Parto pélvico: "Minha filha nasceu sentada enquanto eu fazia agachamentos"
Resumo da notícia
- Ativista do parto normal humanizado, Fran Claudino, 37, teve um desafio nas últimas duas gestações: parir por via vaginal com os bebês sentados
- A seguir, a servidora pública conta suas preocupações, técnicas que usou antes e durante o parto pélvico e a sensação de ter conseguido
"Eu tive três partos normais humanizados. O primeiro, da Donatella, foi cefálico (cabeça para baixo), posição mais comum na maioria das gestações. Quando engravidei do Vittorio, fui surpreendida ao ver no ultrassom que ele estava sentado. Inicialmente, minha reação foi de medo do inesperado, do novo, e do que implicaria um parto pélvico --quando os pés do bebê saem antes da cabeça.
Minhas maiores preocupações eram a cabeça derradeira (isto é, sair o corpo e a cabeça ficar presa no útero) ou ter alguma outra intercorrência que fosse necessário fazer a cesárea.
Meu obstetra me tranquilizou dizendo que seria possível ter o parto normal, e que eu poderia fazer a versão cefálica externa a partir da 37ª semana, mas que não seria 100% garantido e existiam alguns riscos ao bebê, como o descolamento prematuro da placenta e a ruptura da bolsa amniótica.
Em casos como o meu, o profissional faz uma massagem com as mãos na barriga da gestante e vai tentando girar o bebê dentro do útero para ele ficar na posição cefálica.
Dei cambalhotas na piscina a fiz acupuntura para tentar virar o bebê
Eu não quis arriscar a manobra sugerida pelo médico e, durante o pré-natal, adotei algumas técnicas para estimular a virada de forma natural (não tente nenhum método sem orientação e indicação de um obstetra). Uma delas era posicionar meu corpo de maneira que meu bebê ficasse de cabeça para baixo. Para isso, eu ficava de joelhos em cima do sofá, com o bumbum para cima, e a cabeça quase encostada no chão. Também fazia a postura invertida da ioga, dava cambalhotas na piscina e fazia compressas geladas e quentes na barriga.
Com 32 semanas, parti para as terapias alternativas, fiz acupuntura e moxabustão na tentativa de que ele se movimentasse. A cada ultrassom, tinha a expectativa de que o bebê viraria, mas isso não aconteceu.
Eu me conscientizei de que o Vittorio nasceria na posição que ele quisesse Como o parto normal pélvico ainda é um tabu entre muitas pessoas, que acham que só a cesárea funciona nesses casos, eu e meu marido, o Sadi, optamos por não contar para ninguém, somente para minha equipe médica. Fizemos essa escolha para evitar questionamentos e julgamentos. Depois todos ficaram sabendo.
Fui para o trabalho de parto com muita disposição, energia, paciência e tomando posse daquele momento, confiava no meu corpo"
Para amenizar as dores, ficava sentada na bola, embaixo do chuveiro com a água quente caindo sob a lombar, passava óleos e recebia massagens.
No período expulsivo, fiquei na posição de quatro apoios. A descida do Vittorio foi longa, demorou quatro horas. A única técnica que usei foi fazer uma força consciente durante a contração suave, depois que o corpinho já tinha saído e ficou a cabeça. Na segunda contração, após uns quatro minutos, a cabeça saiu. Ele nasceu muito branco, como se não tivesse sangue, e com um pouco de dificuldade para respirar. Recebeu oxigênio e logo ficou bem. Tive uma sensação de empoderamento e satisfação de ter conseguido.
Minha terceira filha nasceu enquanto eu fazia agachamento
Um ano depois, engravidei da minha terceira filha, a Giulia. Ela ficou sentada quase toda a gestação. Fiquei chateada porque meu sonho era ter parto domiciliar e, nesse caso, seria inviável devido aos riscos. No início, nem acreditava que teria o segundo parto pélvico.
Repeti as mesmas técnicas usadas na segunda gravidez e ainda acrescentei o spinning baby, exercícios que visam girar o bebê, alongam a pelve e trabalham a musculatura da barriga. Praticava todos os dias com o meu marido. Com 30 semanas, fiz o ultrassom e a Giulia tinha virado, fiquei superfeliz, mas minha alegria durou pouco, no dia seguinte eu senti que ela tinha desvirado. Duas semanas depois, um novo exame confirmou minha suspeita: ela estava sentada.
Fiquei tranquila com relação ao parto dela, meu único receio era que ela tivesse algum problema respiratório, como o Vittorio. A descida dela foi tão rápida, cerca de seis minutos, que ela começou a nascer durante uma sequência de agachamentos que eu estava fazendo. Só deu tempo de me virarem para a posição de quatro apoios e terminar de sair a cabecinha dela. Ela nasceu no chão do quarto. Vi o corpinho rosa, peguei nas mãozinhas dela e tive a certeza de que minha bebê estava bem. Ela veio para os meus braços, foi lindo.
Considerando os meus três partos, minha experiência foi melhor com o pélvico ao cefálico, por ter sido mais rápido e menos dolorido. Acredito que o segredo para ter dois partos pélvicos bem-sucedidos é se informar, ter uma boa equipe, um companheiro participativo e confiar na capacidade do corpo."
Quando o parto pélvico normal não é indicado?
Segundo o ginecologista e obstetra Victor Rodrigues, o parto pélvico normal não é recomendado em:
- Bebês prematuros extremos (que pesam abaixo de 1.500 g);
- Crianças em que a medida da cabeça é superior a do tronco;
- Recém-nascidos com macrossomia fetal, isto é, com peso maior que 4.000 g;
- Quadros de placenta prévia, quando a placenta recobre o colo do útero;
- Fetos que apresentam alguma patologia que possa comprometer sua vitalidade, como a restrição de crescimento.
A cesárea é indicada nos casos citados acima e também quando a versão cefálica externa, manobra para tentar girar o bebê no útero, não for bem-sucedida. Essa é inclusive a orientação do Ministério da Saúde publicada na portaria nº 306, de 28 de março de 2016, que afirma que "em situações nas quais a versão cefálica externa estiver contraindicada, não puder ser praticada ou não tiver sucesso, a operação cesariana é recomendada para gestantes com fetos em apresentação pélvica".
Quais os riscos?
Se mesmo quando o procedimento for contraindicado a mãe quiser fazer o parto pélvico vaginal, tanto ela como o bebê podem sofrer alguns riscos. O maior deles, explica Rodrigues, é o de óbito fetal por distocia, conhecido como cabeça derradeira, quando o corpo da criança sai, mas a cabeça não.
A posição de parir de quatro apoios reduz essa distocia. Outra complicação que pode ocorrer é a demora para o recém-nascido se recuperar após o nascimento. Geralmente, ele nasce com o índice de apgar baixo --teste feito para avaliar seu estado geral --, sendo classificado com anoxia neonatal, ausência ou diminuição de oxigênio no cérebro. Nesse caso, o bebê precisa ser reanimado pelo pediatra neonatologista.
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