Ela foi deixada pelo pai devido deficiência e venceu obstáculos com esporte
Resumo da notícia
- Daniele Montes, 27, nasceu com uma malformação congênita na perna esquerda e foi abandonada pelo pai
- Quando engravidou, ela engordou 20 kg, ficou sedentária, depressiva e com a mobilidade reduzida
- O caminho para sair do fundo do poço foi trilhado por meio do esporte
- Com o crossfit, ela superou os próprios limites e se tornou referência da modalidade na categoria adaptado
"Eu nasci com uma malformação congênita. Minha perna esquerda não se desenvolveu e o meu pé se formou acima do joelho. O primeiro preconceito que sofri foi do meu pai, ele não aceitou minha deficiência, me rejeitou e me abandonou. Quando cresci, minha mãe me falou da escolha dele, não achei uma atitude correta, mas busquei compreendê-lo.
Comecei a usar prótese aos três anos de idade, e aos seis fiz uma cirurgia para amputar o pé. Procurava ter uma infância normal, mas alguns colegas na escola tiravam sarro por eu mancar e me chamavam de Saci-Pererê. Tentava não me abalar e mostrar que eu podia fazer o que quisesse.
Aos 23 anos, planejei a gravidez do Diego. Durante a gestação, engordei 20 kg. Minha pressão oscilava bastante e eu desmaiava. Como o risco de queda era alto, o médico recomendou que eu ficasse em repouso. Eu só comia e fiquei sedentária. Devido ao excesso de peso, a prótese não servia mais e eu não conseguia usá-la. Isso dificultava a minha mobilidade, não andava direito, me machucava e não tinha equilíbrio para carregar o meu filho.
Também tinha o lado da vaidade, não me achava bonita com aqueles quilos a mais e minha autoestima ficou lá embaixo. Tudo isso contribuiu para eu ficar depressiva.
Eu chorava, não me sentia bem comigo mesma e nem no meu corpo. Queria melhorar. O caminho que achei para sair dessa situação foi o esporte
Eu já tinha praticado dança, natação, atletismo, musculação e queria resgatar isso. Na época, em 2016, o crossfit estava no auge na minha cidade. Eu me interessei e busquei mais informações sobre a atividade. Assisti a alguns vídeos e percebi que conseguiria fazer muitos exercícios sem a prótese e, ainda assim, ter um bom desempenho. Não pensava em limitações, era só adaptar alguns movimentos.
Experimentei uma aula e gostei. Treinava de segunda a sexta. O crossfit é um esporte que abraça todo mundo, ele é direcionado a todos os tipos de pessoas: alta, baixa, gorda, magra, com perna, sem perna.
Os outros praticantes me viam com uma inspiração e não como uma coitada. Isso me incentivava, fazia eu me sentir capaz
No início, meus maiores desafios em fazer os exercícios com uma perna só eram aqueles que exigiam força, equilíbrio e que eu usava o peso do meu corpo, como o salto duplo de corda, subir a corda apenas com um braço e fazer flexão com parada de mão. O único movimento que eu faço com a prótese é o levantamento de peso, mas consigo fazer sem também.
Ficava com a perna latejando, sentia muita dor, mas não desistia, era focada. Sempre fui positiva, pensava que estava tendo dificuldade hoje, mas amanhã seria melhor. Toda vez que concluía o treino era uma superação. Meu objetivo nunca foi ser melhor do que ninguém, mas superar os meus próprios limites, eu sou a minha principal adversária.
Com a atividade e uma dieta balanceada, emagreci 15 kg em quatro meses. Mais do que emagrecer, o crossfit mudou a minha vida, me deu saúde, bem-estar e vitalidade.
Saí do fundo do poço da depressão graças ao esporte. Hoje, não sei mais viver sem ele, é uma parte de mim
Em fevereiro, eu me inscrevi em um torneio de crossfit com atletas do mundo todo para testar e provar o meu condicionamento físico. Na primeira etapa da seleção, fiquei em sexto lugar. Na segunda, alcancei a terceira posição, e na final obtive a vaga para disputar o Games Wheel Wod Championship - UG Series. Eu me tornei a primeira brasileira amputada a participar da edição de 2017 do campeonato mundial de crossfit na categoria adaptado em pé feminino.
Não tinha dinheiro para arcar com os gastos da viagem, fiz uma vaquinha online, vendi pizzas na cidade com a ajuda da minha família e amigos, arrecadamos metade do valor, cerca de R$ 5 mil. Fui para o torneio no Canadá e ganhei a medalha de bronze. Foi uma emoção. Quando subi no pódio, vi que todo esforço valeu a pena. Voltei ao Brasil mais motivada, montei uma estrutura em casa e treino seis vezes por semana, durante duas horas. À medida que fui evoluindo, disputei e venci outras competições, e participo de eventos onde faço demonstrações de um treinamento de crossfit adaptado.
Eu encaro a minha deficiência física como um propósito de Deus para incentivar outras pessoas a ter mais confiança. A mensagem que tento passar com o esporte é a de que não devemos nos lamentar e questionar o que acontece em nossa vida.
As barreiras existem para qualquer um e vencê-las depende da nossa força de vontade."
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