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O que pode ser?

A partir do sintoma, as possíveis doenças


Síndrome metabólica também provoca barriga de chope; veja como tratar

A popular "barriga de chope" é o único sinal visível da síndrome metabólica - iStock
A popular "barriga de chope" é o único sinal visível da síndrome metabólica Imagem: iStock

Tatiana Pronin

Colaboração para o UOL VivaBem

19/03/2019 04h00

Resumo da notícia

  • Condição inclui excesso de peso, pressão alta e níveis alterados de glicose, triglicérides e colesterol
  • Mortalidade por doença cardiovascular é três vezes mais alta para quem tem a síndrome
  • Estima-se que entre 20% a 25% da população adulta mundial tenha a condição
  • Com mudanças no estilo de vida e medicamentos, é possível controlar os fatores de risco antes de sofrer complicações

A síndrome metabólica é um conjunto de alterações que envolvem o metabolismo e são fatores de risco para doenças cardiovasculares —como ataques cardíacos, derrames e diabetes, que estão entre as principais causas de morte no país e no mundo.

A síndrome não é tão popular entre os leigos, embora suas manifestações sejam bem conhecidas pelas pessoas: cintura larga, açúcar no sangue elevado, colesterol alterado e/ou pressão alta. Sozinho, cada um desses fatores já é capaz de aumentar o risco de doenças. Mas quando a síndrome está presente, os problemas se multiplicam: as estatísticas mostram que a mortalidade por doença cardiovascular é três vezes maior nesse caso. É por isso que os médicos passaram a chamar atenção para a síndrome metabólica —ao intervir nessa fase, é possível evitar uma série de complicações.

Definição

Segundo a Federação Internacional de Diabetes (IDF, na sigla em inglês), a definição de síndrome metabólica inclui:

Obesidade abdominal (circunferência abdominal maior que 94 cm em homens e 80 cm em mulheres) e ao menos duas das seguintes alterações:

  • Triglicérides maior ou igual a 150 mg/dL ou em tratamento;
  • Colesterol HDL menor que 40 mg/dL para homens e 50 mg/dL para mulheres;
  • Pressão arterial sistólica maior ou igual a 130 mmHg ou pressão arterial diastólica maior ou igual a 85 mmHg ou em tratamento (o popular 13 por 8);
  • Glicemia de jejum maior ou igual a 100 mg/dL ou diagnóstico prévio de diabetes.

Resistência à insulina

Um dos fatores considerados chave para a síndrome é a chamada resistência insulínica, ou seja, quando as células do corpo começam a ficar menos sensíveis ao hormônio insulina, responsável por transformar a glicose em energia ou armazená-la em forma de gordura.

Com o passar do tempo, as células se tornam resistentes ao hormônio, o que leva ao aumento do açúcar no sangue (glicemia). O corpo reage com uma liberação cada vez maior de insulina, o que sobrecarrega as células beta, no pâncreas, que produzem o hormônio. O estágio final desse processo é o diabetes tipo 2 —as células beta deixam de produzir insulina suficiente e o indivíduo passa a ter hiperglicemia.

História

O conceito da síndrome metabólica foi inicialmente descrito em 1920. No final dos anos de 1970, a condição passou a ser chamada de doença de Heavens e, mais tarde, de "síndrome X". Em 1998, a OMS (Organização Mundial de Saúde) desenvolveu um critério de definição para esse quadro, chamando-o, pela primeira vez, de "síndrome metabólica".

Prevalência

Estima-se que entre 20% a 25% da população adulta mundial tem síndrome metabólica. A tendência é que essa prevalência aumente por causa do avanço da obesidade.

Até os 50 anos de idade, a condição tem sido ligeiramente mais diagnosticada entre os homens. A partir dessa faixa etária, a frequência passa a ser mais alta entre as mulheres, o que pode ser explicado pelas modificações hormonais que acontecem após a menopausa.

Causas e fatores de risco

A síndrome é causada por uma combinação de fatores genéticos e ambientais, como excesso de peso e sedentarismo. Abaixo estão os principais fatores da doença.

Genética: algumas pessoas têm uma predisposição a condições como obesidade, diabetes, pressão alta e hipercolesterolemia.

Envelhecimento: a síndrome se manifesta na idade adulta e o risco tende a aumentar com o avanço da idade, principalmente após os 50 anos.

Menopausa: a queda no nível de estrogênio gera alterações no metabolismo que podem facilitar o ganho de peso e o aumento da pressão arterial.

Obesidade: o excesso de peso contribui para as alterações na pressão arterial e nos níveis de glicose, triglicérides e colesterol, mas estudos mostram que a adiposidade abdominal é a mais perigosa. Assim, a circunferência da cintura é uma medida mais importante que o Índice de Massa Corporal (IMC) quando se diagnostica a síndrome.

