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Pigmento produzido por bactérias aquáticas combate câncer de próstata

gevende/Istock
Imagem: gevende/Istock

Elton Alisson

Da Agência Fapesp

27/03/2019 09h01

Os oncologistas enfrentam um dilema ao diagnosticar um paciente com câncer de próstata em estágio inicial. As duas opções terapêuticas para esses casos - a cirurgia de remoção do tumor e a radioterapia - atingem toda a próstata e podem causar sérios efeitos colaterais, como disfunção erétil e incontinência urinária.

Um novo método para o tratamento de tumores de próstata em estágio inicial, desenvolvido no Instituto Weizmann de Ciências, em Israel, poderá oferecer aos médicos uma alternativa às terapias convencionais, reduzindo o risco de danos desnecessários aos pacientes. A nova técnica, não invasiva, usa uma droga fotossensibilizante e uma fonte de luz para atacar especificamente os tumores prostáticos, sem danificar tecidos saudáveis e o trato urinário.

"Combinamos princípios e ideias da natureza com a fotônica para desenvolver um novo tratamento contra o câncer de próstata, que destrói de forma restrita o tecido cancerígeno sem prejudicar o saudável", disse Scherz durante sua palestra.

O novo método, chamado terapia fotodinâmica vascular dirigida (VTP, na sigla em inglês), consiste na infusão intravenosa por 10 minutos de uma droga à base de um pigmento sensível à luz obtido da clorofila produzida por bactérias aquáticas fotossintetizantes - que captam energia da luz solar.

Denominada bacterioclorofila, a droga sintetizada a partir dessa substância é ativada pela exposição ao laser infravermelho durante 22 minutos, por meio de fibras ópticas finas inseridas no local do tumor com a ajuda de ultrassonografia.

A ativação da droga no tecido doente por meio do laser provoca uma reação em cadeia e gera moléculas altamente reativas, que fecham os vasos sanguíneos responsáveis por alimentar os tumores, impedindo que recebam oxigênio. Dessa forma, os tumores são destruídos entre 16 e 24 horas após o procedimento, enquanto as estruturas e as funções de tecidos sadios permanecem intactas.

"A combinação da droga fotossensibilizante com a exposição ao laser no interior dos vasos sanguíneos provoca a geração simultânea de radicais de óxido nítrico e de oxigênio. Isso leva a um rápido colapso da vascularização do tecido tumoral", explicou Scherz.

Os pacientes submetidos ao tratamento são liberados poucas horas após o procedimento, que tem duração aproximada de 90 minutos e é feito em apenas uma sessão. O fármaco permanece na circulação sanguínea por um período de três a quatro horas.

A fim de avaliar a eficácia e a segurança do novo método foram feitos testes clínicos com 413 pacientes, em 47 hospitais de 10 países europeus e em centros médicos no Canadá, México e em Israel.

Os resultados dos ensaios clínicos feitos na Europa, publicados em 2016 em The Lancet Oncology, mostraram que 49% dos pacientes entraram em remissão completa. Apenas 6% tiveram de retirar a próstata, em comparação com 30% entre os que não foram submetidos ao tratamento. Os efeitos secundários foram semelhantes aos de uma biópsia convencional.

A terapia já foi aprovada em Israel e no México e está sob avaliação da EMA (Agência Europeia de Medicamento) e da agência regulatória de fármacos dos Estados Unidos - a FDA (Food and Drugs Administration) -, além da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) no Brasil.

O desenvolvimento do novo tratamento resultou em 15 patentes, que deram suporte para a transferência de tecnologia e o estabelecimento de diversas pequenas empresas de base tecnológica (startups) em Israel. Uma delas é a Steba Biotech, que desenvolveu o software, o equipamento de laser e as fibras ópticas. "O processo de avaliação desse novo tratamento no FDA está em estágio avançado", disse Scherz.

Imunidade antitumoral

Os pesquisadores pretendem testar em modelos animais a terapia fotodinâmica contra o câncer de próstata em estágios mais avançados, bem como avaliar se a modulação do sistema imunológico durante o tratamento melhora a eficácia e a segurança do novo método. Ou, até mesmo, se pode ajudar a desenvolver imunidade antitumoral.

De acordo com Scherz, essa nova abordagem mostrou resultados promissores em estudos com animais e poderá ser usada para o tratamento de câncer de próstata em estágio inicial e nos casos mais avançados, além de outros tipos de tumores, como o de pâncreas, e na degeneração macular pela idade.

"Como as árvores, com suas folhas, a natureza se desfaz de órgãos com mau funcionamento por meio da geração simultânea de óxido nítrico e de radicais de oxigênio. É assim também com o método que desenvolvemos", comparou Scherz. "Queremos usar o mesmo princípio para tratar os tumores malignos e outras doenças."

O tratamento inovador é resultado de 20 anos de pesquisa do químico Scherz com o botânico Yoram Salomon, também professor do Instituto Weizmann de Ciências, que faleceu em 2017.

No início dos anos 1990, os dois cientistas começaram a estudar a fotossíntese e constataram que alguns tipos de clorofila desempenham papéis fundamentais como coletores de luz e conversores de energia. Com base nessa observação, eles deduziram que as interações entre clorofilas de bactérias fotossintéticas e a luz dentro dos tecidos desses animais poderiam fornecer novas oportunidades para o tratamento e o diagnóstico do câncer e outras patologias.

Após testes com mais de 200 moléculas, os pesquisadores chegaram a derivados de bacterioclorofila com maior estabilidade, solubilidade em água e melhor capacidade para uso farmacêutico. Em testes iniciais com animais, eles constataram que a iluminação de tumores com laser logo após a injeção intravenosa resultava em uma taxa de cura muito alta.

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