Evite ou reduza o consumo de álcool;
- Organize a rotina para comer mais cedo e menos na hora do jantar;
- Experimente técnicas de relaxamento como meditação, ioga e mindfulness;
- Converse com seu médico sobre a possibilidade de trocar algum medicamento de uso contínuo que possa estar causando o seu desconforto;
- Considere submeter-se à terapia cognitivo-comportamental ou à hipnoterapia, caso o sintoma persista sem que exista uma causa aparente.
Fontes: Décio Chinzon, gastroenterologista, médico assistente e doutor em medicina pela Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo), Secretário Geral da FBG (Federação Brasileira de Gastroenterologia) e responsável pelo serviço de gastroentrologia do Laboratório DASA; Edvânia Soares, nutricionista especialista em nutrição clínica esportiva e vigilância sanitária, integrante do corpo clínico da Estima Nutrição (SP); Erika Almeida Mesquita, nutricionista funcional do corpo clínico da Vitale Nutri (SP). Revisão técnica: Décio Chinzon.
Referências:
- Ford AC, Marwaha A, Sood R et al. Global prevalence of, and risk factors for, uninvestigated dyspepsia: a meta-analysis. Gut 2015;64:1049-1057.
- Paul M. Moayyedi, Brian E. Lacy, et al. Management of Dyspepsia. Am J Gastroenterol advance online publication 20 June 2017; doi: 10.1038/ajg.2017.154.
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