Sedentarismo: praticar exercícios regularmente ajuda a controlar o nível de glicose, a pressão arterial e fatores inflamatórios associados à doença cardiovascular. Também dá uma mão para a perda de peso saudável.

Dieta inadequada: uma alimentação rica em calorias leva ao aumento do peso. Além disso, certos hábitos insalubres, como ingerir pouca fibra, exagerar no açúcar e na gordura insaturada, contribuem para a resistência à insulina.

Uso de alguns medicamentos: certas drogas podem facilitar o aumento de peso ou alterações na pressão e nos níveis de glicose e colesterol em alguns usuários. Remédios para alergia, doenças inflamatórias, HIV e transtornos psiquiátricos são alguns exemplos.

Outros fatores têm sido associados à síndrome metabólica, mas a relação ainda precisa ser melhor compreendida pelos pesquisadores, como:

Sono insuficiente: dormir pouco, ou mal (o que ocorre, por exemplo, com quem sofre de apneia do sono), tem efeito direto nos níveis de glicose e ainda leva ao aumento do apetite por alimentos ricos em calorias.

Estresse: estudos associam excesso de cortisol (o hormônio do estresse) à obesidade abdominal e a alterações na pressão e na glicemia.

Síndrome de ovários policísticos: além de provocar aumento de peso, há evidências de que a condição esteja ligada a um risco mais alto de diabetes.

Fígado gorduroso: o excesso de triglicérides e outras gorduras no fígado pode ter ligação com a síndrome.

Fatores inflamatórios e pró-trombóticos (que facilitam a formação de coágulos): também podem ser causa ou consequência da síndrome.

Sintomas ou sinais

A maioria das pessoas que tem a síndrome metabólica não apresenta sintomas. Quando ocorrem, costumam ser consequências de suas manifestações, como:

  • Acúmulo de gordura no abdome (a popular "barriga de cerveja" é o único sinal visível da síndrome metabólica);
  • Hipertensão (que pode ser assintomática ou provocar sintomas como dores de cabeça, mal-estar geral, cansaço, tonturas ou zumbidos);
  • Alterações da glicemia ou diabetes (que podem ser assintomáticos ou provocar boca seca, perda de peso e muita sede, nos casos mais agudos);
  • Alterações nos níveis de colesterol e/ou triglicérides.

Complicações

As principais complicações são o diabetes e a aterosclerose (entupimento das artérias), que pode levar a infartos ou derrames.

Diagnóstico

A síndrome pode ser diagnosticada a partir do exame clínico do paciente, medidas de cintura e pressão arterial, junto com resultados de exames de sangue para aferir os níveis de glicemia, insulina, colesterol e triglicérides.

Tratamento

O tratamento envolve medicamentos e mudanças no estilo de vida. Isso envolve a prática regular de atividades físicas, dieta saudável orientada pelo profissional de saúde, perda de peso e combate ao tabagismo e excesso de álcool.

Veja alguns exemplos de remédios indicados para a condição, de acordo com os fatores de risco do paciente:

- Antidiabéticos, como a metformina os agonistas do GLP-1 (ex: liraglutida), que auxiliam na perda de peso e na prevenção do diabetes.
- Estatinas, que promovem melhora do perfil lipídico (colesterol)
- Anti-hipertensivos, ajudam a manter a pressão arterial equilibrada.

Como ajudar que tem a síndrome?

Modificar hábitos é sempre um desafio difícil, por isso é importante ter o apoio e a participação dos amigos e familiares para adotar uma alimentação saudável e fazer exercícios. Todos saem ganhando, inclusive quem é saudável. Terapias e grupos de autoajuda também podem ser úteis nesse sentido.

Como prevenir

- Tenha uma dieta saudável: abuse de frutas e vegetais, e tenha moderação ao consumir açúcar, álcool e gordura trans ou saturada. Outra dica é evitar itens com alto índice glicêmico, como pão branco, batata, tapioca etc., ou consumi-los sempre com fibras, para que o excesso de carboidrato seja absorvido lentamente

- Movimente-se: praticar uma atividade física regular (por exemplo, 45 minutos de exercícios três vezes por semana) é fundamental para evitar a síndrome metabólica e muitas outras doenças. Pequenas mudanças na rotina, como trocar elevadores por escadas, também são bem-vindas.

- Vá ao médico com regularidade para verificar como está a pressão arterial, os níveis de glicose, colesterol e triglicérides.

- Não fume: o cigarro traz vários problemas à saúde, você sabe.

- Procure dormir bem e procure o médico se tiver problemas com o sono.

- Gerencie o estresse: meditação, ioga, ler um livro são algumas das atividades que ajudam a despachar a tensão.

Fontes: Mario Kehdi Carra, médico endocrinologista e presidente da Abeso (Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica); Graciela Bussiki Corrêa da Costa, médica endocrinologista da Clínica Senses; IDF (International Diabetes Federation); American Heart Association; SBEM (Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia); NIH (National Heart, Lung, and Blood Institute)

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