5 mil brasileiros morrem por falta de radioterapia, mas cenário deve mudar
Resumo da notícia
- Hoje, pacientes com câncer atendidos pelo SUS enfrentam longas filas de espera e viajam quilômetros para fazer tratamento
- A instalação de uma fábrica de equipamentos de radioterapia em Jundiaí (SP) promete mudar o cenário
- O governo pretende entregar 100 novos centros de radioterapia até 2021
- Um "bunker" para tratamento com radioterapia pode custar mais de R$ 9 milhões
A instalação de uma fábrica de equipamentos de radioterapia no Brasil, inaugurada em fevereiro deste ano em Jundiaí (SP), promete ser um passo importante para a mudança do cenário da radioterapia no Brasil --embora ainda existam muitos desafios pela frente. Hoje, pacientes com câncer atendidos pelo SUS (Sistema Público de Saúde) enfrentam longas filas de espera e muitos precisam ir a outras cidades para receber o tratamento, pois não existem salas de radioterapia suficientes para suprir a demanda no país.
A SBRT (Sociedade Brasileira de Radioterapia) estima que 5 mil pessoas morrem todo ano no Brasil em decorrência do déficit nesta área, considerando apenas os cinco tipos de câncer com maior incidência. Para resolver a questão, o governo federal decidiu instalar 100 novos centros de tratamento para o SUS até 2021.
Em um acordo feito em 2013, ficou definido que a empresa norte-americana Varian fornecerá os equipamentos (chamados de aceleradores lineares) e, em contrapartida, instalaria uma fábrica no Brasil para transferência de tecnologia de radioterapia, o que ocorreu no início deste ano, no interior de São Paulo.
A empresa prevê entregar 50 novos equipamentos para o SUS ainda em 2019, o que deve ter um impacto positivo, reduzindo as filas de espera, segundo o presidente da Varian no Brasil, Humberto Izidoro. "O programa do governo vai dar um salto muito positivo de atendimento no final deste ano, quando tivermos 50 máquinas novas no Brasil", afirma. Um total de 100 máquinas deve ser entregue até 2021.
Novas máquinas não vão suprir toda a demanda
Mesmo com a chegada dos equipamentos, o cenário da radioterapia no Brasil continuará delicado, pois o parque instalado de máquinas, que hoje conta com 406 máquinas registradas, está envelhecendo e precisa ser renovado. Na prática, o parque de máquinas operacionais deve ser de 370, segundo estimativa da SBRT, e mais de 60% têm mais de dez anos de uso.
Desta forma, a entrega dos equipamentos novos ainda está longe de suprir toda a demanda. Hoje, seria necessário ter um número 45% maior de equipamentos para atender às necessidades dos pacientes. Em 2017, o SUS tratou 116 mil pacientes com radioterapia.
Tratamento tem alto custo
Para compreender o déficit, é preciso entender a complexidade e o alto custo de um centro de tratamento de radioterapia. Trata-se de uma sala chamada de "bunker", que necessita de materiais de construção especiais e paredes de concreto de alta densidade com 2 metros de espessura.
O investimento na construção de um bunker pode passar de R$ 9 milhões. Para reformas de um local existente e compra de equipamento, o investimento mínimo é de R$ 7 milhões, de acordo com a Varian. "Esse tipo de obra não é todo mundo que faz, a complexidade de uma construção dessas é muito grande", afirma o presidente da SBRT, Arthur Accioly Rosa.
Além da oferta de aceleradores lineares, existem outras questões em jogo. Uma delas é o baixo reembolso pago pelo SUS e pelas operadoras privadas para os hospitais que oferecem este tipo de tratamento. De acordo com Accioly, o reembolso do SUS não chega a 50% do custo dos hospitais. "O último reajuste do reembolso da radioterapia correu em 2010", afirma.
Segundo o Ministério da Saúde, a necessidade de reestruturar a Tabela de Procedimentos de Radioterapia do SUS tem sido objeto de discussão em diversas reuniões do Conselho Consultivo do Instituto Nacional de Câncer. Atualmente, existe um grupo de trabalho com a finalidade de apresentar proposta de revisão da Tabela de Procedimentos, informou, por meio de nota, Thiago Rodrigues Santos, diretor do Departamento do Complexo Industrial e Inovação em Saúde (DECIIS) do Ministério da Saúde.
Segundo Accioly, também existe um déficit de recursos humanos na área, com falta de físicos médicos, técnicos e dosimetristas, principalmente em regiões do país mais distantes dos grandes centros. "O desafio é muito maior que comprar máquinas, tem que criar um plano que seja sustentável ao longo do tempo", afirma. Por isso, a entidade está elaborando um plano de desenvolvimento para este mercado com foco em 2030.
Sobre a radioterapia
A radioterapia costuma ser uma das três terapias indicadas para o tratamento de câncer, junto com a cirurgia para remoção do tumor e a quimioterapia. A radioterapia é um tratamento mais localizado, enquanto a quimioterapia é um tratamento sistêmico, em que medicamentos são injetados na corrente sanguínea e impactam tanto as células cancerosas quanto as células saudáveis.
Com a tecnologia existente atualmente, a radioterapia consegue ter uma aplicação precisa sobre o local onde está o tumor e a quantidade certa de radiação para cada local. A recomendação da OMS (Organização Mundial de Saúde) é de que exista um acelerador linear para cada 250 mil a 300 mil habitantes. No Brasil, a oferta atende apenas metade do número recomendado.
Com isso, os pacientes do SUS que realizam radioterapia hoje precisam se deslocar, em média, 72 km para receber o tratamento. Em Roraima, por exemplo, a distância chega a 1,6 mil km, em média. O principal polo de tratamento de radioterapia do SUS hoje fica em Barretos (SP).
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