Será que a culpa está te impedindo de seguir adiante? Veja como sair dessa
Resumo da notícia
- A culpa paralisante está muito relacionada à baixa autoestima e se sentir preso círculo vicioso
- Normalmente a culpa nasce de um sentimento externo e pode não corresponder ao que sentimos de verdade
- Para sair disso, é importante ouvir seus próprios desejos, descobrir por que sua autoestima está baixa e se responsabilizar pelo que fez
Todo mundo já se sentiu culpado, afinal é normal sentir vergonha quando se faz algo considerado errado. O problema é quando esse sentimento se torna algo paralisante na vida da pessoa, fazendo com que a pessoa queira se punir, mas não realize muito mais além disso.
Nesse caso, a culpa pode está ligada a uma baixa autoestima. "A pessoa se sente sempre errando, porque carrega a culpa como algo que a alimenta. Ela se sente como alguém que não é merecedor do progresso e, assim, o sentimento a impede de crescer", descreve a psicóloga professora Rosana Trindade Santos Rodrigues, coordenadora do curso de psicologia da Universidade Anhembi Morumbi.
Isso alimenta um ciclo vicioso, já que a pessoa volta a ter as mesmas atitudes que geraram culpa anteriormente. "Então penso que se eu fiz algo errado de novo é porque não consigo escapar dessa tendência, é o destino da minha vida. A repetição é o parceiro da culpa, por isso que falamos que a culpa não muda as pessoas, faz elas continuarem no erro", complementa o psicólogo e psicanalista Christian Ingo Lenz Dunker, professor do Instituto de Psicologia da USP (Universidade de São Paulo).
Como nasce a culpa?
Dunker acredita que sentir culpa é diferente de ter vergonha: a primeira vem de um agente externo, que mostra que uma ação é considerada errada. "Já a vergonha acontece quando eu interiorizei a 'lei': se é errado para mim, isso me envergonha de mim mesmo, é contrário a minha própria regra", descreve o especialista.
Muitas vezes essa culpa vem de uma relação de autoridade baseada no medo e não corresponde ao que sentimos de verdade. Um exemplo simples é a culpa que nos leva a fazer promessas de ano novo: emagrecer, deixar de fumar, começar um exercício. "Essa atitude controladora é de baixa transformatividade, porque no fundo você está sendo violento consigo, está impondo uma lei que você não ama no fundo, só reconhece que precisa obedecê-la, mas é sentida como algo que vem de fora", ressalta Dunker.
Como sair dessa?
Para Rodrigues, o caminho para sair desse ciclo do culpa é procurar onde tudo começou. "Se a culpa entra pelo buraco da baixa autoestima, a gente entende que ela tem que sair pelo mesmo lugar. Portanto, o ideal seria trabalhar com questões ligadas a melhorar essa autoestima. Promover a reflexão sobre a pessoa, quais os merecimentos que ela tem, fazer uma autorreflexão sobre quem ela é, porque é e o que a leva a ter o que tem".
Já Dunker acredita que a culpa são os desejos adiados e não realizados. Portanto, se a pessoa conhece esses desejos e corre atrás dele, se sentirá menos culpada. "A culpa precede de um autoengano, é quando você se recusa a pagar esse preço, prefere evitar. E, em um segundo nível, mais grave, você abre mão do que quer e renuncia o seu desejo, porque o preço a pagar é caro, porque é arriscado, então você não segue a trilha do seu desejo", diz.
Sentir culpa é diferente de se responsabilizar
A culpa por si só não é transformadora, mas existem outros dois campos muito próximos desse sentimento que podem oferecer mais caminhos de saída e propósito. Abaixo, Dunker explica o papel de cada um desses pilares:
- Culpa: É um sentimento que quem o vive sente necessidade de confissão e punição. É quando a pessoa se considera culpada e confessa seu erro para se livrar da culpa. Assim, fica livre para "pecar" novamente. O problema é que a culpa sozinha não é transformadora. É um sentimento desagradável, mas no momento em que se pede desculpa, você tira ele de si. Os processos da culpa podem manter a pessoa dependente desse ciclo.
- Responsabilidade: Ao sair da zona de culpa, você pode se deparar com a responsabilização. Então, quando você (e sua autoridade interna) julga ter feito algo que não gostaria, que não está de acordo com o que você busca, cabe a sua responsabilização sobre o que aconteceu. É o ponto em que se entende o próprio papel dentro do contexto do problema em si.
- Implicação: Consertar o que foi feito é o que acontece quando você se implica na situação. Então, quando se faz algo errado, vem o sentimento de culpa, depois você pode se responsabilizar pelo que houve e tentar um plano pensando dali para frente. É pensar além daquele ato específico e gerar um processo de reparação, seja entre as partes envolvidas ou consigo mesmo.
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